Dólar

Sidnei Nehme: Mercado financeiro ainda evita sancionar que quadro político pode sofrer mudanças

07 ago 2018, 11:56 - atualizado em 07 ago 2018, 11:56

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O mercado financeiro nacional ainda desenvolve suas atividades sem ponderar a nova realidade que sugere uma perspectiva menos confortável no campo político, fato este que pode provocar um choque nas expectativas otimistas que ganharam fôlego nos últimos dias.

Pontuamos este fato por entendermos que o fator político sucessório doravante deve se sobrepor aos severos problemas instalados no país como a inércia e viés de perda maior da atividade econômica com agravamento do desemprego, queda de renda e consumo, indefinição em torno da viabilização efetiva de solução da crise fiscal, etc…., e neste campo há fatos novos que podem contrariar a mudança havida de humor para melhor, impactando rapidamente e revertendo este estado de alívio.

A estratégia posta em prática pelo ex-Presidente Lula, reconhecidamente inviável como candidato à sucessão presidencial, poderá provocar resultante surpreendente que não pode ser menosprezada e se revelar como um forte choque desestabilizador nas expectativas de curto prazo do mercado financeiro.

Afastada a possibilidade de efetivação da candidatura do ex-Presidente, o seu candidato a vice deverá assumir a postulação e neste momento é uma absoluta incógnita a capacidade de “transferência de votos” do ex-Presidente para o seu indicado. Seria ingênuo menosprezar a ideia de que poderá haver o deslocamento parcial, mas ainda assim significativo de votos para o novo indicado, e assim colocá-lo na linha de disputa, visto que há também um imenso percentual de indecisos apurado nas pesquisas.

O que sinalizarão as próximas pesquisas com Lula ou com seu novo indicado como candidato?

Poderá sim surgir um novo fato e um novo nome altamente competitivo ombreando-se aos atuais líderes das pesquisas, e, isto poderá impactar rapidamente no comportamento dos ativos no mercado financeiro brasileiro e na postura dos players nacionais e estrangeiros.

Esta cautela e sensatez parecem estar ausentes ainda no comportamento do nosso mercado financeiro. Menosprezar esta realidade, no conceito do mercado um risco, pode não ser postura mais adequada neste momento.

Isto preocupa, pois pode provocar movimentos muito abruptos ao contrariar expectativas e acentuar as incertezas.

Há sinais de que recursos estrangeiros estão deixando a Bovespa como noticiada pela imprensa, mas fatos pontuais em torno de algumas empresas têm mantido o viés de alta, mas esta não deve ser uma tendência sustentável. É preciso estar atento, o momento sugere que os estrangeiros intensifiquem o movimento de retirada de recursos do país e que os nacionais assumam posturas mais defensivas, se acentuando um pouco mais se as pesquisas eleitorais contrariarem as expectativas ao pontuar um fato novo.

Por outro lado, o mesmo ocorre com o comportamento da moeda americana no nosso mercado que sinaliza uma tendência a estar mais próxima de R$ 3,70, provavelmente com a ação dos players posicionados vendidos em detrimento dos comprados, mas consideramos que este seja um comportamento meramente momentâneo, já que temos a convicção de que o preço de equilíbrio para o cenário, ainda não agravado com eventual mudança de perspectiva em relação às eleições, seja de R$ 3,80.

A agência de rating FITCH em suas análises prevê que o dólar deva se valorizar no mercado internacional frente às moedas emergentes, face à dinâmica da economia americana e efeitos das disputas comerciais.

Como temos salientado o Brasil não tem risco de crise cambial, apesar da severa crise econômica que atravessa, mas o BC tem estratégias eficazes para conter exacerbações no preço quando advindas de fatores do mercado local, como aumento de demanda de proteção ou de liquidez no mercado à vista, contudo quando oriundas de fatores imponderáveis inalcançáveis por suas intervenções não tem o que fazer.

As questões externas continuam com uma dinâmica muito intensa no entorno de disputas comerciais e geopolíticas, com o intempestivo Presidente americano não tendo limites em seus arroubos e decisões, que, criam perturbações e podem até ter reflexos no médio/longo prazos adversos à própria economia americana.

Hoje tem início a aplicação de sanções ao Irã, mas o governo britânico já declarou que não se subordinará pelas iniciativas americanas e o Presidente Trump já retrucou com a ameaça de represálias.

Estas disputas criam estresse embora a maturação de seus efeitos efetivos possa demandar tempo, contudo causam muitos ruídos.

O BC brasileiro através a Ata da mais recente reunião do COPOM indica que a inflação fica confortável sem choque adicional, mas de forma sensata preferiu não dar sinal explícito sobre juros, pois acreditamos que ainda não haja convicção de que o viés de alta inflacionária tenha cessado.

O BC assume uma postura de não alarde prospectivo e até, através o Boletim FOCUS, ousadamente insinua forjar com seus parceiros do mercado financeiro projeções até o ano de 2021, o que suscita curiosidade já que não temos sequer ambiente para projetarmos minimamente indicadores para o ano de 2019, dadas a situação caótica da nossa economia e crise fiscal, afora todas as mazelas decorrentes. Coisas do Brasil.

Certamente nos bastidores do mercado o clima não deve ser tão tranquilo quanto ao que insinuam os nossos mercados, os players naturalmente devem ter noção dos embates que devem ocorrer no cenário político, tendo em vista que, neste momento, no entorno do quadro político parece ter diminuído a insegurança jurídica, sendo previsível as decisões que serão adotadas, razão pela qual se torna mais evidente a definição de candidatura sucedânea a do ex-Presidente Lula e isto, pelo novo nome, se constituir num fato novo relevante na disputa presidencial.

É preciso ficar atento, o Brasil e o nosso mercado financeiro, em especial bolsa e dólar, não é para principiantes, nem tudo que parece pode ser exatamente o que sugere.

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