Alex Nascimento: tokenização de ativos alternativos é o futuro do mercado de investimentos
Constantemente, empresas procuram formas de adquirir capital para seus projetos e garantir suas expansões. No mercado tradicional, empresas geralmente buscam recursos através de ofertas públicas iniciais (IPOs), disponibilizando ações da empresa em bolsa de valores.
Desta forma, a venda de ações ocorre para investidores, tornando as ações de uma empresa privada em títulos públicos, líquidos e sujeitos a reguladores financeiros.
Com a inovação da tecnologia blockchain, uma nova forma de aquisição de financiamento surgiu a partir das “initial coin offerings” (ICO).
Essa prática de angariação de fundos se popularizou em 2017 mas, em pouco tempo, foi considerada fraudulenta ou não regulamentada por governos e grandes reguladores do sistema financeiro mundial.
Após uma série de eventos regulatórios e da persistência e inovação de alguns empreendedores líderes na indústria deblockchain, foi criado o segmento de “security token offerings” (STOs).
Security tokens são arquivos digitais que representam um contrato de investimento regulamentado e registrado em um blockchain. São similares a uma “ação ao portador” digital e esse arquivo é imutável, o que torna a transição de valor mais segura e transparente.
Consequentemente, seguindo os parâmetros das leis que regem os mercados financeiros internacionais, hoje, diversos projetos buscam investimentos via emissão de STOs.
Em geral, STOs representam frações de ativos alternativos ilíquidos como imóveis, ações de startups, e títulos de dívidas. O portador desses STOs tem todo o direito de posse e regulamentação do seu investimento garantido por lei.
Ao tokenizar ativos ilíquidos, por meio de fracionamento, a capacidade de liquidez do ativo aumenta. Isso ocorre pois a tecnologia blockchain oferece maior agilidade e segurança para investidores na comercialização e transferência destes ativos em um mercado 24x7x365.
Existem plataformas específicas para a negociação de ativos alternativos utilizando a tecnologia blockchain.
Essas plataformas de negociações de STOs, ou “STO Exchanges”, proporcionam transações extremamente ágeis, com custos muito menores do que o praticado no mercado convencional.
Essas vantagens competitivas ocorrem devido à automatização dos processos de administração, liquidação, pagamento e transferência dos ativos — todos feitos via blockchain.
Plataformas de negociação de STOs, como a americana tZERO ou a asiática iSTOX, realizam a comercialização de STOs através de redes decentralizadas e “smart contracts” para garantir uma negociação transparente, imediata e regulamentada.
Para realizar essa comercialização, as plataformas devem ser credenciadas, seguindo procedimentos de “Know Your Client” e antilavagem de dinheiro (KYC/AML), cumprindo regulamentos da sua jurisdição local.
Como, por exemplo, a plataforma tZERO, subsidiária da varejista Overstock, competidora direta da Amazon, lançou uma STOs airdrop em maio de 2020, como pagamento digital de dividendos aos acionistas da Overstock.
Cada acionista recebeu um token OSTKO para cada dez ações da OSTK (Overstock.com Inc.), sendo emitidos um total de 4,37 milhões de tokens, que são registrados na Comissão de Valores Mobiliários (“Security Exchange Commission” ou SEC) dos EUA.
Essa estratégia visa aumentar o valor e a liquidez da plataforma. Mais recentemente, a tZERO também listou o ASPEN token, uma das STO pioneiras no mercado que representa a participação fracionada nos 179 quartos do luxuoso hotel St. Regis em Aspen, CO.
A busca pelo ASPEN token foi tão grande que a plataforma americana teve um aumento no volume de transações na ordem de 1.500%! Porém, não é só nos EUA que imóveis tradicionalmente ilíquidos estão sendo negociados de forma fracionalizada via blockchain.
No Brasil, o STO imobiliário emitido pelo banco de investimentos BTG Pactual, ReitBZ, vai distribuir mais de R$ 480 mil em dividendos pagos através de “smart contracts” registrados na rede blockchain da Tezos.
