XP tomará ‘medidas legais’ contra empresa de análise que a acusou de esquema de pirâmide; ação cai

A XP (XP; XPBR31) reagiu ao relatório que a acusou de praticar um esquema de pirâmide financeira e informou que tomará “todas as medidas legais cabíveis” contra a empresa americana de análise Grizzly Research, responsável pelo material.
A XP classificou as informações como “falsas, incorretas e imprecisas” e reforçou seu comprometimento com a ética, a transparência, a conformidade regulatória, a governança e o cumprimento da lei.
Por volta das 15h40, a ação da XP tinha queda de 5,61%, a US$ 14,12. A corretora tem ações negociadas na bolsa norte-americana Nasdaq.
“A companhia cumpre com a lei e segue todas as normas estabelecidas por órgãos reguladores, como CVM, SEC, Banco Central, dentre outros, e tem suas operações auditadas regularmente por instituições independentes.”
O que diz o relatório?
No relatório, a casa afirma que a XP está “executando um esquema Ponzi massivo”, que nada mais é do que uma pirâmide financeira. Nesses esquemas, os retornos pagos aos investidores vêm do dinheiro de novos participantes, e não de lucros reais.
O centro do esquema, segundo a Grizzly, estaria em um fundo da XP chamado Gladius, que retornou mais de 2.419% nos últimos cinco anos com volatilidade baixa.
Para a empresa, o segredo do produto é o chamado COE, ou Certificado de Operações Estruturadas.
“COEs são produtos de investimento predatórios que a XP empurra agressivamente para seus clientes de varejo brasileiros”, afirma o relatório.
A Grizzly diz ainda que consultou formadores de XP e pessoas que têm conhecimento do funcionamento interno da Gladius.
“Eles nos confirmaram que a Gladius está pagando indevidamente novos prêmios que recebe da venda de produtos COE para a XP como lucros”.
“Ponzi tipo Madoff”
Outro trecho diz que um ex-funcionário teria confirmado que o esquema só continua a funcionar enquanto a XP for capaz de vender mais COEs.
“Assim que os fluxos pararem de crescer, o sistema desmorona e a XP pode ser responsabilizada por enormes obrigações que não pode cumprir. Insiders chamaram a Gladius de um “esquema Ponzi tipo Madoff”.
O investidor Bernie Madoff comandou o maior esquema Ponzi da história.
Seu golpe foi descoberto em 2008, durante a crise financeira, quando novos aportes secaram e ele não conseguiu mais sustentar os pagamentos, causando um prejuízo estimado em US$ 65 bilhões.
Madoff foi condenado a 150 anos de prisão e morreu em 2021.
Relatório cometeu erro, diz Ativa
Em rápido comentário enviado a clientes, a Ativa afirma que o relatório cometeu um erro ao comparar os R$ 167 bilhões em ativos da XP Asset com o volume total de ativos sob custódia do conglomerado.
“Atualmente, os ativos de clientes assessorados pela XP somam R$ 1,08 trilhão, o que torna totalmente factível que os fundos tenham gerado essa contribuição de receita, especialmente devido à alta penetração de produtos predatórios em sua base de clientes, como o próprio relatório mencionou”.
A casa lembra ainda que a XP teve um ROA (retorno sobre ativos) exclusivo de investimentos próximo a 1%, o que vai em linha com uma receita de R$ 11 bilhões.
Essa não é a primeira vez que surgem notícias envolvendo o fundo Gladius. Mas segundo fontes de mercado, o fundo na verdade é um veículo usado pela XP para auferir as receitas com taxas e spreads nas negociações com clientes no varejo. Ou seja, a volatilidade é baixa porque praticamente não assume riscos de mercado.
Quem é a Grizzly Research?
Em sua página, a Grizzly se diz uma casa que faz relatórios baseados em opiniões, não em fatos. A casa também é especializada em buscar “pesquisas diferenciados sobre empresas de capital aberto por meio de due diligence aprofundada”.
“Muitas vezes, descobrimos que as equipes de gestão estão fazendo esforços conscientes para esconder aspectos negativos do público e, em meio à máquina perpétua de classificação de compra de Wall Street, não há ninguém para chamá-los. Não temos medo de publicar nossas visões pessimistas”.
Por fim, vale lembrar que é comum no mercado norte-americano casas de análise especializadas em teses short (vendidas) em ações.