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“Maior dificuldade do Day Trade é o psicológico”, diz Beatriz Aguillar

25 mar 2019, 19:57 - atualizado em 25 mar 2019, 19:57

Por Investing.com

O Investing.com Brasil publicou no Dia Internacional da Mulher sobre a menor inserção das mulheres no mercado financeiro, seja como profissionais do setor seja como investidoras. Uma mulher é apontada com menos frequência como profissional de renome ou investidora de destaque.

No mundo do day trade o cenário não é diferente. Nos últimos anos, entretanto, a catarinense Beatriz Aguillar, 28, está quebrando barreiras e se posicionando como uma das principais traders no país.

Além disso, Aguillar é uma das principais influenciadoras digitais sobre o assunto no YouTube brasileiro. Seu canal “Papo de Bolsa”, criado em janeiro de 2017, tem 108,1 mil inscritos e mais 2,5 milhões de visualizações. Ela também é uma das principais apresentadoras sobre renda variável do canal da Clear Corretora, do Grupo XP, no YouTube.

O Investing.com Brasil conversou com Bea, como se denomina no canal, para falar sobre o seu dia-a-dia como trader e influenciadora digital. Abordamos sobre o início do seu interesse por investimentos, sua trajetória profissional e sua avaliação a respeito da participação feminina no mercado financeiro.

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Investing.com Brasil: Quando começou a ter interesse no mercado financeiro?

Beatriz Aguillar: Eu sempre tive contato com o mercado financeiro através do meu pai, que trabalha há mais de 30 anos no setor. Ele sempre foi investidor na bolsa e sempre levou essa cultura de investimentos para mim e à minha irmã. Nós sempre pensávamos em investir desde o nosso primeiro emprego, que no meu caso foi em um banco.

Comecei com 16 anos na Caixa Econômica Federal. Após trabalhar na Unimed, retornei ao setor bancário, no Santander, onde fiquei por volta de 7 anos. Quando eu decidi que não queria trabalhar mais em bancos, pensei em fazer algo que eu realmente gostava e investir na Bolsa de Valores sempre me despertou muito interesse. Então, comecei a estudar mais sobre o assunto, buscando entender o que o mercado poderia me proporcionar. Mesmo realizando outros investimentos, entendi que o day trade poderia se tornar minha fonte de renda.

Inv.com: Quando foi a mudança?

BA: Foi em 2013 que passei a viver esse mundo, cuidando dos investimentos que sempre tive, porém com foco muito maior em day trade. No primeiro momento esperava uma coisa que não se realizou, de ganhar no curto prazo. O day trade demora um pouco mais para realmente aprender, demora para começar empatar ao invés de perder, e, em seguida, começar a ganhar. Isso levou, se eu não me engano, quase dois anos.

Após começar a ter ganhos, aplicava-os nos meus outros investimentos de longo prazo, porque estes eu nunca deixei, pois tinha que construir o meu patrimônio para o futuro. O day-trade seria um meio para um fim, de construir patrimônio para independência financeira.

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Inv.com: Quais foram as suas maiores dificuldades?

BA: A expectativa que eu criei sobre o day-trade. Entende-se que você vai ganhar ou perder dinheiro todo dia, mas que os ganhos vão aparecer no curtíssimo prazo. Só que não é bem assim, porque você tem uma curva de aprendizagem, às vezes demoram meses ou anos. Eu levei quase dois anos para eu conseguir virar a chave de perdedora para ganhadora. Foram dificuldades naturais do próprio day-trade: quando eu estudava a teoria, era estudar a lógica de comprar e vender um ativo. Depois de algum tempo percebi que a dificuldade é ter controle psicológico que o mercado exige, pois há um senso comum que é somente matemática.

Como é o nosso dinheiro, é muito difícil a gente não colocar emoção e essa foi uma grande dificuldade até não deixar mais que os sentimentos pudessem influenciar minhas escolhas. Desesperar-se com uma queda e querer sair vendendo para cessar o prejuízo, algo natural quando se inicia na Bolsa de Valores e acaba atrasando o processo da busca do sonho de construir um patrimônio no mercado.

Inv.com: Quem foi sua inspiração?

BA: Meu pai foi minha inspiração, pois ele sempre me colocou em contato com a bolsa de valores, me ajudando e ensinando muita coisa, mesmo ele sendo contra o day trade. Nos outros investimentos que realizo ele sempre me apoiou e tentou me ajudar da melhor maneira possível. Hoje é muito legal porque cheguei no nível no que consigo, às vezes, ajuda-lo.

