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Opinião: A propaganda morreu

26 nov 2017, 19:44 - atualizado em 26 nov 2017, 19:56

Por Giovanna Ricci, jornalista que trabalha com propaganda há mais de uma década em grandes agências

Sim amigos leitores, essa é a expressão que eu mais tenho ouvido nos últimos tempos. Entenda tempo como anos. Outra verdade que me enlouquece é “a televisão acabou”.

Eu sempre discordo e fico incomodada quando escuto esse tipo de coisa. Mas o mercado é assim mesmo, cheio de verdades absolutas e expressões de impacto. Depois da era “sair da caixinha” e do pensar “360o “, o que faz um profissional ficar atualizado é matar tudo aquilo que ele considera “velho”.

Parece que a televisão, a propaganda e tudo o que não foi criado pelos Millenials está fadado ao fracasso. Ah! O jornalismo? Esse também morreu. Acabou. Já era. Nós temos os blogueiros… não péra, isso é velho. Temos os “digital influencers”, os “instagramers”.

Expressões como essas me chocam e são facilmente contestadas. A televisão ainda é o meio mais abrangente do país. O brasileiro ainda se guia pelo que vê na novela. Vide a popularidade atingida pela Bibi, personagem da Juliana Paes na última das 21h.

Eu acho engraçado ouvir esse tipo de afirmação. Tão engraçado quanto o termo “desruptivo”. Os meios não estão acabando. Aos poucos nós estamos mudando a nossa relação de consumo com eles. Como quando a TV a cabo chegou no Brasil, mas claro, com mais força.  Seja como for, estamos consumindo diferente, mas dá tempo de fazer uma transição sem precisar matar ninguém.

A publicidade ignorou a internet das coisas por muitos anos. Isso é um fato.  Ninguém ou quase ninguém, colocava fé na evolução que ela faria. Mas não acredito que seja por que as pessoas queriam ficar presas no passado. Acredito que tenha sido por uma questão financeira. Um comercial para TV gera dinheiro. No Brasil o esquema é outro, não há birô de mídia. A comercialização é feita dentro das agências. E isso é o que sustenta a grande maioria delas. Culpa dos publicitários? Não! Culpa das empresas que não sabem como remunerar uma ideia.

Quanto vale uma ideia? Não sei. Quanto vale uma veiculação na Globo? Facilmente mensurável. Simples assim.

Mas enquanto nos digladiamos sobre a morte da televisão, da publicidade e do jornalismo, empresas que estão pensando no futuro, estão se aproveitando dessa situação. Vide o Google com seus relógios de rua e filmes comerciais exibidos na televisão aberta.

Vamos manter a cabeça aberta, ouvir as próximas gerações, mas sem esquecer de olhar para a expectativa de vida, que hoje no Brasil é 72,7 anos, segundo o IBGE. Ou seja, se considerarmos que faz parte dos hábitos de consumo de pessoas com 50 anos, ver televisão e obter informação pelos grandes meios de notícia, temos aí uns 20 anos para fazermos a transição para o mundo virtual de Black Mirror.

Ironias a parte, está na hora das empresas valorizarem as ideias e pagarem por elas. Da mesma maneira, está na hora das agências de propaganda absorverem que o lucro vai ser menor. Mas isso é tema para o próximo artigo.

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