Internacional

Brexit: o que aconteceu e o que virá em seguida?

16 jan 2019, 9:39 - atualizado em 16 jan 2019, 9:39

Por Pauline Thomas, da Investing.com

O que acabou de acontecer?

A expectativa geral era que o parlamento britânico rejeitasse o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia proposto pela primeira-ministra Theresa May; no entanto, a maioria formada por 230 votos impôs uma derrota histórica à premiê.

Logo após a votação, o líder da oposição, Jeremy Corbyn, anunciou um voto de desconfiança no governo. Caso a moção de desconfiança tenha sucesso, pode haver uma eleição geral antecipada, provocando a queda da libra esterlina, em razão da incerteza do mercado.

voto de desconfiança será apresentado ao parlamento no final do dia de hoje, mas não há expectativa de que seja aprovado, uma vez que, ao que tudo indica, não conta com apoio suficiente. Um segundo voto de desconfiança não pode ser feito contra a primeira-ministra por seu próprio partido, após o fracasso dessa proposta em dezembro.

Após essa derrota, estas são as opções à disposição do Reino Unido, restando apenas 72 dias para o prazo final do Brexit, que se encerra no dia 29 de março.

Plano B

Theresa May tem até segunda-feita, 21 de janeiro, para retornar ao parlamento com um “Plano B” para seu acordo do Brexit. Como foram necessários 18 meses para que sua equipe negociasse o acordo em sua versão atual, é improvável que ela conseguirá costurar um acordo totalmente diferente nos próximos dias, especialmente um que seja capaz de satisfazer os mais de 200 parlamentares que votaram contra seu Plano A na terça-feira.

Em sua versão atual, o Plano B provavelmente não será aprovado. Não esperamos que seja totalmente diferente do acordo rejeitado e acreditamos que a UE não vai mudar sua posição.

Plano B-2

Uma opção poderia ser um apoio interpartidário para apresentar emendas ao atual acordo. Em seu discurso após a votação, May acalmou (alguns) receios do mercado ao declarar que não tinha a intenção de “desperdiçar tempo” até a data de saída. Ela buscaria um apoio interpartidário para que pudessem trabalhar juntos em um acordo a ser levado à UE.

Veremos, nos próximos dias, se o parlamento conseguirá encontrar uma solução viável para um Brexit ordenado antes da data oficial de saída.

Essa situação seria positiva para os mercados britânicos e faria com que a libra esterlina se valorizasse. No entanto, com uma margem de 230 votos opondo-se diretamente ao atual acordo de May, isso parece ser difícil, já que o parlamento terá que revisar esse acordo em sua integralidade.

Sem acordo para o Brexit

Uma votação realizada na Câmara dos Comuns na semana passada, com o objetivo de dar mais poderes ao parlamento sobre as finanças governamentais em caso de falta de acordo para o Brexit, mostrou que a maioria dos parlamentares deseja evitar uma situação de impasse.

Tanto a UE quanto o Reino Unido veem essa “falta de acordo” como o pior dos cenários, algo que deve ser evitado a todo custo. Mesmo assim, à medida que o tempo passa e nos aproximamos da data de saída sem uma solução clara para a questão do Brexit, a realidade é que o Reino Unido pode acabar saindo do bloco sem um acordo.

Segundo os analistas da ING, se persistir o impasse, a taxa de câmbio da libra com o dólar pode atingir US$ 1,12 e o EUR/GBP pode ficar próximo à paridade.

Brexit adiado: prorrogação do Artigo 50

Não é possível garantir que o Brexit será adiado. Líderes da UE terão que concordar, de forma unânime, com uma prorrogação do Artigo 50. A UE tem sido clara em afirmar que o Brexit não será adiado “simplesmente porque o Reino Unido não consegue chegar a um acordo”. Entre os cenários em que a UE poderia conceder uma prorrogação estão a renegociação de um novo acordo, uma eleição geral ou um segundo referendo.

Em uma nota emitida na terça-feira, momentos após a divulgação do resultado da votação, o banco de investimentos Citi declarou que havia agora uma chance “bastante alta” de o Brexit ser adiado além da data de saída oficial. Os economistas do Citi afirmaram:

“A probabilidade de prorrogação do Artigo 50 é agora bastante alta, e a possibilidade de uma revogação desse artigo também está aumentando.”

Renegociação com a UE

A UE descartou uma renegociação do atual acordo, mas os parlamentares podem decidir por uma opção mais aceitável pelo mercado, como um plano Noruega+ para voltar à mesa de negociação em Bruxelas.

A negociação de uma união aduaneira permanente também poderia redesenhar os limites governamentais que, por sua vez, solucionariam a questão da fronteira da Irlanda. No entanto, a proposta pode não contar com o apoio necessário no parlamento.

Reformular o Acordo de Saída, ou começá-lo do zero, exigirá um prazo maior de planejamento e efetivação em lei. Dessa forma, o governo teria que solicitar uma prorrogação do Artigo 50 à UE. Como esses acordos favorecem um Brexit “suave”, esperamos que os mercados os encarem como avanços positivos.

Eleição geral

Se o prazo começar a se esgotar e não houver probabilidade de um acordo entre os parlamentares, é possível que a primeira-ministra convoque uma eleição geral antecipada, no intuito de frear o Brexit e na esperança de que a UE conceda uma prorrogação para o país ir às urnas. Consideramos que um segundo referendo é mais provável do que essa eventualidade.

Segundo referendo

Um segundo referendo é visto de forma favorável pelos mercados. A ideia é ganhar mais força, com diversos membros do partido de Theresa May saindo em defesa dele. O parlamento pode apresentar essa moção nas próximas semanas, mas já não há mais tempo para realizar uma consulta como essa antes do prazo, o que significa que o Brexit precisaria ser adiado.

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