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“Esquenta” de Davos: O que esperar de Paulo Guedes no Fórum Econômico Mundial

22 maio 2022, 17:00 - atualizado em 20 maio 2022, 19:11
Paulo Guedes Davos Fórum Econômico Mundial
Agentes em Davos devem estar atentos a iniciativas de controle do gastos e arrecadação do governo (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O ministro da Economia Paulo Guedes embarca hoje para o Fórum Econômico Mundial de Davos, onde deve participar de painéis e eventos até a sexta-feira (27).

Guedes comparecerá a reuniões sobre crescimento sustentável, parcerias econômicas com a Ásia e o Pacífico, perspectivas da conjuntura econômica global e parcerias econômicas na América Latina.

Segundo o ministério, o chefe da pasta “vai apresentar o Brasil como destino privilegiado para investimentos e como um país destacado para soluções de segurança energética e alimentar internacional”.

O chefe do executivo, Jair Bolsonaro (PL), que em 2019 chamou a atenção mundial ao se isolar de interações com outros líderes e usar apenas 6 minutos de seu tempo de discurso para dizer que que seu governo pretendia trabalhar pela estabilidade macroeconômica, respeitando contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas, não está cotado para ir ao evento.

Money Times conversou com especialistas sobre quais são as principais expectativas que a comitiva brasileira desperta na comunidade internacional com a sua participação em Davos.

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Inflação será protagonista

Para Leonardo Trevisan, professor de geoeconomia internacional na ESPM, investidores aguardam respostas diretas e certeiras sobre o que o governo está fazendo para controlar problemas brasileiros urgentes, como a disparada da inflação— atualmente acumulada em 12,13% nos últimos 12 meses.

“Eles aguardam, com muita ansiedade, uma definição sobre o que se pretende fazer com os problemas reais do Brasil, como, por exemplo, a inflação. E, obviamente, qual vai ser o comportamento do Banco Central do Brasil com relação ao Federal Reserve“, afirma.

O economista e professor da USP Paulo Feldman também acredita que o aumento nos preços ao consumidor será um dos tópicos principais em Davos.

“Nosso índice de inflação é um dos mais altos do mundo. Isso é preocupante para as empresas lá fora, pois elas têm medo de que, se entrarem no Brasil, não conseguirem corrigir preços e evitar o prejuízo”, diz.

Feldman, entretanto, pondera que o problema inflacionário é recorrente em diversos outros países, principalmente depois da emergência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que pode ser utilizado por Guedes como uma maneira justificar a má fase do Brasil.

“A única coisa a favor de Guedes é que há uma inflação no mundo inteiro, o que pode funcionar como atenuante e provavelmente é o que ele usará para responder aos questionamentos”, afirma.

Outros indicadores também geram “forte preocupação”

As atenções, segundo Feldman e Trevisan, também estarão centradas na saúde das contas públicas e em outros indicadores macroeconômicos.

Para Feldman, agentes em Davos devem estar atentos a iniciativas variadas de controle do gastos e arrecadação do governo.

Como exemplo, o economista cita o atual déficit no balanço orçamentário brasileiro, correspondente a 7,1% do PIB, segunda maior porcentagem do mundo, somente atrás das Filipinas, segundo a revista The Economist.

“Fazendo a conta, você vê o tamanho do déficit do Brasil, e isso só vai melhorar quando o Banco Central abaixar as taxas de juros. Isso é que tinha que ser resolvido”, afirma.

O Banco Central no início de maio elevou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano, décima alta consecutiva.

Também prevendo olhares para o que será feito com as taxas de juros, Trevisan crê que investidores não estão somente centrados em ações do atual governo, mas também consideram cenários em uma eventual troca de gestão.

“Nós não estamos vendo um debate, no cenário brasileiro, sobre a subida de juros nos EUA. E, principalmente, não estamos vendo discussão programática sobre isso, restando 5 meses para a eleição”, observa.

O Banco Central elevou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Eleições à vista

Para o professor da ESPM, é seguro que o exterior está atento aos desdobramentos das eleições presidenciais no Brasil, em cenário cada vez mais favorável de disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“A imagem brasileira é a de um país que está aguardando o seu processo eleitoral. E, nesse sentido, o que o exterior vê é que não há qualquer definição sobre o que vai ser feito sobre os reais problemas brasileiros. Há uma forte preocupação sobre os programas eleitorais, tanto de um candidato quanto o outro, principalmente porque, no exterior, não há qualquer crença na terceira via. Se o ministro escolher Davos para divulgar o que Bolsonaro pretende apresentar como programa, ótimo. Mas, se não, vamos ter uma série de questões.”, afirma.

A última pesquisa Ipespe, divulgada na sexta-feira (20), mostra Lula com 44% e Bolsonaro com 32% das intenções de votos. O terceiro lugar é disputado por Ciro Gomes (PDT), com 8%, João Doria (PSDB), com 4% e por Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante), ambos com 2%.

Democracia precificada

Ambos os professores também acreditam que instabilidades institucionais proporcionadas pelo processo eleitoral tendem a “pegar mal” na comunidade internacional.

“Bater nessa tecla da questão eleitoral, da briga com o Supremo Tribunal Federal, das urnas… para eles [investidores], é uma surpresa imensa que agora, vinte anos depois, se coloque isso em dúvida”, alerta Trevisan.

Para Feldman, a disposição de investimentos no país acaba sendo um termômetro de abalos institucionais proporcionados pelo próprio presidente da República Jair Bolsonaro.

“As ameaças à democracia preocupam muito os investidores, pois geram estabilidade. Os empresários não vão querer continuar com seu dinheiro aqui, se a democracia realmente for abalada, porque, aí, estaríamos em uma república de bananas, e eles não investem em repúblicas de bananas”, sublinha.

Exterior é descrente com possiblidade de terceira via (Imagem: Bloomberg)

Amazônia também estará no radar

O professor da USP não deixa de ressaltar a importância de temas ambientais no fórum.

“A imagem do Brasil nunca esteve tão ruim lá fora. Hoje, a grande preocupação mundial é a questão do aquecimento global e de mudanças climáticas, e é só aqui no Brasil que ninguém dá bola para o assunto. Enquanto isso, temos níveis de desmatamento na Amazônia batendo recorde atrás de recorde. Isso é algo que Guedes certamente terá que enfrentar, pois, em outras ocasiões, os indicadores nem estavam tão ruins e o país foi contestado”, pontua.

Além disso, o economista lembra que o Brasil é um dos únicos países a ainda não ter iniciado uma troca da frota de veículos para modelos elétricos, dependendo do uso de combustíveis como o diesel e a gasolina, “algo que o mundo inteiro está eliminando”.

“O Brasil não está em uma fase boa para se apresentar em Davos”, resume.

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