Mercados

Pré-market: É melhor já ir se preocupando

14 set 2018, 7:53 - atualizado em 14 set 2018, 8:26

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Na véspera de se completar os primeiros dez anos da quebra do Lehman Brothers, que eclodiu a maior crise financeira desde 1929, o mercado brasileiro está preocupado é com a proximidade do 7 de outubro e o crescimento dos candidatos à esquerda, em especial o de Fernando Haddad. Ontem, o dólar encerrou a sessão colado à faixa de R$ 4,20, valor nominal de fechamento nunca visto antes na história do Plano Real, criado em 1994, refletindo esse temor.

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Diante do cenário eleitoral cada vez mais assustador para o investidor, a sexta-feira deve ser marcada pela postura defensiva à espera da nova pesquisa Datafolha, apenas à noite. Pela manhã, sai mais um levantamento semanal da XP/Ipespe, que já pode influenciar os negócios locais  na abertura.

O principal receio no mercado financeiro brasileiro é quanto ao risco de haver um segundo turno entre PSL e PT. Sondagens privadas já estariam mostrando Haddad ganhando força com os votos vindos do ex-presidente Lula, alcançando os dois dígitos e isolando-se em segundo lugar.

Na liderança, tende a seguir Jair Bolsonaro. A ver, então, o que mostram as pesquisas registradas na Justiça Eleitoral. Nelas, o investidor espera ver um desempenho melhor dos candidatos de direita, mas a tensão se dá mesmo é em relação aos nomes da esquerda.

O Datafolha foi feito entre ontem e hoje e pode ser o fiel da balança, após a discrepância com os números do Ibope desta semana, que mostrou crescimento apenas de Jair Bolsonaro depois do ataque a faca sofrido em ato de campanha. Nos próximos dias, saem outras pesquisas de maior relevância, como a da MDA (segunda-feira) e novamente do Ibope (terça-feira).

Além disso, o mercado financeiro brasileiro já perdeu a paciência com Geraldo Alckmin, que insiste em não avançar entre as intenções de voto e aparece embolado com Marina Silva, que já começa a derreter, e Ciro Gomes, que tem se mostrado competitivo, levando o investidor a migrar de vez para a extrema-direita.

O problema é que o estado de saúde de Bolsonaro tem elevado a cautela. Apesar da plena recuperação após uma cirurgia de emergência na noite de terça-feira, o procedimento deve prorrogar a internação, enquanto os demais candidatos estão em plena campanha eleitoral.

Aliados do PSL já admitem a hipótese de ele não participar das atividades da campanha nem no segundo turno, caso passe para a fase final da disputa eleitoral. Ao mesmo tempo, ainda não há um consenso para a presença do vice na chapa, o general Hamilton Mourão, nos atos, debates e entrevistas.

Assim, a política não deve dar sossego ao investidor, diante das incertezas com a eleição a três semanas do pleito no Brasil. Com isso, a agenda econômica doméstica fica em segundo plano, mas merecem atenção o primeiro IGP de setembro, o IGP-10 (8h), e o desempenho do setor de serviços em julho (9h).

Já no exterior, o calendário econômico nos Estados Unidos está carregado de indicadores relevantes e traz números sobre o desempenho do varejo (9h30) e da indústria (10h15) em agosto, além dos preços de importação e de exportação no mês passado (9h30). Às 11h, saem a confiança do consumidor neste mês e os estoques das empresas em julho.

À espera desses números e de uma nova rodada de negociação comercial, os índices futuros das bolsas de Nova York sobem nesta manhã, empolgando a abertura do pregão na Europa. Na Ásia, também prevaleceu o sinal positivo – exceto em Xangai, que teve perdas moderadas. O dólar está de lado, em meio ao retorno do apetite por risco, o que abre espaço para uma recuperação das moedas europeias e emergentes, ao passo que o petróleo avança.

Ontem à noite, a China divulgou dados mistos da atividade em agosto. A produção industrial cresceu 6,1%, em base anual, ficando levemente acima dos 6% apurado em julho e previsto por economistas. As vendas no varejo avançaram 9,0%, acelerando-se em relação à alta de 8,8% no mês anterior, que era esperada novamente para o mês passado.

Já os investimentos em ativos fixos na China desaceleraram a 5,3% no acumula de janeiro a agosto deste ano, no ritmo mais lento desde 1992, quando teve início a série histórica. Combinados, os indicadores econômicos chineses mostram uma modesta perda de tração neste segundo semestre.

O fato é que o gigante emergente não tem mais espaço para estimular a atividade via expansão dos gastos públicos e até hoje sofre com os efeitos das contas em desordem, contraído no impulso do governo de Pequim para fomentar a economia após a eclosão da maior crise financeira mundial em quase 80 anos.

Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers entrou com pedido de falência nos Estados Unidos, por causa de prejuízos em fundos atrelados a créditos imobiliários de alto risco (subprime). Foi a maior falência da história dos EUA, que chegou a quase US$ 700 bilhões.

O desaparecimento do banco fundado em 1850 provocou a pior queda diária do índice Dow Jones desde o atentado às Torres Gêmeas, sete anos antes, em 11 de setembro de 2001. Era apenas o começo da desestabilização de todo o sistema financeiro internacional.

Três anos depois, tinha início a crise das dívidas soberanas na zona do euro, que colocou em xeque a sobrevivência da moeda única europeia e teve como principal vítima a Grécia. Os países emergentes, que estavam sendo beneficiados pela farta liquidez de recursos vinda da era de juro zero entre os principais bancos centrais globais, passaram a ser contaminados pela derrubada dos preços das matérias-primas, marcando o fim do superciclo das commodities.

Desde então, a desaceleração na expansão do endividamento nos países avançados foi compensada pela aceleração da dívida pública em países emergentes, que viram o crescimento econômico perder força. A partir daí, políticas de ajuste fiscal começaram a entrar no debate. Esse fenômeno explica, em parte, o surgimento de partidos populistas e de extrema-direita em todo o mundo – inclusive nos EUA de Donald Trump.

Aqui no Brasil, os candidatos do mercado vêm perdendo as eleições presidenciais desde 2002, com a população votando contra o receituário de reformas estruturais e austeridade fiscal, que atingem diretamente as condições de bem-estar social. A ver o que acontece no pleito deste ano, com o cenário ainda indefinido e totalmente em aberto. Nesse caso, a urna é soberana e a sociedade deve arcar com as consequências do voto, para o bem e para o mal.

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