Opinião

Sidnei Nehme: China-EUA é pano de fundo, volatilidade evidencia insegurança e especulação geral

27 set 2019, 7:35 - atualizado em 27 set 2019, 7:36
Guerra Comercial
Colunista analisa bastidores das negociações comerciais EUA-China que impactam os mercados globais (Imagem: Reuters/Aly Song)

Por Sidnei Nehme, Economista e Diretor-Executivo da NGO Associados Corretora de Câmbio

O mercado global entrou numa fase “sem norte” e revela toda a insegurança na intensificação da volatilidade impulsionada pela especulação.

O “humor mutante” sinalizado em torno do embate comercial entre China e EUA se presta como “causa motriz” do cenário constantemente volátil, sejam nas bolsas, sejam nas moedas, no cenário global, e na realidade não são críveis perspectivas de solução no curto prazo.

O nosso real então “flutuou” de R$ 4,12 a R$ 4,15 e na realidade em sã consciência não há como se atribuir a qualquer fundamento, então na ausência do mesmo, debita-se também ao embate sino-americano, as falas de Trump e as ameaças constantes e mudanças de humor.

Sabidamente o fluxo cambial para o Brasil está fragilizado, mas o volume de saídas, como bem evidenciou o mais recente dado do fluxo cambial divulgado pelo Banco Central do Brasil, não atinge montante capaz de causar impactos mais relevantes na formação do preço, pois a liquidez vem sendo suprida em volume até maior pela autoridade monetária diariamente.

Mas, como no Brasil o mercado futuro é o efetivo formador do preço da moeda estrangeira e lá se concentra a especulação nos derivativos, então o preço a partir daquele ambiente se torna volátil e reproduz o mesmo efeito no mercado à vista.

Por aqui, no Brasil, não há tendências fundamentadas, assim um pouco para mais e um pouco para menos, sinaliza o “corner” existente que aos níveis atuais não têm força nem para subir e nem para cair, e desta forma a repetência de comportamento dia a dia acaba consumado.

O Brasil precisa de fatos novos positivos, precisa “reinventar-se” como temos dito repetidamente para restabelecer a sua atratividade e, por isso, repercutiu bem quando o ministro Paulo Guedes pontuou que o país poderá abrir a infraestrutura para os investimentos estrangeiros e privados, algo que já vínhamos mencionando em inúmeros comentários como “janelas de oportunidades” no Brasil, num momento em que o mundo pratica taxa de juro zero ou negativa.

Mais uma vez, ressaltamos que o Banco Central do Brasil precisa rever a sua estratégia de intervenção no câmbio, focando tão somente fomentar a liquidez no mercado à vista e não sendo programático, mas atuando “cirurgicamente” nos momentos de ofertas e de volumes. Não é papel do BC ser previsível no mercado de câmbio, não é postura recomendável.

Hoje ou segunda deve anunciar a continuidade da estratégia de intervenção no câmbio, mas idealmente não deveria ser programática e nem pré-anunciar datas e volumes e só ocorrer no mercado à vista, sem quaisquer movimentos compensatórios com swaps cambiais reversos.

A imprevisibilidade poderá ter mais impacto do que o ato em sí, de vez que acentua a insegurança aos especuladores no mercado de derivativos e tende a conduzir o preço a comportamento menos volátil e mais justo em seu valor.

BC elevou projeção do PIB brasileiro deste ano para 0,9% (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Preço elevado da moeda não fomenta os negócios de exportação quando há volatilidade, o que contribui é preço justo com estabilidade.

O BC elevou a sua projeção para o PIB deste ano para 0,9%, acreditamos que poderia ter ousado até 1%, e o IPCA em 3,30%, mas acreditamos que poderá surpreender àqueles que consideram “favas contadas” a redução da Selic até 5% ou menos, pois o comportamento do câmbio poderá se constituir um empecilho relevante.

Mas hoje é véspera do final do mês, então segunda ocorrerá a fixação da taxa PTax do câmbio e este fato tende a promover mais volatilidade decorrente do enfrentamento entre “comprados” e “vendidos” no mercado de câmbio futuro, epicentro da especulação, e o BC nesta data não intervirá no mercado.

O momento não sugere visão diferente para o mercado de câmbio que não seja “mais do mesmo”, ainda mais se o BC continuar pré anunciando suas intervenções e fazendo-as não só no mercado à vista, mas também no mercado futuro com swaps cambiais reversos.

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