Elliptic é criticada por ferramentas que podem ser usadas para “supervisão financeira”
Nessa segunda-feira (1), durante o Mainnet, evento on-line realizado pelo site cripto Messari esta semana, Alex Gladstein (Human Rights Foundation) e Tom Robinson (Elliptic) trocaram farpas sobre as ferramentas fornecidas por empresas de análise como a Elliptic.
Elliptic é uma empresa de análise sobre criptoativos que, recentemente, anunciou suporte para 97% de todos os criptoativos do ecossistema.
A Human Rights Foundation (HRF) é uma organização sem fins lucrativos e apartidária que promove e protege os direitos humanos em todo o mundo por meio da união de ativistas e líderes da indústria para o desenvolvimento de soluções inovadoras.
Os representantes de ambas as empresas estavam em um debate aberto sobre vigilância em blockchain durante o evento da Messari. Segundo a CoinDesk, Robinson temeu que regulamentações extinguissem o bitcoin caso “interrompessem os pools de liquidez que tornam a criptomoeda utilizável”.
Não é novidade que alguns países (principalmente os Estados Unidos) não são favoráveis ao bitcoin e aos criptoativos em geral.
Alguns dos obstáculos podem ser o medo pela perda da dominância de sua moeda nacional (fiduciária), a falta de informação sobre os benefícios que essa tecnologia poderia trazer à sua nação ou a falta de regulamentação.
Isso porque a tecnologia cripto e de blockchain não é controlada por um órgão central (como o Federal Reserve contra a emissão do dólar, por exemplo), e sim por um protocolo que, desde a programação, já define as regras de como irá funcionar.
A questão de controle e soberania é muito debatida no mundo cripto, já que ferramentas transparentes e com informações públicas podem ser usadas por todos. Isso porque blockchains públicos contêm endereços de usuários com caracteres aleatórios, então não há como saber se uma conta é específica daquela pessoa (a menos que ela diga).
Se a tecnologia blockchain for adotada por um país, pode exigir responsabilidade jurídica daqueles que estão no poder, mas também pode ser usada por um governo autoritário para divulgar identidades digitais em um blockchain governamental e permissionado, interligadas a registros financeiros, históricos médicos e de trabalho e status legal de um cidadão, além de outras informações pessoais.
Assim, Robinson afirma que o cumprimento à lei foi algo fundamental na ascendência do bitcoin, pois empresas criaram departamentos específicos para trabalharem lado a lado de reguladores, principal função de sua empresa Elliptic e de outras, como Chainalysis e CipherTrace.
Porém, segundo a CoinDesk, Gladstein disse que as ferramentas sendo criadas pela Elliptic poderão ser usadas para o mal, para policiar o bitcoin. “No fim do dia, o que você está fazendo é vigilar, sem permissão, pessoas em outros países”, afirmou ele.
O argumento dele é que, conforme será mais fácil rastrear o que as pessoas fazem com o bitcoin, usuários ficarão mais atentos com o uso da criptomoeda, sabendo que empresas poderão rastrear a transação.
Isso foi muito útil em outubro de 2019, quando autoridades conseguiram interromper um esquema de pornografia infantil por meio da análise de blockchain, conseguindo rastrear onde estavam os criminosos.
Robinson defendeu a tecnologia porque a lei poderia ser aplicável quando houvesse um mandato, mas essas ferramentas desenvolvidas também poderiam vigilar quaisquer outros tipos de transações.
Além disso, para não serem rastreados, usuários usam “mixers”, ferramentas que misturam valores falsos e reais sem que a origem do remetente e do destinatário sejam descobertas. Esse tipo de ferramenta é usada por criminosos, mesmo que o seu principal propósito seja para manter a privacidade dos envolvidos na transação.
Gladstein afirmou que a rede Bitcoin está vulnerável a esses tipos de ferramenta de análise e que Elliptic deveria interromper suas atividades imediatamente, pois análises podem ser feitas por meio de um trabalho legítimo, já que a vigilância financeira “cria um ambiente de medo”.
“Eu gostaria que vocês se referissem como uma empresa de supervisão financeira, não uma empresa de análise sobre blockchain. É um eufemismo”, disse Gladstein a Robinson. “Você deveria vir para o nosso lado. Seria uma forma melhor de ter a consciência limpa.”
Em março, Gladstein já havia criticado a Coinbase por “encorajar novos clientes a considerar a variedade de tokens, incluindo vários projetos ‘zumbis’ ou de fraude, e equipará-los ao Bitcoin”, cuja polêmica se deu após a corretora admitir estar testando um aplicativo de reconhecimento facial da Clearview.
Clique aqui caso você queria saber entender melhor sobre o ambiente de “distopia” que pode resultar da vigilância financeira dos governos e empresas privadas.
Confira também a proposta de valor do bitcoin, se soluções de blockchain podem ter sucesso sem o apoio de reguladores e por que o bitcoin poderia ser útil em economias emergentes.