Opinião

CBOE suspende futuros de Bitcoin. É o início do fim das criptomoedas?

23 mar 2019, 13:42 - atualizado em 23 mar 2019, 14:13

Por Tanzeel Akhtar/Investing.com

Quando a Bolsa de Opções de Chicago (CBOE – Chicago Board Options Exchange) lançou os futuros de Bitcoin, o evento foi celebrado com bastante entusiasmo. Agora que a bolsa anunciou que não vai mais oferecer novos contratos, a notícia foi recebida com um ar de lamúria.

Obviamente, em dezembro de 2017, quando a CBOE se tornou a primeira bolsa a oferecer um derivativo de opções de criptomoeda, o Bitcoin e as demais moedas digitais estavam sendo negociadas em níveis estonteantes. Agora, o inverno no criptomercado já dura mais de um ano.

Quando os futuros de Bitcoin foram lançados, a expectativa era que tivessem um papel importante na legitimação dos criptoativos, impulsionando a demanda e oferecendo uma alternativa menos arriscada para novos investidores, tanto de varejo quanto institucionais.

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A suspensão dos futuros de Bitcoin pela CBOE é o início do fim das criptomoedas?

Ryan Radloff, CEO da CoinShares, acredita que esses contratos não foram cruciais para a infraestrutura mais ampla do criptomercado. “Não estávamos preocupados com a perda deles”, afirmou Radloff, que acredita que não haverá um real impacto.

Já a Bolsa Mercantil de Chicago (CME, na sigla em inglês) continuará negociando os futuros de Bitcoin. Ainda nas palavras de Radloff:

“Um dos exemplos de uso ‘setorial’ dos contratos futuros de BTC, pelo menos na comunidade das criptos, é para proteger as receitas provenientes da mineração de Bitcoin. No caso dos contratos com liquidação financeira da CBOE, o risco de se ter um preço de vencimento diferente daquele que realmente está disponível no mercado é muito alto para usá-los como um hedge eficiente, portanto a entrega física sempre vence.”

Laurent Kssis, diretora executiva da XBT Provider, resume a situação:

“Na corrida por produtos mais transparentes e de nível profissional, com mecanismos de descoberta de preço mais eficientes e maior liquidez, parece que a CBOE está cedendo o mercado para a CME.”

Sem dúvida, parte do problema dos futuros de Bitcoin da CBOE foi o baixo volume de negociação. De acordo com a CryptoCompare, de janeiro a fevereiro de 2019, os volumes da CBOE caíram cerca de 31%, enquanto a média diária da CME aumentou mais de 23%.

Average Daily Bitcoin Futures Volumes (Cortesia: CryptoCompare)

Em parte isso se deve ao fato de que a margem exigida para negociar futuros de BTC na CME é de 35%, ao passo que na CBOE a exigência é de 40%, por causa da volatilidade da criptomoeda.

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Kssis especula que o custo dos baixos volumes deve ter tido um peso maior do que quaisquer benefícios, em razão do preço subjacente em declínio do ativo:

“Do lado profissional, os market makers preferem fazer hedge de contratos futuros usando contratos com liquidação ‘física’ para reduzir o risco de uma possível manipulação no preço de liquidação. Com contratos de liquidação financeira, o preço de liquidação nunca é realmente eficiente no vencimento. Por isso, parecia que os compradores desses contratos eram simplesmente especuladores que aproveitavam a oferta de alavancagem.”

“Quando os tão aguardados contratos físicos chegarem ao mercado, eu acredito que a maioria dos contratos com liquidação financeira perderá seu atrativo, já que o mercado geralmente utiliza veículos com delta um mais eficientes e profissionais quando surge a oportunidade.”

Alguns participantes do criptomercado estão desapontados, mas reconhecem que a suspensão tem mais a ver com o modelo de negócios do que com um fracasso da classe de ativos.

En Hui Ong, diretora de desenvolvimento de negócios da Zilliqa, uma plataforma pública blockchain, afirmou:

“Embora alguns tenham receio de que o anúncio seja um sinal do interesse institucional cada vez menor, trata-se na verdade de uma questão de concorrência e conveniência. A concorrente CME possui seu próprio produto de futuros de Bitcoin, que é mais competitivo e interessante, pois 1 contrato da CBOE equivale a 1 Bitcoin (BTC) e 1 contrato da CME é igual a 5 BTC.”

Além disso, explica ela, em relação às liquidações, a CBOE também anunciou que só consideraria os preços da corretora de criptomoedas Gemini. A precificação em uma única fonte permite a manipulação dos preços, o que acarreta maiores riscos.

Por outro lado, a CME adotou uma abordagem muito mais razoável, utilizando a cotação de diversas exchanges, ao mesmo tempo em que alavancava seu próprio processo para mitigar a possibilidade de manipulação de preços. “Dessa forma”, segundo Ong, “o anúncio da CBOE não deve ser visto como um reflexo do interesse institucional em criptomoedas. Eles simplesmente não conseguiram oferecer um produto que ganhasse participação de mercado”.

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