Eleições 2018

Ciro pode ser o Lula de 2002?

11 set 2018, 19:36 - atualizado em 12 set 2018, 0:48

O mercado financeiro brasileiro teve hoje o gostinho do que pode ser a rotina dos dias que irão anteceder a decisão final da disputa presidencial, o que deve ocorrer em 28 de outubro. Já é dado como certa a presença de Jair Bolsonaro (PSL) neste duelo, visto a eleva intenção de voto em lista e espontânea, mas é o seu possível concorrente que traz calafrios aos investidores. O Ibovespa terminou em queda de 2,33%, aos 74.656 pontos, e o dólar subiu forte 1,66% e fechou perto de R$ 4,15. O CBOE Brazil Etf Volatility, que mede a volatilidade implícita das opções do índice Bovespa, acrescentou 0,32%, para 53,04. É um novo máximo de em um ano.

Tendo em vista o desempenho ruim do deputado federal na etapa final, reflexo da rejeição crescente, o oponente provavelmente teria boas chances de assumir em 2019. Ganhou força nesta terça-feira (11) a ideia de que Ciro Gomes (PDT) pode ser essa pessoa. Enquanto Marina Silva (REDE) perdeu espaço de 16% para 11% na última pesquisa Datafolha, Geraldo Alckmin (PSDB) estacionou em 10% e Fernando Haddad cresceu de 4% a 9%, o pedetista passou de 10% para 13%. Além disso, ele teve a sua rejeição reduzida de 23% para 20%. Com isso, Ciro bateria Bolsonaro no pleito final por 45% a 35%.

“Agora com Lula definitivamente fora da disputa, investidores vão monitorar o desempenho de Ciro Gomes (especialmente) e Fernando Haddad a fim de dosar as chances de um segundo turno destes com Bolsonaro, assim como devem monitorar de perto eventual crescente de Geraldo Alckmin, quem ainda segue sem força, mesmo que vindo de 9% para 10% pelo Datafolha”, destaca a corretora H.Commcor em um relatório enviado a clientes.

Para o economista sênior para América Latina da Roubini Global Economics Pedro Tuesta, a questão a ser observada é quem vai chegar ao segundo turno com Bolsonaro. “Atualmente, parece que será alguém da esquerda, contra os desejos do mercado. Portanto, esperamos que o dólar permaneça acima de R$ 4, com o risco de testar novamente R$ 4,20 se Ciro ganhar terreno, o que acionaria a intervenção do Banco Central”, aponta em um relatório enviado a clientes nesta terça-feira (11) e obtido pelo Money Times.

A consultoria lembra que Ciro é está muito mais à esquerda do que Marina Silva. “De fato, Ciro está propondo uma reversão da privatização, ignorando o risco do déficit do sistema previdenciário e restringindo a independência do Banco Central. Embora Marina seja menos radical, ela não apóia a reforma previdenciária e está subestimando o risco de déficits fiscais. O mercado teme a vitória de Ciro e certamente cairá no segundo turno. O mercado não está tão preocupado com Marina, mas não se inspiraria com sua vitória”, destaca Tuesta.

Populismo

Assim como lembra o Terraço Econômico em um artigo recente, o então novo presidente Lula em 2002 fez rapidamente uma sinalização a honra dos contratos e da política econômica herdada de FHC e além disso, promoveu um processo de ajuste fiscal muito rigoroso alinhado com a expansão de programas sociais. O resultado foi que o Ibovespa entrou em rota fulminante de valorização. Antes de acalmar o mercado, contudo, a volatilidade nas semanas anteriores à confirmação da sua vitória foi muito expressiva.

O ex-governador do Ceará (90-94) e ministro da Fazenda de FHC (94-95) desenhou um plano que tirar mais de 63 milhões de brasileiros do SPC/SERASA. O plano seguiria, conforme outro belo artigo do Terraço, o seguinte desenho: bancos estatais comprariam com desconto os ativos vinculados àqueles que tem o “nome sujo” das instituições financeiras privadas e, portanto, se tornariam automaticamente os credores de quem está no SPC.

Esses bancos públicos, em seguida, ofereceriam um novo contrato para os maus pagadores, em que estes se comprometeriam a pagar suas dívidas, já no montante renegociado. Assim que assinassem esse acordo, os devedores “limpariam” seus nomes e estariam livres para tomar créditos novamente no sistema bancário. Ciro parece seguir a cartilha de aterrorizar o mercado com ideias mirabolantes durante a sua campanha, o que o deixa mais perto do Lula de 2006, mais populista, do que o paz e amor de 2002.

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