Opinião

Ivan Sant’Anna: Um país, dois governos

03 set 2019, 10:33 - atualizado em 03 set 2019, 10:33
Colunista discorre sobre fraco crescimento e instabilidade política (Imagem: Dario Pignatelli/Bloomberg)

Caro leitor,

Quase todas as manhãs, ao sair do palácio da Alvorada para o Planalto, Jair Bolsonaro manda seu motorista parar junto à guarita e conversa com as pessoas (curiosos, admiradores e repórteres) que ali estão justamente porque sabem que o presidente vai fazer seu tradicional pit stop.

Nessas ocasiões, o capitão deixa-se fotografar com adeptos. Em seguida, responde às perguntas dos jornalistas, não sem antes fazer uma declaração surpreendente, muitas vezes dando uma notícia que ele improvisa na hora, como a de dizer que Fernando de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da OAB, foi morto por seus próprios companheiros da Ação Popular do Recife. Isso sem a menor comprovação e contrariando os próprios órgãos militares que concordam que o desfecho do militante foi diferente.

Nos últimos dias, Bolsonaro vem se dedicando a criticar os governadores de São Paulo e do Rio, respectivamente João Doria e Wilson Witzel, além do apresentador de televisão Luciano Huck.

O que têm Doria, Witzel e Huck em comum? Essa é fácil. Os três são apontados como possíveis candidatos à sucessão presidencial em 2022. Ao quarto potencial pretendente ao cargo, ministro da Justiça Sérgio Moro, Jair Bolsonaro dá um tratamento especial.

Morde e assopra, frita em banha morna, nomeia e desnomeia indicados de Moro para os postos da pasta que compete ao ministro dirigir.

E o povo brasileiro? Está gostando desse vai e vem? Desse chove e não molha? Desse disse/desdisse?

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, os eleitores estão abominando a postura de seu presidente, cuja reprovação subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior, feito em julho. Como não podia deixar de ser, a aprovação do governo segue no rumo contrário. Caiu de 33% para para 29%.

É difícil imaginar o capitão mudando de comportamento nos três anos e dois meses que faltam para o término de seu mandado. Ele mesmo diz:

“Eu sou assim mesmo.”

Voltando às saídas teatrais do palácio residencial, nelas quase sempre o desfecho é o mesmo. Bolsonaro discute com um jornalista, se dirige abruptamente para o carro e vai embora.

Durante o transcorrer do dia, surge o governo que o Brasil precisa. A equipe econômica, em sintonia com lideranças do Congresso, toca pra frente as reformas sem as quais o país ficará sem recursos para pagar seus encargos (mesmo os obrigatórios) já no ano que vem.

Na semana passada, causando surpresa no mercado, foram anunciadas estatísticas mostrando que o Brasil cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019 em relação ao primeiro.

“Zero vírgula quatro por cento?”, alguém poderia debochar. “E desde quando isso é crescer?”

Acontece que nesse período fomos superados apenas pela Indonésia (+ 1,00%), Estados Unidos (+ 0,5%) e ficamos juntos com a Ucrânia e a China (sim, a China). Atrás do Brasil, se situaram as Filipinas, Hungria, Colômbia e Coreia do Sul (+ 0,3%), Malásia, Polônia, Taiwan, Chile, Finlândia e Peru (+ 0,2%), Israel, Tailândia, Espanha, Holanda, Portugal, Áustria e Japão (+ 0,1%).

No zero a zero se mantiveram Croácia, Suécia, França, Reino Unido, Bélgica, México, Alemanha e Itália.

Cingapura, quem diria, o tigre dos tigres, entrou no vermelho (-0,8%).

Venezuela e Argentina, em proporções bem distintas, por motivos óbvios ficam fora da lista. Sabe-se se lá quando (e se) voltarão a crescer.

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