Investindo em blockchains alternativos (parte 1): Hedera Hashgraph
Este é o primeiro de três textos de uma série em que Andrew Gillick, da Brave New Coin, fala sobre blockchains alternativos nos quais você pode investir, fora os blockchains já consolidados do Bitcoin e da Ethereum.
Hashgraph é uma tecnologia de registro distribuído (DLT) construída em sua própria versão de um gráfico acíclico direcionado (DAG), parecido com o IOTA, para a era da Internet das Coisas.
Mas seria esse um “blockchain killer” (termo dado para blockchains descentralizados que fornecem os mesmos serviços, mas que têm o potencial de substituir um blockchain dominante)?
Tangle da IOTA é o projeto mais bem conhecido construído diretamente em um DAG, a alternativa de blockchain mais comum, com o objetivo de criar uma rede mais escalável e eficiente em termos de energia e tempo do que o blockchain clássico.
O protocolo de hoje parece ser o proof-of-stake delegado (DPoS) da EOS/Dan Larimer, que gerou outros projetos, além de protocolos híbridos como o proof-of-stake delegado e resultado (RDPoS).
A proof-of-autority da Tron e o protocolo delegado de tolerância a falhas bizantinas da Neo também funcionam em uma premissa parecida à DPoS. Na verdade, parece que quanto mais exotéricos forem os acrônimos que um projeto possa colocar em seu whitepaper, mais credibilidade ele acumula.
Hashgraph, o “blockchain killer”
Hashgraph é a tecnologia de registro distribuído criada em sua própria versão de um gráfico acíclico direcionado (DAG), parecido com o IOTA, para a era da Internet das Coisas.
As tecnologias por trás desse “blockchain killer” autoestilizado são reiterações de dois simples algoritmos de ciência da computação de 30 anos atrás, o protocolo de fofoca e votação, que a Hashgraph reinventou como “fofoca sobre fofoca” e “votação virtual”.
Essa tecnologia é assegurada pelo chamado “padrão-ouro de segurança”, hash de tolerância a falhas bizantinas assíncrono, seu algoritmo não requer mineração proof-of-work e dizem que pode realizar centenas de milhares de transações por segundo, fazendo até Visa comer poeira.
De acordo com o whitepaper, no que Hashgraph e bitcoin diferem, em questão de protocolo, é na eficiência em minerar blocos.
O documento propõe que, por conta de um membro da rede bitcoin nunca ter certeza quando o consenso foi atingido — apenas uma probabilidade de confiança que aumenta durante o tempo —, mineração deve ser desacelerada por meio de proof-of-work, para que um blockchain divida (bifurque, “fork”) várias vezes, existe tempo o suficiente entre blocos para concordar sobre qual é o blockchain verdadeiro e retirar as outras divisões.
“O algoritmo de consenso da Hashgraph é o equivalente a um blockchain em que o “chain” está constantemente sendo dividido, sem nenhuma ‘poda’, em que nenhum bloco fica estagnado e onde cada minerador pode minerar vários blocos por segundo, sem proof-of-work e com 100% de eficiência.”
Fofoca sobre fofoca e votação virtual
Leemon Baird é o inventor do algoritmo Hashgraph e cofundador de sua empresa-mãe Swirdls. Foi professor de TI e empreendedor “multitech” que recebeu seu PhD em Ciência da Computação pela Carnegie Mellon University em apenas três anos — o mais rápido até hoje.
Baird descreve o protocolo de fofoca sobre fofoca como uma forma de tornar viral uma grande quantidade de informações nos hashgraphs (pacotes de informação): “se uma nova transação é colocada na carga útil de um acontecimento, vai se espalhar rapidamente para todos os membros, até que todos saibam dela. Alice vai saber da transação, e ela saberá exatamente quando Bob soube da transação. Ela saberá exatamente quando Carol soube do fato de que o Bob soube da transação… E assim por diante”.
A votação virtual do Hashgraph é votação de um servidor proxy levado ao próximo nível em que, basicamente, nenhum voto é lançado em toda a rede porque votos de acionistas (stakeholders) são retirados de seu histórico de conversas contidos nos hashgraphs.
A ideia é que, por meio dessa fofoca sobre fofoca e votação virtual prevista, exista pouco poder computacional algorítmico e zero bytes de internet sendo usados.
Como investir na tecnologia hashgraph
Já que não existe uma criptomoeda nativa de hashgraph, investir nessa tecnologia, até agora, é algo difícil para quem não é um investidor qualificado, e o único veículo para fazê-lo era Swirlds, uma empresa privada.
Em março de 2018, Baird e Mance Harmon, cofundador da Swirlds, lançaram Hedera Hashgraph, uma nova empresa dedicada ao desenvolvimento de uma rede pública e distribuída construída em hashgraph.
Hedera tem seu próprio utility token, mas a pré-venda só foi aberta a investidores qualificados dos EUA e não houve ICO pública.
