Investimentos

Gabriel Casonato: Brasil terá sua fatia do bilionário mercado da maconha

01 maio 2019, 18:10 - atualizado em 30 abr 2019, 19:48

Por Gabriel Casonato, editor do Agora Financial 

Caro leitor,

Lá se vão mais de 4 anos quando, pela primeira vez no Brasil, uma família conseguiu autorização da Anvisa para importar legalmente o canabidiol, o extrato natural da cannabis utilizado no tratamento de inúmeras doenças.

A luta de Katiele e Norberto Fischer ganhou repercussão nacional quando o casal conseguiu permissão para realizar o tratamento da filha, diagnosticada com uma síndrome rara, a CDKL5.

Por conta das frequentes crises de epilepsia provocadas pela síndrome, Anny, na época com 7 anos, tinha até 80 convulsões por semana.

Seu desenvolvimento regrediu e a pequena não falava, não andava, não tinha controle de pescoço e de tronco.

Após fazer o uso do óleo extraído da maconha, as crises passaram a ser extremamente raras, perdendo espaço para uma nova rotina marcada pela redescoberta de uma vida com possibilidades.

Algo que até então a família Fischer desconhecia.

Sua luta na Justiça fez com que a Anvisa retirasse o CBD – a sigla do canabidiol – de uma lista de substâncias proibidas, transferindo-a para a de medicamentos controlados.

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Meses depois, a Receita Federal simplificou o processo de importação e retirou os impostos cobrados.

Era a primeira grande vitória dentro de uma disputa que foi crescendo e passou a ser marcada por pequenos avanços.

Desde janeiro de 2015, quando o uso terapêutico da substância foi liberado, cerca de 4 mil brasileiros já obtiveram autorização para importar o CBD.

A maioria deles se dispõe a pagar um preço alto pelo produto, com o tratamento podendo chegar a 3 mil reais por mês.

Não por acaso, muitos pacientes estão tendo que recorrer novamente à Justiça, desta vez para que o SUS arque com os custos da medicação.

O sonho destes brasileiros é de que um dia o país se aproxime dos Estados Unidos, onde o canabidiol, cada vez mais próximo de ser totalmente legalizado, já é comercializado nos mais diversos estabelecimentos por um preço muito mais acessível.

Os pacientes americanos dizem que usam o derivado da maconha para tudo, desde dores musculares e ansiedade à artrite, epilepsia e transtorno de estresse pós-traumático.

Por aqui, já existe óleo de CBD até para cachorros – e com sabor de bacon!

É uma indústria que espera faturar globalmente 5,7 bilhões de dólares em 2019 e 22 bilhões até 2022, segundo a consultoria Brightfield Group.

E embora ainda muito incipiente, os números apontam para um possível mercado relevante do canabidiol também no Brasil.

De acordo com levantamento de empresas especializadas, como a New Frontier Data, o número de consumidores no país pode chegar a 3,4 milhões em apenas três anos após a liberação da venda legalizada.

Com isso, o segmento poderia movimentar sozinho cerca de 4,4 bilhões de reais, valor equivalente a 6,3 por cento do total do faturamento da indústria farmacêutica brasileira.

Ou seja, o Brasil está deixando de arrecadar uma fortuna aos cofres públicos porque mantém o comércio do canabidiol sendo realizado de forma onerosa e burocrática. Isso em plena crise fiscal.

São números que, em conjunto com a onda de legalização cada vez mais forte no exterior, darão mais fôlego aos defensores e inevitavelmente ampliarão os debates sobre a viabilidade de uma liberação irrestrita de medicamentos à base de CBD no Brasil.

Veja bem que não estou falando do mercado recreativo de maconha, muito mais polêmico e ainda sem nenhuma perspectiva de avanços no país.

É importante separar isso, já que o uso para fins medicinais conta com uma aceitação muito maior da sociedade e, consequentemente, tende a evoluir para a liberação muito mais cedo.

A própria Organização Mundial da Saúde, em fevereiro, exigiu que a maconha e seus principais componentes sejam formalmente reclassificados para fins medicinais nos tratados internacionais sobre drogas.

Uma medida que pode marcar o início do fim da proibição global da cannabis após quase 60 anos de restrição.

Também vale ressaltar que a maioria das empresas do setor de maconha com ações negociadas em Bolsa foca as operações justamente no mercado medicinal.

O que, por si só, já reduz consideravelmente os riscos associados ao investimento, principalmente quando o horizonte para retorno é focado no médio/longo prazo.

É o caso, por exemplo, do Alternative Harvest ETF (NYSEARCA: MJ), composto por ações de 37 empresas majoritariamente focadas no mercado de cannabis medicinal.

Tendo em vista que o mercado recreativo de maconha ainda está deixando a fase embrionária, ele adota a estratégia de dar um peso maior às empresas que atuam focada no desenvolvimento de medicamentos e outros produtos voltados à saúde e qualidade de vida.

Na medida em que a legalização do consumo recreativo for avançando pelo mundo, esta relação tende a ficar mais equilibrada.

Até porque os estudos mostram que este mercado possui potencial de movimentar muito mais dinheiro do que o medicinal.

Mas não é isso que você precisa ter em mente agora.

O que eu quero que você entenda é que, daqui um tempo, a maconha será um produto cotidiano.

Que a legalização em esfera global decorrente dos avanços nos países desenvolvidos é um caminho sem volta.

Compreender isso e se despir do preconceito é o primeiro passo para lucrar alto com um dos setores mais promissores da atualidade.

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