Comprar ou vender?

Os picos de mercado são feitos pelos vendidos: O que fazer com a ação da Magazine Luiza

13 set 2019, 22:47 - atualizado em 13 set 2019, 22:49
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“Os picos de mercado normalmente são feitos pelos vendidos e estes ainda não jogaram a toalha”, diz Marink Martins (Imagem: Divulgação Magazine Luiza)

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Em um mundo cuja taxa de crescimento econômico está em ritmo de desaceleração, há uma busca alucinada por ativos que exibam crescimento em termos de lucratividade; mesmo que este seja somente em potencial.

Não é à toa que empresas como Netflix, Amazon, Microsoft, Nike, Visa, Disney, Coca-Cola e outras empresas conhecidas mundialmente tenham suas respectivas ações negociando a múltiplos de Preço/Lucro projetados bem acima da média do índice S&P 500.

Mais interessante, observa-se que o consenso de mercado aponta para estimativas de crescimento na lucratividade para os próximos 3-5 anos extremamente elevadas, apesar de ser de conhecimento de todos que a economia norte-americana está em fase de desaceleração.

Tal comportamento me faz lembrar do famoso filme do ator Kevin Costner, Campo dos Sonhos (1989), onde um agricultor do estado de Iowa ouve uma voz misteriosa durante à noite vinda do milharal dizendo: “Se você construir, ele virá”.

É com essa narrativa que empresas como a Netflix investem bilhões na geração de conteúdo e expansão global. A crença de que futuramente a empresa conquistará uma posição quasi-monopolista faz com que investidores paguem um múltiplo de aproximadamente 60x o lucro projetado para o ano 2020, com expectativa de que o crescimento anual para os próximos cinco anos seja de 60%.

Mas será que tudo isso irá se materializar mesmo diante do surgimento de competidores capitalizados e ricos em conteúdos como a Disney Plus e a Apple TV?

Bem, sabemos que nos anos 80 as estimativas dos investidores para a lucratividade futura dos bancos japoneses provaram-se um fiasco. O mesmo ocorreu com as estimativas de investidores para a lucratividade de empresas associadas a infraestrutura da internet nos anos 90 como a Cisco, a Nortel, a Lucent, e muitas outras.

Uber: “A tese de que a missão da empresa é remunerar os acionistas é uma das maiores mentiras contadas em cursos universitários!” (Imagem: Andrew Harrer/Bloomberg)

Hoje temos empresas destruidoras de capital como a Uber e a WeWork que além de perder dinheiro todo ano, contribuem para uma redução expressiva na lucratividade de seus concorrentes.

A mídia financeira não fala sobre isso, mas os investidores devem se conscientizar que em períodos de euforia a diretoria e outros “stakeholders” “fazem a festa”. A tese de que a missão da empresa é remunerar os acionistas é uma das maiores mentiras contadas em cursos universitários!

E se você acha que estou me referindo somente a empresas americanas, ledo engano. Poderia citar aqui a Petrobras, mas é um caso tão avassalador de corrupção que deve ser tratado como exceção.

Olhem para a Vale. Embora o minério tenha atingido valores superiores a US$200 a tonelada métrica na década passada, pouco deste sucesso foi transferido ao acionista de longo prazo. Durante a gestão dominante na década passada, a empresa embarcou em uma “farra” internacional onde não só torrou boa parte dos recursos adquirindo ativos caros, mas também deu uma “boa vida” a diretoria e associados.

Será que o comportamento das “queridinhas” do momento tende a ser bem diferente? Especula-se que muitas delas vem embarcando em uma onda de recompra de ações mesmo cientes do fato de que tais ações estão relativamente caras. Quanto as mordomias para a diretoria, é bem provável que, por debaixo dos panos, ocorra festas similares aquelas realizadas pelos diretores da Enron nos anos 90.

E será que o mercado acionário brasileiro estaria ileso a tudo isso? Bem, por aqui também temos as nossas queridinhas da bolsa negociando na estratosfera.

O que fazer com a chegada da Amazon Prime? Vender as ações da Magazine Luiza e B2W? (Imagem: Krisztian Bocsi/Bloomberg)

Tivemos esta semana um movimento disruptivo com o lançamento do serviço Amazon Prime que provocou um enorme movimento de realização de lucros em empresas associadas ao varejo digital como Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3) e outras. Embora historicamente a presença de varejistas internacionais não apresenta sucesso (vide Walmart), não há dúvida de que a competição reduzirá a margem de lucro de todo o setor.

E o que fazer diante de tudo isso? Vender tudo e esperar por um iminente “crash”? Creio que não. Os picos de mercado normalmente são feitos pelos vendidos e estes ainda não jogaram a toalha. É possível que os mercados continuem subindo para patamares mais elevados. No curto prazo, tudo pode acontecer.

O importante, entretanto, é que você se convença do perigo rondando os mercados e se prepare para não ser forçado a vender seus ativos para os caçadores de barganhas quando a próxima crise se materializar. Não tenha medo de perder a próxima alta. Foque em manter-se vivo.

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