Depois, participantes da rede puderam ganhar o token quando a rede foi ao ar, que pode ser usado para acessar aplicações da rede ou para fazer staking a fim de executar o nó e fornecer segurança à rede. No entanto, projetos construídos no hashgraph podem emitir seu próprio ICO e plataformas de jogos.
Outra aplicação interessante do Hashgraph é para acordo de contratos inteligentes. Apenas em 2018, meio bilhão de dólares foi perdido em transações de contratos inteligentes, o principal sendo a falha no código da carteira da Parity, que resultou na destruição de US$ 300 milhões equivalentes em ether.
Sagewise está desenvolvendo uma plataforma para integrar adjudicação humana com contratos inteligentes na rede Hashgraph, dando às partes envolvidas em contratos autoexecutáveis a capacidade de monitorar, congelar e resolver disputas.
“Um dos maiores problemas dos contratos inteligentes é que, mesmo se não houver uma falha explícita, pode haver algo no contrato que dá enorme controle a uma única parte. Vimos diversos contratos de ICOs que permitem que o criador congele ou, em alguns casos, até execute um código comum dentro do contrato inteligente. Isso pode acabar completamente o propósito de usar um contrato inteligente e descentralizado e é o motivo pelo qual fornecemos ferramentas que permitem mais governança responsável de contratos individuais”, afirmou Daniel Rice, cofundador da Sagewise.
“A quarta geração do blockchain”
Hashgraph está buscando se tornar o primeiro registro distribuído e público de grande adesão do mundo, com utilidade para abranger moedas, serviços financeiros, saúde, Internet das Coisas, jogos e quase todos os outros aspectos dos consumidores.
Assim, a equipe da Hashgraph se refere a ele como “a quarta geração do blockchain” na era do DLT:
1. Bitcoin e altcoins: transferência de moedas digitais;
2. Blockchain: armazenamento de governança de itens como terra, música e ações em um blockchain;
3. Ethereum: o uso de contratos inteligentes como acordos entre compradores e vendedores;
4. Hashgraph: combinação justa de compradores e vendedores na execução de contratos inteligentes e dapps.
Distribuído ou descentralizado? Público ou permissionado?
Diferente da maioria no universo DLT, o algoritmo Hashgraph não é de código aberto, e sim patenteado pela Swirlds e sua governança é supervisionada pelo Hedera Hashgraph Council, um grupo distribuído “de até 39 empresas e organizações renomadas de diversas indústrias e localidades”.
Hashgraph é governado por um comitê de empresas em um sistema parecido com o da Visa.
A Hedera Foundation detém a maioria do fornecimento de votação (tokens), que não é ideal para o poder de votação dos acionistas, mas a empresa afirma que o controle desse fornecimento é para evitar que empresas ganhem muito controle sobre a rede enquanto for barata.
No entanto, não se sabe como empresas são escolhidas ou como o procedimento de examinação é feito, mas foi estabelecido para funcionar com dois termos de três anos, fora a empresa-mãe do Hashgraph, Swirdls, que tem permanência indefinida no comitê.
De forma interessante, na totalidade do whitepaper da Hashgraph, as palavras “público”, “privado”, “permissionado” ou “descentralizado” aparecem, mas a ênfase está na natureza “distribuída”, que soa como um eufemismo para “permissionado”.
Então parece estranho ler no site da Hedera que “o algoritmo hashgraph é altamente descentralizado; não existem líderes, mineradores, coordenadores ou produtos de blocos com influência especial sobre o consenso. De forma separada, o modelo de governança da Hedera também é descentralizado”.
Além disso, a própria descrição da Hedera sobre o papel do comitê de governança parece concordar com a descentralização no sentido do estabelecimento de regra hierárquica: “o Comitê de Governança eleito vai comandar o comitê ao estabelecer políticas para membros do conselho, regulando regras e tokens da rede e aprovando mudanças ao código-base da plataforma”.
Parece que Hedera está tentando fazer algo parecido com a R3 e seu blockchain Corda, e existe muita discussão sobre seus méritos.
Enquanto a infraestrutura de DAG do Hashgraph e a velocidade parecem academicamente impressionantes no papel, seu desempenho pode sofrer por conta da alta latência de três segundos — por exemplo, EOS, sua contraparte de blockchain, tem 0,5 de latência.
Se essa diferença de latência é importante em uma rede assíncrona ainda vai ser vista em uma simulação real.
Dan Larimer da EOS disse: “existe uma diferença na quantidade e qualidade, validado versus não validado. Se tudo o que você está tentando fazer é organizar acontecimento sem consideração de validade que o Hashgraph pode funcionar, mas se precisar de relações dependentes entre eles, eu não acho que seja tão escalável”.
Também parece que alteraram “produtores delegados de bloco” da EOS por “governança distribuída” e os substituiu com os interesses da empresa, que é anátema ao ethos descentralizados, mas que vai ser atrativo para as hegemonias mundiais tradicionais que querem migrar para o topo do mundo “distribuído”.
Como uma oportunidade de investimento, de varejo ou não, é algo a se prestar atenção.