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Web Summit: criptomoedas e fintechs dominam maior evento de startups do mundo

07 nov 2017, 23:10 - atualizado em 07 nov 2017, 23:10

João Gabriel Chebante é CEO e fundador da Chebante Brand Strategy e presta consultoria para diferentes segmentos do mercado financeiro

Entre todos os eventos de startups que acontecem ao redor do mundo, poucos são tão interessantes e plurais quanto o WebSummit, que ocorre em Lisboa durante esta semana: mais de 60 mil pessoas com origem em 110 países, cerca de mil palestrantes, com a presença desde empreendedores e executivos de grandes organizações até presidentes da França e Holanda, bem como a abertura por Stephen Hawking falando sobre o futuro e avanços da humanidade a partir da evolução da inteligência artificial.

A conferência se estende por 4 dias com uma série de pequenos eventos ocorrendo entre elas, abrangendo diferentes segmentos da tecnologia. Nesta terça-feira, no entanto, as principais atenções estiveram na MoneyConf – já tradicional braço de finanças do evento que inclusive já possui uma edição exclusiva de dois dias que ocorre anualmente em Dublin. A versão reduzida que acontece no WebSummit é um sumário executivo do que foi e será visto neste mercado ao longo dos próximos meses.

O que me surpreendeu durante todo o dia foi o quanto se falou sobre criptomoedas: basicamente 60-70% da platéia (majoritariamente envolvidos com tecnologia) investiam em alguma moeda, que não necessariamente era o bitcoin; o o Ethereum se mostrou como uma potencial bola da vez tanto pelo potencial de valorização quanto pela sua organização de dados/transações. O fundador do sistema Joseph Lubin deixou claro o que já tinha em mente, mas que ainda passa longe da margem do investidor médio “ameaçado” pelas eternas promessas de ganhos rápidos em estratégias de click-bate de empresas de análise: moedas oscilam conforme oferta e demanda de seus usuários, isso é uma flutuação normal da economia. A forma com a qual faremos transações é que está em vias de mudar, se tornando muito mais segura e práticas a todos os stakeholders envolvidos – inclusive as instituições bancárias, que terão de se adaptar aos tempos de múltiplas moedas – algumas não lastreadas em países – e principalmente em transações descentralizadas, via blockchain, a base para as criptomoedas.

A segunda vertente amplamente debatida no MoneyConf foi a descentralização da operação bancária. Aqui novamente temos um princípio clássico do capitalismo em ação: todo segmento da economia possui ciclos de explosão (quando surgem empresas com soluções diversas buscado posicionamento e referência frente ao consumidor) e implosão (quando em busca de sinergias há as consolidações para maximizar os ganhos aos empreendedores). E o movimento do mercado financeiro está claro que é do consumidor buscar opções fora da concentração de bancos e suas soluções presentes mundo afora – não é todo país como o Brasil onde 80% da atividade financeira está concentrada em 5 bancos, mas os patamares mostram um controle muito forte nas mãos de poucas empresas.

Resultado, somado com o barateamento ao acesso à tecnologias de programação, comunicação/relacionamento e controles de segurança: um incremento sem precedentes de novos projetos ao redor do mundo que, somados à visão perpetrada que o banco é sempre o “vilão” das economias da população vai mudar as rotas que o consumidor utilizará seus recursos de agora em diante. Ainda que possa existir uma vertente de consolidação dos principais ativos por parte das grandes instituições e uma certa represália por parte das gerações mais velhas e conservadoras, o movimento foi gerado e não tem volta. Se você tem receio de um cartão de crédito que não tem agência, certamente seu filho fará transações via bluetooth sem nunca ter um plástico na mão que não seja o seu celular. Foi neste sentido que a palestra de Nikolav Storonsky, líder do Revolut que opera em múltiplas moedas ao redor do mundo – e que pode estar a caminho do país em alguns meses – degringolou para admiração de um público em boa parte ainda formada nos grandes bancos Europa afora.

A terceira vertente discutida a exaustão durante o MoneyConf foi a revisão de processos e interface entre banco e seus serviços o consumidor. Tanto o Chief Data Officer do Deustche Bank JP Rangaswami quanto Ismail Ahmed, fundador da plataforma de transferência de dinheiro para países emergentes sediada no Reino Unido WorldRemmit, em diferentes frentes, apontaram que a convergência de design, acesso à internet e big data será capaz de tornar o acesso a diferentes ferramentas financeiras como investimentos, poupança, transações/transferências e crédito mais rápida, mais forte e rentável a todas as partes – e novamente aqui as startups com estruturas mais baratas e enxutas levam vantagem em relação as grandes instituições.

A MoneyConf mostrou que o futuro do mercado bancário definitivamente não reside no fim dos grandes bancos – eles continuaram aí, são instituições grandes demais e devidamente saudáveis para simplesmente desaparecerem. Mas Wall Street terá de prestar mais atenção no que regiões como o Vale do Silício, o Roundabout de Londres e mesmo São Paulo – sim, a cidade ganhou muita atenção em diferentes momentos pelos palestrantes por ser um importante pólo desenvolvedor de fintechs – estão desenvolvendo para se manter atualizada e como referência para o consumidor.

Mas não sem antes tomar um cafezinho e um bom pastel de nata aqui em Lisboa.