Coluna da Yolanda Fordelone

Zona de arrebentação: como cruzar essa linha e se tornar investidor de verdade?

04 set 2023, 14:06 - atualizado em 04 set 2023, 14:06
Poupança, investidor
A analogia do surfe já abordada traduz muito bem a montanha que o investidor deve enfrentar nos primeiros anos de aplicação. (Imagem: Freepik)

Ninguém vai te falar isso, mas você só vai se tornar um investidor de fato depois de aproximadamente 5 anos investindo regularmente. Esse é o período médio que os investidores levam para ultrapassar a zona de arrebentação, uma analogia do surfe que pode ser trazida para o mundo dos investimentos.

Longe de mim ensaiar pegar ondas. A minha praia mesmo são os investimentos. Contudo, esses dois mundos se encontram nesta linha de arrebentação.

A zona de arrebentação no surfe é aquela linha da praia onde as ondas quebram. Surfistas ficam meses (quando não, anos) treinando para conseguir remar e ultrapassar essa linha. Muitos, inclusive, desistem antes.

Quando tal zona é ultrapassada o esporte fica mais “fácil”, pois o esforço da remada diminui significativamente.
Nos investimentos, muitas pessoas também nadam e desistem cedo. O esforço de economizar, por vezes, é enorme e parece que não saímos do lugar.

Depois de aproximadamente cinco anos investindo todos os meses, porém, você passa a zona de arrebentação: o rendimento dos seus investimentos se equiparam a quanto você aportava mensalmente.

Traduzindo em números, vamos supor que você tenha se comprometido a investir R$ 500 por mês. Após aproximadamente cinco anos, você conseguirá ter juntado um patrimônio suficiente cujo rendimento equivale aos mesmos R$ 500.

Em termos práticos, a partir desse marco seu esforço fica menor porque seu patrimônio já crescerá como se você tivesse fazendo um aporte de R$ 500 por mês.

Isso não significa que você deva parar de economizar e investir, mas em qualquer eventualidade – como uma emergência ou um desemprego – seus investimentos seguirão remando sozinhos.

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Qual o tamanho da sua montanha?

A analogia já abordada por algumas referências do mercado traduz muito bem a montanha que o investidor deve enfrentar nos primeiros anos de aplicação. É um caminho longo, cansativo e cheio de percalços, mas que tende a se tornar mais prazeroso e automático conforme o tempo passa.

O bilionário Luiz Barsi Filho, maior investidor individual da bolsa, também comenta sobre o feito em seu livro “O Rei dos Dividendos”. Em certa passagem, ele se recorda de quando descobriu que não precisava mais tirar dinheiro do próprio bolso para investir no mercado acionário, pois os próprios dividendos já serviam como combustível para ele comprar mais ações.

Nesse momento, o mais difícil é manter o plano. Barsi optou por continuar trabalhando com corretagem e aplicando tudo o que sobra no fim do mês, o que deu mais velocidade ainda no crescimento do patrimônio dele.
Após passar essa zona de arrebentação, você não deve diminuir o esforço de investir. Pelo contrário, o ideal é se manter ativo e aplicando a mesma quantia que já estava investindo.

Investidor: Qual o tempo?

Agora que você já entendeu a importância de chegar a este marco, mas também a armadilha de se acomodar, deve estar se perguntando quanto tempo demora para chegarmos nessa linha. Como boa economista, minha resposta é “depende”. O tempo está diretamente ligado à taxa de rentabilidade da sua carteira.

Com uma rentabilidade de 12% ao ano, em seis anos o patrimônio já terá atingido um volume suficiente que se investido rende o valor investido mensalmente. Em outras palavras, se tivesse aplicado R$ 500 por mês a esse retorno de 12% ao ano, em seis anos o dinheiro investido já rende R$ 500 por mês, valor que pode ser reaplicado e assim se criar o efeito bola de neve.

Considerando um retorno mais factível, de 10% ao ano, o tempo aumenta para pouco mais de sete anos de aplicações regulares. Se for ainda mais conservador e projetar um retorno de 8% ao ano, o tempo da zona de arrebentação aumenta para nove anos.

Vale pontuar que esse tempo serve não só para você conseguir escalar essa primeira montanha dos investimentos, mas também para amadurecer como investidor. Em seis anos, o investidor já vai ter passado por mais de um governo, pode ter vivenciado momentos de alta e queda de juros, crises, entre outros episódios que o fazem amadurecer na tomada de decisão.