Dólar

Sidnei Nehme: Risco novo é suposição de que temos crise cambial quando o país está imune!

12 jun 2018, 11:12 - atualizado em 12 jun 2018, 11:12

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Frequentemente enfatizamos que estratégias de intervenção no câmbio têm duas características importantes que precisam ser observadas:

– não serem pré-anunciadas, pois em câmbio o ideal é fazer e não anunciar que irá fazer; e
– nem tudo é uma questão de força, mas predominantemente de jeito.

A estratégia desenvolvida pelo BC na intervenção presente no câmbio contrariam estas duas premissas.

Inicialmente porque pré anunciou o que iria fazer, tirando o efeito “discricionário”;

E mais, porque anunciou de forma enfática o tamanho da intervenção e assim o mercado se preparou para absorvê-la e neutralizar seus impactos, até tirando proveito.

E, o que é pior, neste embate fortemente propagado e que não consegue a reversão do viés de alta do preço da moeda americana, que está sustentado e fundamentado em perspectivas que tem sido agravadas no campo econômico, onde a projeção para o PIB já é vista otimistamente em torno de 1% quando já fora de 3% e o desconforto com a crise fiscal é crescente, com um cenário em torno da sucessão presidencial, no entendimento do mercado, cada vez mais preocupante a ponto de conduzir o que está ruim para um cenário quase catastrófico em 2019.

Então a ação contundente do BC com volumes significativos de oferta de swaps cambiais, sem lograr sucesso tão somente provocando volatilidade, visto que a cada anúncio de leilão o mercado por seus agentes deprime a taxa do dólar para otimizar os resultados com as operações, sem contudo reverter o viés de alta, acaba por insinuar que o país está vivenciando uma crise cambial ou mesmo um ataque especulativo, quando se sabe que o Brasil, por suas reservas cambiais e pelos instrumentos operacionais que dispõe seja no mercado futuro com oferta de proteção seja no mercado a vista com fomento à liquidez, está imune a ocorrência de uma crise cambial, o que naturalmente não inibe a desvalorização da sua moeda em decorrência do seu “status quo” econômico e político.

São coisas diferentes. O que se observa é que ocorre um ajuste forte no ativo dólar, da mesma forma que se intensificará na Bovespa e ocorre no mercado de juro, face à correção da percepção em torno da situação presente e prospectiva do país.

Nos parece também que a estratégia ainda que anunciada e executada de forma errática, no nosso ponto de vista, por se tornar previsível em demasia, carece da complementariedade da oferta concomitante de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, buscando fomentar a liquidez do mercado a vista, mesmo que ainda não observe demanda firme neste segmento, mas se antecipando a algo absolutamente previsível e assim buscando influenciar a formação da taxa cambial a partir do mercado a vista para o mercado .

Idealmente a SELIC deveria ser elevada como parte da estratégia, embora o Presidente do BC venha afirmando que não existe relação mecânica entre juro e câmbio este seja um princípio universal.

Ocorre que o BC vinha construindo um cenário prospectivo bastante otimista com foco na inflação e no juro, mas o cenário da atividade econômica não reagente com agravamento notório da crise fiscal e das dúvidas e incertezas crescentes em torno da sucessão presidencial, pelo fato de não indicar tendência a eleição de um presidente reformista, fundamental para a viabilização do país em 2019 para evitar que o cenário ruim atual não se torne em catastrófico.

Estes fatos recentes de deterioração do cenário e das projeções impactam fortes sobre as ações que vinham sendo comandadas pelo BC, e, acreditamos mesmo que será necessária a elevação da taxa SELIC, até pelos impactos inflacionários já presentes embora ainda não bem dimensionados, aflorados a partir da greve dos caminhoneiros, que trouxe a “valor presente todo o cenário ruim que deveria ganhar visibilidade futura”.

A retomada do cenário otimista no ambiente dos Estados Unidos deve provocar elevações de juro por parte do FED americano, já a partir da próxima reunião e este é mais um fator contrário aos interesses dos emergentes, em especial ao Brasil, e para complementar os sinais negativos o petróleo subiu à máxima de sete dias com as atenções voltadas a estoques americanos. A alta do juro americano é dada como certa na reunião desta semana, sendo que o foco estará nas justificativas sobre a decisão que fundamentará as expectativas.

Na nossa percepção o dólar manterá o viés de alta, ancorado em fundamentos internos e até mesmo externos que sugerem a correção do preço, merecendo observação que ontem o dólar sustentou ao final do dia, em alta, comportamento diverso das principais moedas emergentes, deixando evidente o peso dos fatores internos na formação do preço.

Com base no exposto, entendemos que urge que o BC deixe de atuar com um único instrumento e passe a ofertar também linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, para deixar evidente e incontestável a imunidade do país a crise cambial, antes que se propague pelo mundo que isto esteja ocorrendo no Brasil.

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