Por que a ação da Embraer só cai?
As ações da Embraer (EMBR3) não param de cair desde o anúncio da entrada da Boeing em sua divisão de aviação comercial em uma joint venture com 80% para a americana e 20% para a brasileira. A transação avalia 100% das operações de aviação comercial da Embraer em US$ 4,75 bilhões, o que leva ao pagamento pela Boeing do valor de US$ 3,8 bilhões pela sua participação. Apesar de muito aguardada pelo mercado, a notícia não trouxe ânimo adicional para os investidores.
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Desde o anúncio feito em 5 de julho, quando os papéis da Embraer negociavam a R$ 26,95, a desvalorização acumulada fica em 20% quando considerado o menor nível atingido nesta quarta-feira (11), de R$ 21,57. O valor ainda entrega uma valorização de quase 8% em 2018, enquanto o Ibovespa está em queda de 2%. Mas, considerando este ser um ano de apreciação do dólar e o consequente efeito positivo sobre as vendas da brasileira, não chega a ser um desempenho que chama a atenção.
Os analistas do Banco Safra sugerem que ao avaliar o segmento comercial a US$ 4,75 bilhões, o que estava próximo da capitalização de mercado da Embraer à época do anúncio, isso representou uma subavaliação para os outros negócios, como o de aviação Executiva e Defesa. Eles destacam que, estrategicamente falando, o acordo oferece grandes oportunidades tecnológicas e comerciais no longo prazo, incluindo o acesso à cadeia de fornecimento e produção da Boeing. “Por outro lado, entendemos que a avaliação anunciada pode frustrar alguns investidores em termos de preços”, afirmam.
A equipe do Credit Suisse avalia que o anúncio parece prematuro, com detalhes cruciais omitidos pela administração. Eles citam, por exemplo, o montante da dívida a ser transferida para a JV, os futuros compromissos de capital que podem ser necessários para financiá-la e outros. “Achamos que essa relativa incerteza explica, pelo menos de alguma forma, a fraqueza das ações da Embraer. A falta de visibilidade nos impede de chegar a uma conclusão precisa sobre o valor pós-negócio da Embraer, dada a incerteza em torno de impostos e alavancagem”, avalia o banco.
Briga de gigantes
A lógica comercial por trás do avanço da Boeing sobre a Embraer está na sua forte concorrente Airbus. A empresa francesa comprou, em julho do ano passado, uma fatia majoritária do deficitário negócio de aeronaves comerciais CSeries da canadense Bombardier, sem custo nenhum. Isso deixou a Boeing sem poder de fogo neste segmento de aviões com capacidade entre 100 e 150 passageiros com corredor único, no qual a Embraer opera com os seus jatos E2.
Ou seja, com a parceira Boeing a brasileira pode ter elevado de patamar, mas também passou a fazer parte de uma briga de gigantes. E, neste ringue nas alturas, a dupla Embraer-Boeing pode ter perdido o primeiro round. Isso porque na terça-feira a companhia aérea norte-americana JetBlue anunciou a compra de 60 jatos de corredor único A220-300, da Airbus, antes conhecidos por CSeries e que têm capacidade para 110 a 130 assento.
O A220 substituirá a frota atual da JetBlue de 60 aviões E190, da Embraer, com os jatos deixando de operar a partir de 2020. “É uma decisão muito inteligente da parte da JetBlue porque o A220 é um avião extremamente flexível”, disse Henry Harteveldt, analista de frota do Atmosphere Research Group, acrescentando que se trata de um “avião completamente novo” com eficiência de combustível que permitiria à JetBlue transportar “mais 20 a 30 passageiros de graça”.
A equipe de análise do Bradesco lembra que a JetBlue tinha feito um pedido de 24 E190 com entregas divididas para 2020, 2021 e 2022. Com o possível cancelamento dessas ordens, a carteira de produção (backlog) cai em 6%. “Como já dissemos em outras oportunidades, a Airbus poderia tentar persuadir seus clientes que também operam aeronaves da Embraer a migrar para a Bombardier. O pedido da JetBlue confirma que esta estratégia comercial está funcionando, apesar da recém-anunciada joint-venture com a Boeing”, aponta o banco.
Uma verdade inconveniente que salta aos olhos, como aponta o Bradesco, é que o poder de barganha nas negociações da joint venture está se inclinando mais em direção à Boeing e não à Embraer, diminuindo a possibilidade de renegociação material dos termos do acordo.