Dólar

Sidnei Nehme: Mercado financeiro brasileiro, em especial Bovespa, tende a ter ajuste

08 fev 2018, 11:25 - atualizado em 08 fev 2018, 11:25

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

A despeito de grande parte dos analistas serem “vendedores do Brasil” indicando perspectivas de excelentes retornos, entendemos que é preciso ser mais crítico e cauteloso a este respeito.

O Brasil não atrai os investidores para a Bovespa e mesmo para renda fixa pelos seus meritórios fundamentos, mas essencialmente pela oportunidade de ganho e este é o foco dos estrangeiros que aqui aportam recursos forjados a partir da montagem de operações, predominantemente, de “carry trade”.

Então, é a extraordinária liquidez presente no mercado global que permite estas montagens e a busca especulativa de ganhos rápidos. Porém são capitais “ariscos” e ao menor sinal de risco ou dificuldade de continuar montando operações estratégicas geradoras de recursos, saem rapidamente dos mercados onde foram alocados.

A redução da taxa SELIC para 6,75% esperada e festejada pelo mercado tem mais um efeito simbólico, visto que não altera as taxas de juros praticadas pelo sistema bancário na concessão de crédito, sendo registrado até em alguns casos, contraditoriamente, elevação com base em perspectivas de risco, etc.

E mais, o COPOM embora tenha quase sinalizado o encerramento da temporada de baixas, deixou “no ar” expectativa de “se surpresas positivas” ocorrerem poderá descer mais um degrau, e isto pode ser entendido como a aprovação ou não da reforma da previdência, que se lograr sucesso na votação impacta nas perspectivas de longo prazo sobre o crescimento menor da expansão da dívida pública.

E, embora haja a crença que o país seguirá sua rota de reaquecimento, o que se observa é certo atropelo quanto à velocidade desta ocorrência, o que precipita exacerbações, quando o mais importante é a percepção da direção, que deve ser observada com sensatez e a necessária cautela para que as decisões sejam seguras.

Neste momento em que o COPOM persiste na redução da taxa SELIC, conquistando-a como um troféu, ocorre a firme perspectiva de que o FED americano deve elevar a taxa de juro americana a partir de março e de forma mais continuada e agressiva. A confrontação entre ambas em sentido oposto, mais as perspectivas de que o Brasil terá inflação bem acima da registrada no ano passado, pode tornar desinteressante a montagem das operações de “carry trade” que ancoram os fluxos de capitais especulativos, principalmente para a BOVESPA.

Afora isto, certamente ganharão efervescência as questões políticas, visto que há um cenário bastante nebuloso sobre candidaturas ao posto de Presidente do país, e, não se pode desmerecer que haverá ruídos e reações desconfortantes em torno do impedimento da candidatura do ex-Presidente Lula.

Some-se a isto, a grande dificuldade do governo em torno de sua base de apoio que não viabiliza a aprovação das necessárias reformas, num ambiente intranquilo do país em relação à sua política fiscal. Temos no curtíssimo prazo a discussão plenária na Câmara dos Deputados da reforma da Previdência, absolutamente necessária, mas que tende, se aprovada, ter a característica de ser uma mini mini reforma.

Enfim, há razões e fatores que sugerem que não se descarte uma reversão de expectativas em torno do desempenho da BOVESPA, que se fragilizaria com a saída dos investidores estrangeiros, contrariando as melhores expectativas presentes.

E isto pode ocorrer e num ambiente absolutamente descolado em tendência e/ou em intensidade com o mercado americano.

Merece destaque o fluxo cambial de janeiro:

Exatos US$ 8,063 bi positivos, com destaque para o fluxo financeiro responsável por US$ 5,527 bi. Bancos reduziram suas posições vendidas de US$ 23,296 bi para US$ 15,056 bi ao absorver integralmente este superavit no mês.

E mais, liquidaram US$ 3,0 bi de linhas do BC com recompra.

Desta forma reduziram posição total vendida tecnicamente de US$ 31,296 bi para US$ 20,056 bi no fechamento de janeiro, o que demonstra postura cautelar, pois o dólar tende a ter preço apreciado a partir de fevereiro.

Há ainda um saldo comercial a ser consolidado com contratação de câmbio no montante de US$ 13,726 bi (Exp. US$ 22,123 bi – Imp. US$ 8,397 bi).

É bastante provável que o ajuste, em especial na Bovespa, ocorra num ambiente de volatilidade, com alternância de altas e baixas, e isto repercutirá da mesma forma no preço do dólar que deverá sofrer apreciação gradual.

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