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Se EUA e Irã decidirem negociar, qual será a reação no petróleo?

25 set 2019, 6:52 - atualizado em 25 set 2019, 6:52
Saudi Aramco
As mesmas questões têm sido aventadas com a mesma intensidade depois do ataque da semana passada (Imagem: REUTERS/Ahmed Jadallah)

Quais são as chances de os EUA negociarem com o Irã nos próximos dias, semanas ou meses? E, se isso ocorrer, o que aconteceria com os preços do petróleo e seu impacto na já atrasada abertura de capital da Saudi Aramco?

Essas são perguntas que os traders de petróleo têm feito desde a entrada em vigor das sanções aplicadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a Teerã há cerca de um ano.

As mesmas questões têm sido aventadas com a mesma intensidade depois do ataque da semana passada a instalações petrolíferas da Arábia Saudita, em que o reino e o Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, culparam o Irã.

Ainda mais agora que líderes mundiais estão reunidos em Nova York para a Assembleia Geral da ONU, um evento que pode abrir espaço para um raro e oportunista encontro entre Trump e o líder iraniano Hassan Rouhani.

Compreender o prêmio geopolítico no petróleo nunca foi fácil, não importa se o investidor possui centenas de barris em papéis ou milhares de contêineres físicos estocados em armazéns na China ou flutuando em barcaças em Rotterdam na forma de estoques offshore.

Rali provocado por ataque à Arábia Saudita terá continuidade?

Enquanto os principais atores da maior crise de abastecimento de petróleo desde a década de 1970 – Arábia Saudita, Irã e Estados Unidos – se reúnem sob o mesmo teto nesta semana, os investidores querem saber se a valorização de 7% nos preços do petróleo desde o ataque de 14 de setembro se manterá, aumentará ou arrefecerá.

Para responder isso, é preciso levar em consideração diversas variáveis em jogo no mercado neste momento.

Há apenas uma semana, não parecia haver qualquer possibilidade de solução diplomática entre o governo Trump e Teerã, já que o Irã foi acusado de cometer um crime em território saudita, mesmo diante da reivindicação imediata do atentado por rebeldes Houthis do Iêmen.

No entanto, em uma mudança de cenário somente possível no petróleo, o Ministro de Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, disse a Christiane Amanpour, repórter da CNN, na segunda-feira, que Rouhani estava disposto a se encontrar com Trump em Nova York nesta semana, “desde que o presidente [dos EUA] estivesse pronto para fazer o que fosse necessário”.

“Monitoramento permanente” oferecido pelo Irã pode apaziguar os ânimos de Trump

Para o Irã, isso evidentemente significa uma coisa: a remoção do embargo norte-americano que causou estragos no comércio petrolífero e na economia do país. Em troca, Teerã estaria disposto, segundo Zarif na entrevista à CNN, a permitir o “monitoramento permanente das instalações nucleares do Irã”.

Esse “monitoramento permanente”, cujo significado prático ainda precisa ser decodificado, pode apaziguar os ânimos de Trump. O presidente insiste que a principal razão de ter cancelado o acordo nuclear de 2016 com o Irã, selado originalmente por seu antecessor, Barack Obama, foi uma “cláusula de duração determinada” que permitia a elevação do enriquecimento de urânio e o reprocessamento de plutônio pelo Irã no prazo de 10 a 15 anos.

Desde a meia-noite de segunda-feira, Trump não havia reagido à bandeira branca estendida pelos iranianos.

Em seu típico estilo vacilante, o presidente dos EUA declarou no domingo:

“Nada está completamente fora da mesa, mas eu não tenho qualquer intenção de me reunir com o Irã, o que não significa que isso não possa acontecer.”

“Sou uma pessoa bastante flexível”.

O empenho de Trump em mostrar que sabe fazer acordos não passou despercebido por estrategistas políticos, que apontam que um acordo nuclear com o Irã seria um prêmio para o presidente, que se prepara para a reeleição em novembro de 2020.

