Processo da Apple contra a Qualcomm terminou de repente; saiba os motivos
Por Clement Thibault/Investing.com
Depois de um desgastante litígio de mais de dois anos, a Apple (NASDAQ:AAPL) e a fabricante de chips Qualcomm (NASDAQ:QCOM) surpreenderam os mercados na última quarta-feira (17), resolvendo suas diferenças fora da corte, poucas horas depois do início do tão aguardado julgamento. Embora as ações da Apple não tenham reagido à notícia, os papéis da Qualcomm dispararam, valorizando-se 31%, incluindo uma alta de 6% após o horário regular do pregão.
O processo original, aberto em janeiro de 2017, alegava que a Apple estava violando as patentes da Qualcomm ao não pagar royalties. A Apple, que na época era um dos maiores clientes da Qualcomm, alegou que durante anos a fabricante de chips cobrou a mais por essas patentes. Além disso, a Apple afirmou que a Qualcomm estava utilizando práticas comerciais injustas, incluindo a utilização da sua posição como fabricante líder de chips de banda base para evitar que os clientes adquirissem peças de outros fornecedores, exigindo deles o licenciamento das suas patentes para ter acesso a seus chips. Dessa forma, a fabricante de chips estava obtendo receita tanto com a venda de chips quanto com o licenciamento de patentes.
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Um processo aberto por um dos clientes mais importantes da empresa não é algo irrelevante, ainda mais quando se trata da fabricante do famoso iPhone.
De fato, os últimos dois anos foram extremamente difíceis para a Qualcomm. Do ponto de vista do preço, as ações da Qualcomm passaram a maior parte dos últimos dois anos sendo negociadas no patamar de US$ 65, desde quando o processo foi aberto. Durante esse período, os papéis da empresa despencaram para US$ 49, uma perda de 25%.
A Apple, por outro lado, continuou sua trajetória ascendente nesse mesmo período e se tornou a primeira empresa a alcançar um valuation de US$ 1 trilhão.
Por que esse processo foi muito mais prejudicial para a Qualcomm do que para a Apple? Do ponto de vista dos fundamentos, as receitas de licenciamento correspondem a uma parte importante do modelo de negócios da Qualcomm, e a Apple estava ameaçando arruinar completamente essas receitas ao fazer a justiça desmantelar esse modelo de negócios.
A Apple também reteve cerca de US$ 8 bilhões da Qualcomm enquanto o processo estava em andamento, quando passou a procurar outros fornecedores para o seu iPhone, impactando as receitas da Qualcomm, que caíram 20% no 1T19 fiscal em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os detalhes do acordo ainda não foram esclarecidos. Ambas as empresas emitiram breves comunicados indicando que a Apple havia interrompido todo o processo contra a Qualcomm e que as duas companhias haviam firmado um acordo de licenciamento de seis anos, um contrato de fornecimento de chips por vários anos e que esse acordo incluía um pagamento da Apple à Qualcomm que não foi revelado. A Qualcomm afirmou que o acordo provavelmente aumentará seu lucro por ação em cerca de US$ 2.
Se a Apple quase não foi afetada pela disputa, por que esse acordo repentino? A resposta é: o domínio da Qualcomm no mercado de tecnologia 5G móvel.
Sucessora do atual 4G, a mais nova tecnologia 5G permite uma transferência de dados muito mais rápida entre as torres de telefonia e celular, permitindo uma conexão de internet mais rápida em aparelhos móveis. O mais significativo talvez é que a Qualcomm é apenas uma das várias empresas – ao lado da Huawei (SZ:002502), MediaTek (TW:2454) e Samsung (KS:005930) – a oferecer chips com capacidade 5G.
Como líder mundial em inovação para smartphones, a Apple precisa da Qualcomm tanto quanto a fabricante de chips precisa dela, a menos que a Apple comece a desenvolver seus próprios chips de modem. A Apple não pode permitir que seus aparelhos percam para a concorrência em nenhum aspecto, principalmente em velocidade de internet, e o novo Galaxy S10 5G, da Samsung, já está no caminho da nova tecnologia.
O acordo de ontem permite que a Apple volte a fazer negócios como de costume sem distrações adicionais. Por outro lado, o futuro da Qualcomm parece ser muito mais promissor agora.
Com seu maior cliente de volta, as receitas e o lucro devem ganhar um grande impulso. Além disso, logo após o anúncio do acordo, a Intel(NASDAQ:INTC) declarou que estava desistindo da corrida 5G, deixando a Qualcomm como único playerprincipal dessa tecnologia. Agora que seus problemas legais foram resolvidos, acreditamos que US$ 100 por ação é um valor bastante factível para a Qualcomm.