Plataformas de negociações de ativos alternativos tokenizados, como a tZERO ou o Mercado Bitcoin, permitem uma maior transparência e segurança na comercialização destes ativos.
Com plataformas baseadas em tecnologia blockchain, o armazenamento de registros e informações em um banco de dados descentralizado garante a imutabilidade e segurança das transações e informações, trazendo maior confiabilidade para os investidores.
Uma vez que esses registros estão em um ambiente descentralizado e compartilhado, não há necessidade de reconciliação entre os envolvidos no processo de comercialização do ativo.
Ao utilizar “smart contracts”, o processo elimina diversas burocracias, reduzindo o tempo de liquidação e pagamento, aumentando a produtividade e eficiência do processo.
Além disso, essas bolsas de tokens de ativos alternativos são capazes de simplificar o processo de custódia, compensação e negociação, com valores mais acessíveis aos emissores dos tokens como, por exemplo: startups.
Dessa forma, instigam emissores a lançarem novos produtos e buscarem capital para suas empresas e projetos.
Um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) observou que, devido às alterações econômicas mundiais causadas pelo COVID-19, investidores têm alterado o seu perfil de aplicações e buscando maior proteção, adaptação e inovação para sua carteira de investimentos.
Essa alteração aponta para um aumento em investimentos alternativos que, até 2024, serão responsáveis por 17% da escala global de gerenciamento de ativos e 49% da receita do setor global, segundo o BCG.
Essa escolha por investimentos alternativos também vem ganhando força no Brasil.
Devido ao juros historicamente baixos (a taxa Selic em torno de 2,25%), a demanda por investimentos alternativos como direitos creditórios e precatórios vêm crescendo onde, no último ano, cerca de R$ 400 milhões em precatórios foram investidos por pessoas físicas.
A tokenização de ativos alternativos permite fracionar e vender uma ação judicial, avaliada em milhões de reais, em milhares de títulos digitais (tokens) referentes.
Nos últimos 12 meses, títulos de divida pública como precatórios e direitos creditórios têm sido tokenizados e ofertados ao publico em geral via plataformas como o Mercado Bitcoin.
Desde o lançamento do produto de precatórios, o Mercado Bitcoin já vendeu R$25 milhões em tokens, todos em tempo recorde!
Com o crescimento do segmento de investimentos alternativos tokenizados no mercado brasileiro, outras empresas como a Sollo Capital buscam pela inovação da tecnologia blockchain para oferecer investimentos de renda fixa com prazos e ganhos superiores à tradicional poupança.
Além de tokens representativos de títulos de dívida brasileira, a Sollo também oferece tokens representando frações de imóveis americanos para seus clientes.
Como se pode observar, investimentos em ativos alternativos vêm ganhando território no mercado financeiro brasileiro, principalmente quando apoiados por tecnologia e representados por tokens registrados no blockchain.
As bolsas internacionais de negociação de STOs ainda contribuem para que startups, bem como pequenas e médias empresas, acessem mercados públicos e conquistem financiamentos de maneira mais fácil e ágil.
E, para os investidores, a comercialização de tokens de valores mobiliários proporciona uma maior diversificação da sua carteira de investimentos, com ativos com maior rentabilidade, adquiridos de maneira segura e transparente, principalmente visando a proteção de capital em um cenário econômico instável com o de hoje em dia.
Dessa forma, a negociação de ativos alternativos se tornarão um dos destaques de investimento nos próximos anos, mudando o futuro do mercado financeiro.
Alex Nascimento é professor de Blockchain & STOs na universidade americana UCLA e também é cofundador do UCLA Blockchain Lab. É autor do livro The STO Financial Revolution. Alex é um profundo conhecedor do mercado de valores mobiliários tokenizáveis e, neste artigo, tratou justamente sobre o panorama atual de bolsas de STOs pelo Brasil e pelo mundo.