Zeina Latif: Não há exagero na curva de juros futuros. E mais: ela ainda não precificou tudo
Até quem já se acostumou com a menor taxa básica de juros da história (2% ao ano) sabe que ela tem prazo de validade. O último Boletim Focus mostra que, na média, as instituições financeiras já projetam uma taxa Selic de 3% no fim do ano que vem, subindo para 6% em 2023.
Outro indicador de que o mercado aposta num aperto da política monetária é a curva dos contratos de juros futuros. Os papéis com vencimento em janeiro de 2031, por exemplo, embutem um juro DI de 8,33%.
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O movimento não passou despercebido e provoca grande debate sobre se o mercado está exagerando ao precificar juros tão altos. Para Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP Investimentos e atual consultora da Gibraltar, a resposta é um convicto “não”.
“Não acho que há exagero na curva de juros futuros”, afirmou Latif, durante um painel no evento Investidor 3.0, promovido pela Empiricus Research e pela Vitreo. Ela pondera que diversos fatores influenciam na precificação desses contratos, como o horizonte de vencimento e o tipo de papel.
Rombo fiscal pesa
Mesmo assim, Latif acredita que há motivos consistentes para esperarmos uma subida gradual dos juros nos próximos anos. E mais: a curva ainda não captou tudo. “Eu não diria, neste momento, que tudo já está precificado [na curva de juros]”, disse.
O que mais a preocupa é os desencontros e inconsistências do governo, ao combater o rombo fiscal. “Vejo que o governo não tem condições de emplacar uma agenda de reformas”, explicou, “e, com a provável flexibilização do teto de gastos, acredito que a situação fiscal vai piorar, antes de melhorar”.
Outro complicador é que as soluções propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, não atacam o cerne do déficit fiscal. Latif classificou de “pequeno atalho” a intenção da equipe econômica de usar parte das reservas para reduzir a dívida pública.
“Me preocupa, quando Guedes procura pequenos atalhos para reduzir a dívida”, disse. “Não são eles que vão mudar fundamentalmente a dinâmica da dívida”, completou. Mesmo as privatizações, que ainda não saíram do papel, são um paliativo.
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Para Latif, não há caminho fácil para reequilibrar as contas e resgatar a credibilidade do Brasil junto aos investidores. A tarefa só poderá ser cumprida corretamente, segundo a economista, quando o governo voltar a focar no essencial: gerar superávit primário, garantir a estabilidade macroeconômica, e promover o crescimento do PIB.
Contramão
Latif, contudo, enxerga o governo caminhar na direção oposta, ao flexibilizar o teto de gastos. Ela lembra que o teto foi criado como uma espécie de garantia de que o Brasil não estouraria as contas, após perder o grau de investimento e ver a política desenvolvimentista de Dilma Rousseff, batizada de nova matriz econômica, reverter as conquistas anteriores.
“Se tivéssemos credibilidade para fazer ajuste fiscal, não precisaríamos do teto de gastos. A regra do teto ajuda a construir uma boa reputação no mercado”, explica. Assim, os investidores só concordariam com a flexibilização, se o governo de Jair Bolsonaro sinalizasse claramente com uma rota para o crescimento. O problema é que isso está longe de acontecer.
O Investidor 3.0 é um evento promovido pela Empiricus e pela Vitreo. Durante toda a semana, painéis discutiram as principais questões do mundo dos investimentos, empreendedorismo e economia, sempre com a participação de grandes nomes dessas áreas.
Veja a programação completa do Investidor 3.0 desta sexta-feira (27)
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