Opinião

Felipe Miranda: O melhor resumo das minhas ideias de investimento

09 set 2019, 10:18 - atualizado em 09 set 2019, 12:33
Felipe Miranda
Colunista discorre sobre ideias de investimento, como ações, ouro e títulos pré-fixados (Imagem: Empiricus)

Poderia trazer várias ideias para começar esta semana.

Como reação imediata aos indicadores da manhã, com o superávit comercial da China decepcionando fortemente, haveria espaço para dizer que novos estímulos monetários estão a caminho. Com efeito, o Banco Popular da China já anunciou novos incentivos, contaminando os mercados com otimismo.

A queda das exportações chinesas nesta segunda-feira se soma à criação de postos de trabalho abaixo do esperado nos EUA no fim da semana passada para alimentar expectativas em prol de juros cada vez mais baixos no mundo.

Se os juros vão cada vez mais para o negativo nos países desenvolvidos, aquilo que não paga yield (rendimento) fica muito mais atrativo em termos relativos. Em termos práticos e metafóricos obviamente, é como se pudéssemos fazer carry trade com o ouro.

Não à toa, o metal precioso não para de subir e grandes bancos centrais estão acumulando, literalmente, toneladas da commodity — o Banco Popular da China já adicionou 100 toneladas de ouro às suas reservas em 2019; só em agosto, foram 5,91 toneladas.

Bom, acho que você entendeu. Em termos práticos, acredito que todos nós precisamos ter um bocado desse troço, antes que ele supere a marca de 2 mil dólares por onça. E me desculpe, mas estamos nessa muito antes de o ouro virar modinha, matéria de capa de site de notícias de finanças.

Em paralelo, se surgiu a dúvida de que o Copom poderia, eventualmente, interromper ou abreviar seu processo de cortes da Selic por conta da escalada do dólar em semanas anteriores, essa é uma ideia que já morreu. O real se apreciou fortemente contra o dólar nos últimos pregões e, mais do que isso, com o Fed entrando numa trajetória de redução de sua taxa básica, o dólar pode ficar mais fraco no mundo todo.

Soma-se a isso o IPCA de agosto muito bem comportado e… bingo! Lá vamos nós para a Selic de 5,0 por cento ao ano no final de 2019 — talvez menos. Você deve ter visto que o Bradesco agora projeta um juro básico de 4,75 por cento em dezembro, não viu?

Se fosse eu, era exagero, mas é o Bradesco, entende? Acho que a pessoa mais jovem no conselho do Bradesco deve ter 78 anos (sim, é uma hipérbole — quando você se vê explicando as próprias piadas, precisa admitir para si mesmo que está domado; triste destino). O Bank of America Merrill Lynch já oferece essa mesma projeção desde julho.

Para encerrar essa parte da argumentação, considere também que o risco-Brasil, medido pelos contratos de CDS, alcançaram na sexta-feira sua mínima do ano, em 124 pontos-base — patamar inferior a esse fora visto só em 2013, quando éramos investment grade.

Então, somando A+B, podemos nos preparar para um upgrade das sempre super-rápidas agências de classificação de risco. Quem é mais rápido: as agências de rating ou os sites de notícia? Dado que o segundo grupo costuma noticiar o primeiro, acho que temos um bom candidato à lanterna.

Então, para mim, essa taxas de juros reais de 3,7 por cento ao ano que você encontra nos títulos indexados mais longos são uma aberração, um daqueles “screaming buys” clássicos. Você não encontra nada parecido no mundo. E até para jabuticaba tem limite.

Por falar na fruta, o Brasil é o país onde se compra renda fixa para ter ganho de capital e Bolsa para ter yield — esses dividend yields por aí acima de 6 por cento vão ser varridos do mapa; seria bom nos anteciparmos.

E, para encerrar as potenciais ideias segmentadas, poderia dizer que, depois do comportamento da semana passada, em que basicamente só subiu banco e commodity, esperaria uma performance relativa melhor das small e mid caps ligadas ao mercado doméstico.

Todas são alternativas que considero interessantes para o investidor. Mas são ideias isoladas, aqui ou ali. E bons jogadores não ganham campeonato. O que ganha título mesmo é o time todo.

A sólida construção patrimonial se faz a partir da gestão do portfólio como um todo, não deste ou daquele ativo em particular. Precisamos olhar sempre para a nossa carteira em termos consolidados.

Nada do que eu lhe disser hoje pode ser mais efetivo do que as linhas a seguir.

Depois de um sucesso inicial muito acima de qualquer expectativa, o fundo Carteira Universa está reaberto para novas captações. Em termos muito sintéticos e tornando curta uma longa história, ali está a minha ideia de portfólio ideal para o momento. E essa é minha melhor indicação para hoje.

P.S.: Cuidado com o que você lê por aí. Com a perspectiva de uma retomada forte dos IPOs, em especial a partir do quarto trimestre, preciso esclarecer algo sobre matéria da Folha de hoje, de título “Com juros em queda, oferta de ações ganha apelo, mas há risco”. Ali aparece a seguinte frase: “(…) é mais frequente que empresas percam valor em Bolsa nas semanas que se seguem à oferta inicial”.

Não há qualquer evidência empírica ou estudo acadêmico para chegar a essa conclusão, tratando-se apenas e tão somente da opinião da jornalista ou de pseudoespecialistas, sempre prontos a expressar seus preconceitos sem escorar-se em dados.

Há extensa evidência empírica sugerindo, inclusive, outperformance dos IPOs no curtíssimo prazo. O clássico fenômeno de “underpricing em IPOs”, medido como a alta típica e estatisticamente significativa das ações em sua estreia em Bolsa, foi identificado para uma enorme gama de países em todo o mundo — pesquise “underpricing IPOs” no Google.

Eu mesmo, junto com o Rodolfo, tenho um artigo sobre isso para o caso brasileiro. Já no longo prazo, costuma, aí sim, ocorrer uma performance pior para os IPOs, conforme identificado no artigo clássico de Jay Ritter, de nome “The Long-Run Performance of Initial Public Offerings” — fica a sugestão de atualização para o caso brasileiro.

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