Bancos centrais querem moedas digitais para rivalizarem com a China
Do Japão à União Europeia, países com diferentes circunstâncias econômicas estão dando um passo à frente em busca de uma moeda digital, tanto por questões geopolíticas, como para alcançar a China, e para tornar mais fácil a aplicação de políticas controversas como taxas de juros negativas.
Esse ritmo progressivo de desenvolvimento levou ao compartilhamento de recursos, em que bancos e empresas juntam pesquisas e, no caso do Fórum Econômico Mundial, até à emissão de um conjunto de ferramentas para ajudar a autoridades a lançar suas próprias criptomoedas.
Yuan digital está “progredindo calmamente”
Uma possível catálise para o rápido desenvolvimento do yuan digital foi o anúncio da Libra do Facebook no ano passado, que pareceu ter impulsionado o Banco Popular da China (PBoC) a agilizar o desenvolvimento por conta de que preocupações sobre a criptomoeda de Zuckerberg pudesse prejudicar o projeto.
Mas enquanto a Libra bateu de frente com um muro de reguladores em outubro, o yuan digital continuou progredindo.
Os primeiros pilotos da nova moeda foram testados em Shenzhen e Suzhou no fim de 2019 e viram o sistema DC/EP (moeda digital/pagamento eletrônico) ser aplicado no mundo real “como no transporte, educação e no tratamento médico”, de acordo com Caijing, revista financeira local.
Apesar de os resultados não terem sido divulgados, uma declaração do PBoC no início de janeiro afirmou que os testes foram um sucesso e que o desenvolvimento da moeda digital emitida por banco central (CBDC) estava “progredindo calmamente”.
No entanto, até agora, nenhuma linha do tempo foi emitida para o resultado oficial, deixando outras superpotências inquietas já que aguardam pelas possíveis consequências do Partido Comunista Chinês (CCP) dominar essa tecnologia financeira emergente.
“Uma preocupação de segurança nacional”
Para Washington, o yuan digital ameaça retirar o balanço do poder financeiro global do dólar americano, além de reduzir a capacidade de os EUA aplicarem sanções econômicas a adversários. Isso chamou a atenção dos líderes globais na semana passada em Davos durante o Fórum Econômico Mundial.
A discussão considerou uma situação hipotética, anteriormente explorada em uma simulação de crise em Harvard, em que o yuan digital foi utilizado na parceira comercial da China, a Coreia do Norte, para evitar sanções globais e financiar o desenvolvimento de um míssel de longo alcance que poderia atingir a costa norte-americana.
Ao falar sobre a gravidade da situação, Neha Narula, líder da simulação, afirmou que “deixa claro que isso (o desenvolvimento do yuan digital) é uma preocupação de segurança nacional”.
Apesar de os EUA estarem atrasados na questão de CBDCs, iniciativas de desenvolvimento estão sendo tomadas por Chris Giancarlo, ex-presidente da CFTC (Comissão de Negociação de Futuros de Commodities) — também conhecido como “criptopapai” — que deu seu primeiro discurso em relação ao dólar digital em Davos.
Ele explicou aos presentes como sua Digital Dollar Foundation planeja combater adversários dos EUA, como a China, com uma plataforma regulamentada para negociar as “verdinhas” no blockchain.
Além dele, especialistas em blockchain do Fórum Econômico Mundial aproveitaram a oportunidade de lançar um “Instrumentário para a Elaboração de Políticas de CBDC” para ajudar os países a pesquisar e utilizar CBDCs.
Isso pode ser útil para o Japão, uma das sociedades mais dependentes de dinheiro em espécie do mundo, que recentemente começou a busca por uma criptomoeda soberana.
Um grupo de legisladores japoneses disse, semana passada, que estariam trabalhando para criar uma CBDC em resposta à Libra do Facebook e ao yuan digital da China: “China está avançando para emitir um yuan digital, então gostaríamos de propor medidas para combater tais iniciativas”, afirmou Norihiro Nakayama, vice-ministro parlamentar de Relações Exteriores.
Assim como o Fórum Econômico Mundial, bancos europeus também estão incentivados. O Banco da Inglaterra anunciou que está fazendo pesquisas com o Banco do Japão, o Banco Central Europeu (BCE), o Banco Central da Suécia (Sveriges Riksbank), o Banco do Canadá, o Banco Nacional da Suíça e o Banco de Compensações Internacionais (BIS) para analisar o efeito das CBDCs na estabilidade financeira e política monetária.
Conforme entramos na nova década, podemos esperar que mais países emitam criptomoedas soberanas. A pesquisa anual mais recente do BIS mostrou que 10% dos Bancos Centrais estão “iminentemente próximos” de fazê-lo, e outros 30% estão planejando continuamente.