Opinião

Tabata Amaral ou Kim Kataguiri: qual deles será presidente do Brasil em 2036?

29 abr 2019, 9:58 - atualizado em 29 abr 2019, 10:19
Para Felipe Eduardo, Tabata Amaral e Kim Kataguiri são bons representantes da direita e da esquerda (Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

Por Felipe Eduardo Lázaro Braga/Terraço Econômico

Fazer, pensar e discutir política no Brasil se converteu em exercício de extremismo que só raciocina na lógica do “ou”: ou esquerda, ou direita; ou conservador, ou progressista; ou liberal, ou estatista; ou petralha, ou coxinha. Todas as outras conjunções, especialmente as aditivas, estão mortas de inanição, enterradas bem ao lado da senhora civilidade.

3 lições para montar uma carteira de ações ao estilo Luiz Barsi

Mais: a escolha pela tribo ideológica traz consigo toda a selvageria do pacote, de sorte que uma inclinação política é, antes e acima de tudo, uma escolha moral que risca a fronteira definitiva entre o bem e o mal, o belo e o hediondo, a justiça e a barbárie – no Brasil, o outro é o erro. O saudável contraditório foi assassinado da ágora on-line, e a certeza absoluta sobre tudo se converteu em megafone de idiotas.

Pobre país, estamos correndo a maratona do fracasso pra ver quem chega primeiro na UTI. Ao invés de esquerdismos e direitismos arrotando suas paixões de militância, precisamos urgentemente de espírito republicano apto a qualificar o ambiente político brasileiro.

Uma nação virtuosa não é aquela em que a esquerda iluminada derrota para sempre o obscurantismo catastrófico da direita, ou vice versa, cada qual conspirando suas teorias de perseguição nas respectivas cruzadas de imaturidade.

Uma nação virtuosa, ao contrário, é aquela em que vigora a alternância democrática e periódica de poder entre uma boa esquerda e uma boa direita, ambas arquitetando políticas públicas eficientes que, no longo prazo, construam as bases institucionais para a prosperidade econômica e a justiça social. Óbvio, certo? No Brasil de 2019, nada é mais excêntrico do que a obviedade.

Não é “direita” nem “esquerda”, é o adjetivo “boa” que deve desfilar protagonismo: é boa política aquela que reconhece a centralidade dos consensos civilizacionais mínimos, nomeadamente a institucionalidade democrática e republicana, o equilíbrio harmônico entre poderes independentes, a busca pela prosperidade econômica e social, e o respeito aos direitos humanos fundamentais.

A boa política, além disso, reflete sobre os problemas urgentes do país com base em análise séria e exaustiva de dados, raciocínio crítico sofisticado, gestão rigorosa de orçamento, controle minucioso de resultados, sem martelar soluções mágicas para problemas infinitamente complexos com base em PhD de WhatsApp, soluções construídas sob medida para o aplauso populista. Boa política, ademais, reconhece que existe inteligência, talento e seriedade do outro lado da cerca ideológica, e é especialmente rigorosa com os erros e desvios dos seus.

Independentemente das nossas inclinações ideológicas particulares, é incontornável reconhecer que a sabedoria democrática brasileira conduziu uma sucessão presidencial de alto nível entre Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva, duas biografias absolutamente exuberantes que se confundem com o cenário político do país, seja durante o regime autoritário, seja liderando os esforços pela redemocratização.

A despeito das inevitáveis contradições, ambiguidades e, principalmente, desconfortos gerados por uma vizinhança política sempre fedendo a dinheiro público, ambos exerceram mandatos que, na margem de erro, elevaram o patamar institucional, social e econômico do país.

Reformas fiscais, um nível de renda mínimo como resposta à extrema miséria, a soberania monetária contra a hiperinflação, um sistema público, gratuito e universal de saúde, são frutos virtuosos dessa tentativa muito bem-intencionada de construir uma social democracia tropical. Os dezesseis anos de FHC e Lula, gostemos disso ou não, empurram a trajetória brasileira para mais próximo do desenvolvimento, ainda que tropeçando, aqui e ali, nas armadilhas do patrimonialismo.

Nesse sentido, somente a mais absoluta incredulidade, aquela que belisca a si mesmo pra ver se acorda, pode narrar a tragicomédia política dos anos seguintes.

Repare: os países com sorte têm terremotos, tsunamis, invasões militares, uma avalanche aqui, um furacão acolá; nós tivemos cinco anos de Dilma Rousseff e sua Nova Matriz Econômica, essa verdadeira guerra civil em forma de neodesenvolvimentismo que, venezuelana na forma e ininteligível no discurso, roubou dos brasileiros, por puro delírio ideológico, quase 10% de PIB.

De quebra, escravizou milhões de compatriotas à indignidade do desemprego, nesse longo, longo, longo caminho de degradação social que a seita petista nos fez percorrer.

Depois do interlúdio corrupto-reformista do Michel Temer, logo após o Golpe de Itararé, a democracia decidiu apontar uma arma para a própria cabeça e regurgitar o Capitão Ameba e seus Três Patetas no Palácio do Planalto, simplesmente o candidato menos preparado do chorume político brasileiro.

À direita em tudo, menos do zero, Bolsonaro conduz uma quase obra-prima de incompetência, e derrete o próprio capital político com microproblemas de urgente irrelevância, envenenando brasileiros e brasileiros com sua ideologia em estado avançado de putrefação. Dilma e Bolsonaro, absolutamente siameses em inaptidão e mediocridade, são o resultado mais transparente da polarização hidrófoba entre esquerda e direita, o retrato de uma nação que se ajoelhou diante dos extremismos para, reiteradamente, ignorar o cérebro e votar com o fígado.

Não há, pois, outro caminho: para escapar dessa mediocridade política, é necessário arrombar o cativeiro de polarização em que estamos encarcerados, única forma de resgatar a democracia desse fundo do poço extremista.

E a saída está logo ali, escondida atrás dos vinte e poucos anos: há, no protagonismo político de hoje, uma juventude altamente qualificada, altamente republicana, que recusa não só o histerismo da direita DOI-CODI, liberal na economia, medieval nos costumes, mas também as teias de aranha socialistas da esquerda paleolítico-soviética.

Sem nenhum tipo de compromisso com o clientelismo odioso do jeitinho, sem resumir a própria ideologia à insuficiência da polarização, competente e ambiciosa no mesmo quilate, a geração que nasceu depois da Guerra Fria não tem outra escolha senão liderar a boa política, construindo no caminho um projeto reformista que consiga apresentar Brasil e século XXI um ao outro. O horizonte político do país exige desesperadamente uma tonalidade Millennial, nosso melhor anticorpo contra a mediocridade barulhenta do entorno.

Felipe Eduardo Lázaro Braga é graduado em Ciências Sociais, e Mestre em Sociologia. Escreve sobre arte contemporânea, e trabalha com pesquisa de mercado e opinião.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.