Economia

Após Bolsonaro “entregar o ouro” na reforma, equipe tenta evitar desidratação da Nova Previdência

01 mar 2019, 10:06 - atualizado em 01 mar 2019, 10:06
Alan Santos/PR

Por Arena do Pavini

O presidente Jair Bolsonaro cometeu mais um “sincericídio” ontem, o que pode complicar a já difícil negociação no Congresso da reforma da Previdência, ou a Nova Previdência, como o governo chama. Em entrevista a jornalistas, o presidente admitiu que aceita reduzir de 62 anos para 60 anos a idade mínima de aposentadoria das mulheres, mudar o benefício de assistência social para idosos miseráveis e as regras de pensão por morte. Alguns dos pontos mais polêmicos a serem negociados com o Congresso e que já vinham enfrentando forte oposição.  A reação do mercado foi imediata e o Índice Bovespa caiu 1,77% ontem.

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A afirmação do presidente, que já indica um recuo antes mesmo do início das discussões no Congresso nesses pontos, que são importantes para a reforma, deixou em pânico a equipe econômica e a base do governo e surpreendeu os líderes do Congresso. A expectativa agora é que se monte uma equipe de “bombeiros” e todos tentem colocar “panos quentes” nas declarações, para evitar que a reforma seja mais desidratada do que já se esperava que seria.

Foi o que fez hoje a deputada federal Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, que disse em entrevista à Rádio CBN que a fala de Bolsonaro estava sendo mal-interpretada, que o que ele queria dizer é que a palavra final seria do Congresso e que os parlamentares devem participar da criação da Nova Previdência. Segundo ela, Bolsonaro não quis dizer que ia “abrir a porteira” para mudar o projeto, que precisa chegar a uma economia de R$ 1 trilhão para evitar que o país quebre, mas que aceita negociar alguns pontos. Ela disse que conta com o apoio dos governadores, que precisam das reformas para organizar suas contas, sob o risco de não ter recursos para pagar salários no fim deste ano.

Mudanças podem reduzir a economia quase pela metade

Para a LCA Consultores, é  certo que o governo terá de ceder na sua proposta de reforma da previdência. O risco de sinalizar com flexibilizações antes mesmo de o projeto começar a tramitar na Câmara Federal é de novas concessões a partir do que foi indicado pelo presidente. O Itau Unibanco, por exemplo tralhava com a aprovação de uma proposta quase equivalente à de Michel Temer. O banco espera que saiam da Nova Previdência o tempo de contribuição de 20 anos, o aumento da idade para as trabalhadoras rurais, a contribuição rural de 8% e a desvinculação do BCP do salário mínimo, além de o tempo de transição para as novas normas ser ampliado. Com isso, a economia em 10 anos cairia de 2,5% do PIB, ou R$ 1 trilhão, para algo entre R$ 850 bilhões e R$ 550 bilhões em 10 anos.

Para a LCA, a sinalização do presidente de que mudanças na proposta de Reforma da Previdência Social poderão ser adotadas atende a um apelo de lideranças partidárias. Bolsonaro foi aconselhado por deputados a não repetir o ex-presidente Michel Temer, que insistiu em pontos polêmicos, o que tornou a proposta ainda mais impopular e prejudicou a votação do texto. “Se incluiu bodes na sala, tem de tirar o mais rápido possível para não comprometer a reforma”, disse o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA).

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem insistido no ponto de que é preciso “compensar” cada mudança com outras.

Presidente “piscou”

Jason Vieira, economista-chefe da corretora Infinity, usa a figura do jogador para descrever o episódio. “Ao lidar com o Congresso, o presidente seria o equivalente a um jogador de pôquer com uma boa mão, mas que começa a sorrir e suar de felicidade antes de fazer uma aposta, ou seja, parece que não sabe jogar o jogo”, afirma. “Dizer que ‘existe gordura para queimar’ é dar aos deputados exatamente o que eles queriam para satisfazer suas bases, argumentos contra pontos da reforma” diz. “Seria cômico, se não fosse trágico.”

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