Será que existe demanda para os novos derivativos futuros e opções de Bitcoin?
Mesmo com a aparente exaustão da última disparada do Bitcoin, ainda há algumas corretoras que continuam acreditando na adaptação futura da maior criptomoeda por capitalização de mercado.
O grupo que controla a Bolsa Mercantil de Chicago (CME) anunciou que planeja lançar opções para seus contratos futuros de Bitcoin no primeiro trimestre de 2020.
A CME citou o aumento na “demanda de clientes” como razão para o novo derivativo. Os órgãos reguladores, no entanto, ainda estão avaliando o produto.
Além disso, desde a última segunda-feira, os futuros de Bitcoin da CME ganharam um novo concorrente: outro instrumento futuro da criptomoeda, lançado pela Bakkt, subsidiária da Intercontinental Exchange (ICE) norte-americana.
Entretanto, ao contrário dos futuros da CME, cujos contratos têm liquidação financeira, os contratos da Bakkt serão liquidados fisicamente, ou seja, em Bitcoins de fato.
Mas, com o Bitcoin girando em torno de US$ 8.000, podendo se desvalorizar ainda mais, será que existe demanda de verdade para esses produtos?
Afinal, quando a CME fez o lançamento dos seus derivativos futuros de Bitcoin em dezembro de 2017, a Bolsa de Opções de Chicago (Cboe) já havia lançado seu próprio contrato futuro de BTC. Evidentemente, naquela época, os preços do Bitcoin estavam nas alturas. A criptomoeda era negociada em torno de US$ 20.000 por token.
A CBOE suspendeu a negociação dos seus contratos futuros de Bitcoin em março de 2019 por causa da demanda anêmica.
Apesar disso, ainda existe apetite por opções de Bitcoin, afirma Alex Lam, CEO da RockX, uma plataforma de serviços digitais. Ele acredita que as pessoas físicas podem se beneficiar de posições compradas no ativo:
“As opções de Bitcoin permitem que os detentores da criptomoeda travem seus retornos ou se protejam contra riscos. Por outro lado, as opções de Bitcoin permitem que os mineradores, por exemplo, travem seus lucros por determinado período. Se o preço do bitcoin alcançar ou superar determinadas expectativas, haverá uma realização de lucros; caso contrário, os mineradores ainda podem ganhar comissões com a venda de opções.”
De fato, observa Lam, mineradores mais sofisticados com conhecimento financeiro suficiente podem usar os contratos futuros e as opções para se proteger do risco.
Entretanto, Laurent Kssis, gerente operacional da CEC Capital e ex-CEO da XBT Provider, alerta que a oferta de opções de BTC pela CME não irá necessariamente elevar a adoção por parte de investidores de varejo ou institucionais. Não é o produto ideal para uma pessoa que se estressa facilmente com os custos altos ou a volatilidade.
Kssis afirma que esses produtos são vistos principalmente como um “sim ou não” dentro do cenário de apostas, levando em consideração se o Bitcoin irá subir ou cair a um preço predeterminado em um dia específico. Dessa forma, os futuros e as opções são deliberadamente caros, por causa das suas características de volatilidade.
Segundo ele, já existe uma oferta de opção de Bitcoin nos EUA sob a supervisão da CFTC, a plataforma de derivativos regulada pela LedgerX, que faz a liquidação dos contratos em moedas digitais.
“Fique de olho na volatilidade implícita, variando de 90% a 200% para o preço de exercício acima de US$ 13.000. Para fins de comparação, os índices acionários ficam mais em torno de 15-25%, e é por isso que são negociados em um nível mais caro.”
Demanda por derivativos de Bitcoin?
Mesmo assim, a aceitação de produtos futuros de Bitcoin tem enfrentado dificuldades. Mas Fran Strajnar, CEO da Brave New Coin, fornecedora de dados de mercado de criptomoedas, acredita que o produto certo deve ser capaz de encontrar um público maior:
“Apesar das dificuldades enfrentadas por produtos como os contratos futuros de Bitcoin na bolsa CBOE para encontrar demanda orgânica, ainda existe um apetite forte por derivativos de Bitcoin. Grande parte dessa demanda é impulsionada por produtos e corretoras acessíveis a clientes de varejo, como o produto de swap perpétuo negociável na corretora Bitmex.”
Strajnar explica que os preços dos contratos futuros da Cboe se baseiam em leilões conduzidos pela corretora Gemini, ao passo que sua concorrente direta em mercados institucionais, a CME, determina o preço dos seus futuros de Bitcoin com base em dados agregados de preços spot praticados em diversas corretoras.
Dessa forma, para os traders, era mais fácil aceitar o preço dos futuros de Bitcoin da CME. Foi por isso que se tornou rapidamente o produto preferencial do fluxo institucional que se estabeleceu nos futuros de Bitcoin. Claramente, os derivativos de Bitcoin não são homogêneos.
“A recente iniciativa da CME é um sinal positivo para o mercado de BTC”, declarou Flex Yang, fundador e CEO da Babel Finance. Ele acredita que a criptomoeda ganhará “um reconhecimento maior do seu desenvolvimento e mais relevância como novo ativo de negociação no mundo financeiro tradicional, graças à influência e ao status da CME”.
Esses produtos são uma ferramenta necessária para que instituições e investidores gerenciem seu risco, conclui Yang. E a introdução de opções faz com que a infraestrutura da nascente indústria criptofinanceira se consolide cada vez mais. Ele complementou:
“Embora esse lançamento seja bem-vindo, precisamos prestar bastante atenção à profundidade do mercado e ao aumento de volume, pois o impacto não pode ser superestimado nessa fase.”