Inv.com: Quando teve a ideia de gravar vídeos sobre day trade no YouTube?

BA: O canal foi aliado, na verdade, para me tornar uma trader vencedora. Ganhava geralmente de manhã, mas perdia à tarde.

Por ficar em casa, não tinha muito o que fazer à tarde. Então voltava para o mercado e perdia o dinheiro que eu tinha ganho de manhã. Percebi que precisava me ocupar. No início participava de um grupo de meninas que se ajudava por WhatsApp e Facebook. Chegavam muitas dúvidas e respondia uma a uma, então veio a ideia de criar um canal, para facilitar minha comunicação com elas e também me ocupar para evitar de fazer cagadas no trade.

Funcionou, até demais. O canal veio como um Plano B para me ajudar no Plano A. Hoje o canal é com certeza meu plano A, pois sempre entendi que day trade é meio para um fim. Atualmente não tenho necessidade de estar todo dia no mercado fazendo trade, pois acabo me ocupando com gravações, com roteiros. Ainda tiro uns dias para fazer trade, mas somente quando realmente posso fazer somente isso sem dividir a atenção com outras tarefas.

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Inv.com: Quando a Clear lhe fez o convite de ser uma influenciadora da marca?

BA: A primeira patrocinadora do canal foi a Rico Investimentos. Como a Rico e a Clear são do Grupo XP, e a Rico já tinha alguns influenciadores digitais enquanto a Clear nenhum, me pediram se eu aceitaria a parceria devido ao meu público ser ligado à renda variável. Fez sentido porque é uma corretora que tem a corretagem zero, algo que o público sempre reclama. Por isso hoje não falo mais de renda fixa.

Inv.com: Como é a receptividade dos internautas aos seus vídeos?

BA: Foi além do que imaginava. Achava que ninguém assistiria por ser uma jovem de 27 anos na época, tinha receio de as pessoas acharem que eu tivesse pouca experiência na Bolsa. O que aconteceu foi o contrário: sempre tem alguém que quer te ouvir. O canal cresceu bastante porque não fiquei só no conteúdo direto. Abordei também investimentos de médio a longo prazo. Mas como só se fala em bolsa de valores nos últimos meses, chega muitas pessoas interessadas em fazer esse tipo de investimento que não sabem por onde começar. Há vários canais sobre o assunto, mas acredito que meu canal tem uma linguagem simples, quebrando alguns conceitos errados que as pessoas tinham de renda variável. A minha proposta é realmente trabalhar esse conceito de que a Bolsa de Valores não precisa ser algo muito complexo. São investimentos para qualquer perfil.

Inv.com: Hoje a presença feminina no trade é pequena. Gostaria que você abordasse sobre como aumentar o interesse das mulheres pelo assunto e em outros segmentos do mercado financeiro. E qual é o maior entrave, na sua opinião, para que não haja uma maior igualdade de presença entre homens e mulheres no segmento?

BA: O maior entrave de inserção feminina na Bolsa de Valores é o histórico, de quando o pregão era pelo viva-voz, um universo totalmente masculino, sem mulheres. As rodas de negociação eram às vezes meio violento, ouvi estória de pessoas que saíam com uma lapiseira fincada no braço. Acho que as mulheres não se encorajavam muito em participar de um ambiente considerado hostil.

Acho também que, quando a mulher vem para o mercado financeiro, o primeiro lugar que acaba olhando não é o trade, mas sim outras modalidades de investimento. Talvez por procurar alguma coisa mais segura, trazendo um pouco do racional neste universo de investimentos. Avalia todas as possibilidades, inclusive essa questão de risco. Acredito que quando eu e outras mulheres falamos de investimentos, de Bolsa de Valores nas redes sociais, no YouTube, talvez encorajamos outras mulheres a fazer também. É um pequeno passo, mesmo com alcance pequeno. Mas quem sabe lá na frente a gente consiga aumentar isso.

Inv.com: Participa de algum projeto para aumentar inserção feminina no mercado financeiro?

BA: Antes mesmo de ter canal do YouTube já participava, uma vez por ano, de um evento com as mulheres traders. Houve edições em 2017 e 2018 e estamos nos programando para mais um este ano. O objetivo é para as mulheres se conhecerem, assistir palestras e ter aulas que agregam para o trade. Assim tentamos trazer aos poucos as mulheres para o mercado. É difícil, acho que é um trabalho de formiguinha para que aos poucos este número aumenta. Baseando-se no meu público no YouTube, havia somente 10% de público feminino. Atualmente está por volta de 20%.

 

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