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Sinei Nehme: BC continua confiante que o preço do dólar sofrerá depreciação com a previdência

21 maio 2019, 8:20 - atualizado em 21 maio 2019, 8:20
Dolar
( Imagem: Marcello Casal JrAgência Brasil)

Sidnei Nehme é Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

Este também é o nosso ponto de vista colocado desde muito, da mesma forma que os bancos tem seguidamente confirmado pela mediana divulgada no Boletim FOCUS, tendo em vista ser absolutamente inconsequente a “franca aposta” dos estrangeiros no caos interno do Brasil, mas utilizando o aviltamento do ativo em que o país está mais confortável e defendido, sem nenhum risco de crise.

O parâmetro do preço da moeda americana para o final do ano oscila entre R$ 3,75 a R$ 3,80!

Afinal, como temos dito repetidamente, talvez seja o único segmento não vulnerável do país no momento, visto que há soberbas reservas cambiais, déficit em transações corrente tranquilo em torno de 0,75%, e, com a autoridade monetária dispondo de instrumentalização operacional adequada para atender pontualmente demandas no mercado a vista, com oferta de novas, não rolagem, linhas de financiamento em moeda estrangeira, com recompra, e no mercado futuro com oferta de novos, não rolagem, contratos de swaps cambiais.

No quesito cambial o Brasil é um emergente bastante diferenciado em relação aos demais.

O BC tem se mantido na observação e não na ação, e, notoriamente na última sexta feira, dia 17, ao anunciar simplesmente como rotina a rolagem de US$ 3,75 Bi de linhas de financiamento em moeda estrangeira, com recompra, vincendas no próximo dia 4, pela tensão com que convive o mercado motivou a propagação pela mídia de erráticas manchetes aventando “intervenção do BC no mercado de câmbio”, fato absolutamente distorcido da realidade, mas que tem a capacidade de influenciar a opinião pública.

No momento não há demanda efetiva que imponha pressão no mercado a vista, que sugira a necessidade de oferta de novas linhas de financiamento em moeda estrangeira, com recompra, sendo absolutamente suficiente a rolagem “profilática” do estoque aos seus vencimentos. Este é o instrumento operacional com o qual o BC irriga a liquidez do mercado a vista, quando e se necessário, e ao rolar mantém a estabilidade do estoque já fornecido ao mercado.

Por outro lado, é sabida e notória a especulação presente no mercado futuro de dólar, orquestrado pelos “investidores estrangeiros”, mas que pelas razões já expostas consideramos movimento de altíssimo risco, pois embora a situação do país transmita intranquilidades, no momento a vulnerabilidade e fragilidade do mesmo não estão no câmbio, como costumeiro nos países emergentes.

Quando há efetiva demanda no mercado futuro de dólar o BC oferta novos lotes de swaps cambiais para “hedge cambial”, o que não o faz no momento dada clareza do movimento presente que pressiona o preço ser notoriamente especulativo, e desta forma não cabe a autoridade monetária se propor ao embate, até porque tem consciência de que não é um movimento sustentável.

O BC age corretamente ao não intervir no mercado futuro e nem no a vista, pois o preço está sendo formado no mercado futuro que contamina o preço do a vista, tudo consequente de movimento especulativo, e se intervir sem razão efetiva acabaria validando com tendência algo que absolutamente irreal e temporário.

Bastará algum sinal mais efetivo de andamento da trajetória pró-aprovação da Reforma da Previdência para termos o desmonte da especulação sobre o preço da moeda americana no nosso mercado.

A despeito de ainda considerarmos as perspectivas um tanto quanto binária e com muitos confrontos ideológicos e de interesses que não os do país pelos políticos com o governo, parece incontestável que a Reforma da Previdência acontecerá, o que se pode colocar em questionamento é o grau de desidratação que possa sofrer, mas quanto a aprovação da mesma não há dúvida, mesmo quando ocorrem espasmos de irresponsabilidade mais acentuada do setor político insinuando a discussão de texto de Reforma diferente à da propositura do governo, ou mesmo, o atropelamento no tempo de eventual Reforma Tributária, que será necessária mas de forma articulada pelo governo e no tempo certo.

Há por parte de alguns setores ou partidos de oposição o anseio do tumulto do “status quo” e este é um fato perturbador que irradia no mercado financeiro e cria um clima mais desagradável do que a realidade.

O momento é sumamente interessante para os exportadores venderem os dólares de suas exportações programadas, portanto efetivas, a curto e médio prazo no mercado futuro de dólar, pois, no nosso entender, o viés prospectivo é de baixa do preço da moeda americana.

Com o passar das semanas, há clara evidência de que os impactos que vinham sendo fortemente valorizados no nosso mercado consequentes do embate comercial sino-americano estão sendo atenuados e vistos com maior sensatez, por isso pontifica o fato de que o problema do Brasil está no próprio Brasil.

Acreditamos que na ordem das coisas no curto prazo sejam mais preocupante as “picuinhas” entre Irã e Estados Unidos que podem precipitar impactos no preço do petróleo, o que causaria efeitos negativos no Brasil.

A BOVESPA sofreu uma “desidratação” além do razoável, mas mesmo com o desempenho dos balanços corporativos um tanto quanto desapontadores, acreditamos que tenha ido além do razoável, por isso demonstra certa recuperação, mas ainda sem força recuperatória contundente, o que somente será possível com os sinais positivos em torno da Reforma da Previdência.

A BOVESPA somente ganhará “musculatura” efetiva com a aprovação da Reforma da Previdência e o surgimento de perspectivas sustentáveis de retomada da atividade econômica.

No CÂMBIO, já há sinais concretos de que a impulsão especulativa atingiu sua máxima e já sentiu que o preço especulado está caro e absolutamente irreal e insustentável. Os volumes negociados na BM&F recuam, mas ainda há um esforço para manter o preço, que contudo não sugere sustentabilidade.

Bastará uma sinalização menos conflituosa em torno das discussões sobre a Reforma da Previdência para a moeda americana iniciar a depreciação frente ao real, sem volta.

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