Rouhani passou a imagem de um emissário que chega à ONU para facilitar a paz mundial, dizendo que apresentará um plano para garantir a segurança das embarcações no Estreito de Ormuz e livrar o Golfo Pérsico de uma inundação de armas. Na mesma toada, ele disse que o Irã, que nega as acusações de ter realizado o ataque à Arábia Saudita, “não permitirá que ninguém viole” suas fronteiras.

Reino Unido, França e Alemanha pressionam o Irã

Mas o presidente iraniano não está em uma posição de força para barganhar.

Elevando o tom contra o Irã na segunda-feira, o Reino Unido, a França e a Alemanha – três grandes aliados da República Islâmica em meio às sanções de Trump – juntaram-se aos EUA para acusar Teerã pelo ataque à Arábia Saudita.

Os três governos disseram, em um pronunciamento conjunto, às margens da Assembleia Geral da ONU, que “chegou a hora de o Irã aceitar uma negociação de longo prazo para seu programa nuclear, bem como para questões de segurança regional, que incluem seu programa de mísseis”.

Como esses três atores europeus estratégicos corroboraram a tentativa dos EUA de apontar o Irã como autor do ataque, será que Trump ainda concorda em negociar com Rouhani em troca da suspensão – pelo menos temporária – das sanções a Teerã?

Olivier Jakob, que está à frente da consultoria de risco em petróleo Petromatrix, de Zug, Suíça, não desconsidera essa possibilidade.

Dedicando uma parte da sua nota de segunda-feira ao enigma Trump-Rouhani, Jakob disse:

“O principal risco de baixa nesta semana, tanto para o preço nominal quanto para os spreads de tempo no petróleo, pode ser a reunião entre Trump e Rouhani em Nova York, com isenções às exportações petrolíferas iranianas.” “Os últimos eventos tornaram isso menos provável, mas não é fácil prever o presidente dos EUA. O petróleo agora está em modo de espera. Precisa primeiro acabar com o risco Rouhani-Trump e depois reavaliar a extensão dos reparos na Arábia Saudita.”

Se, de fato, ocorrer uma negociação entre os dois arquirrivais, onde os preços do petróleo poderiam parar?

Petróleo pode reverter para os preços antes do ataque?

John Kilduff, sócio-fundador do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, afirmou que os preços do petróleo podem votar aos níveis pré-ataque se os EUA e o Irã definirem uma data para as tratativas. Isso significaria que o petróleo norte-americano West Texas Intermediate atingiria US$ 58,34, e o britânico Brent, US$ 60,22. Nos patamares de terça-feira, poderia haver uma desvalorização de cerca de US$ 4 por barril, ou aproximadamente 7%.

Segundo Kilduff:

“Trata-se da forma mais simplista de calcular o prêmio de risco no petróleo agora e não leva em consideração outros riscos baixistas, como a determinação da Saudi Aramco em atingir a capacidade total de produção no menor tempo possível para provar que está tudo bem com suas finanças antes do seu IPO.”

A Aramco afirma que sua planta de processamento em Abqaiq, principal alvo do ataque de sábado passado, voltou a produzir dois terços dos 5,7 milhões de barris por dia que costuma produzir, e a produção total seria restabelecida em uma semana.

O Irã, por sua parte, declarou em maio que pretende produzir pelo menos 1,5 milhão de barris por dia se chegar a firmar um novo acordo nuclear com potências mundiais. Esse poderia ser um pesado fardo para um mercado que descartou completamente a produção iraniana desde que as sanções norte-americanas entraram em vigor em novembro de 2018.

…Ou disparar US$ 10 em relação aos preços de hoje?

Alguns analistas, como Phil Flynn, do Price Futures Group, de Chicago, contesta a narrativa da Aramco de uma retomada galopante da sua produção ou o fato de que a Casa Branca aceitaria as condições propostas por Rouhani.

Segundo Flynn:

“A avaliação dos reparos dos danos causados em Abqaiq por especialistas independentes sugere que levará meses para a produção voltar ao normal. O IPO da Aramco está fazendo com que os sauditas adotem um tom otimista para a retomada da produção, o que infelizmente é baixista para o preço do petróleo.”

“Se nada mudar, espero que a inteligência prevaleça e que o petróleo seja negociado até o fim do ano US$ 10 mais caro do que os preços de hoje.”

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