Giovanna Ricci: Por que uma selfie assusta o Banco do Brasil?
Por Giovanna Ricci – Jornalista com expertise em propaganda há mais de uma década em grandes agências
Nunca pensei que escreveria sobre política nessa coluna. Muito menos sobre censura. Não era minha ideia e nem tem a ver com o tema a que me proponho. Mas ontem, 25 de abril, o mercado publicitário ficou em cólicas. Ninguém falava mais sobre outro assunto.
Segundo a coluna do Lauro Jardim, uma campanha do Banco do Brasil foi vetada pelo Presidente da República. De acordo com a nota publicada pelo jornalista, o comercial incomodou Jair Bolsonaro por ter diversidade demais. O veto teria vindo de Bolsonaro em conjunto com o presidente do banco, Rubem Novaes. O diretor de marketing, Delano Valentim, inclusive teria sido desligado da função.
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Eu não tinha visto a campanha. E por mais que minhas convicções políticas me fizessem acreditar na notícia, titubeei. Pensei em Fake News. Ainda mais depois da notícia sobre a menina que se recusou a dar a mão para o Presidente da República.
Eu sequer tinha visto a campanha para poder dar minha opinião. Depois de um dia tumultuado, cheio de trabalho, e de uma noite agradável, pós evento no Estúdio Midas, fui dar uma olhada com afinco nas notícias. Pesquisar. Tentar entender.
Não entendi. Continuei sem respostas. O filme em questão, aparentemente foi tirado do ar. Não achei uma declaração oficial, nem do governo, nem do banco, nem da agência. Não tentei contato com ninguém, só li o que máximo de notícias possíveis sobre o assunto.
Fiz uma busca no trade, os veículos que cobrem o mercado publicitário com certeza teriam mais informações. Nada. Colunas de política? Nada também. Não sei se você assistiu, mas o filme não tem nada demais. Poderia ter sido assinado por qualquer marca. O comercial mostra pessoas tirando fotos, enquanto a locução fala sobre a facilidade de abrir uma conta no banco. É isso. Um filme com pessoas tirando fotos e fazendo uma relação com a facilidade de abrir uma conta. Um filme com uma linguagem adequada para falar com o público jovem, que era o alvo da campanha.
A única coisa que eu descobri foi que a campanha havia sido divulgada no dia 1º de abril. Ainda estou com uma sensação estranha. De que tem algo que eu deixei passar, por que não vi nada demais no filme. Nada que pudesse deixar desconfortável o mais conservador dos seres humanos. Nada. Apenas pessoas tirando fotos delas mesmas.