Política

Xi Jinping na terra do Tio Sam: Por que China e Estados Unidos enfrentam pior momento diplomático dos últimos 40 anos

13 nov 2023, 17:47 - atualizado em 13 nov 2023, 17:50
Joe Biden Xi Jinping China Estados Unidos
Xi Jinping faz sua primeira viagem aos Estados Unidos desde a presidência de Donald Trump (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)

O presidente chinês, Xi Jinping, fará a sua primeira viagem aos Estados Unidos desde 2017, quando a Casa Branca era ocupada por Donald Trump.

Naquela oportunidade, o líder chinês foi recebido na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida, para um longo encontro que só se encerrou depois de ter sido servido o “pedaço de bolo de chocolate mais bonito do mundo” (como descrito por Trump na época).

Quase sete anos depois, a chegada de Xi aos Estados Unidos ocorre em circunstâncias muito menos íntimas. Afinal, os países passam pelo momento mais crítico desde a normalização diplomática em 1979.

Além de participação na cúpula do Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que ocorre em São Francisco, na Califórnia, Xi Jinping terá um encontro separado de quatro horas com Joe Biden na quarta-feira (15).

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, a pauta girará em torno da “paz e do desenvolvimento global”.

A porta-voz da pasta, Mao Ning, fez um complemento à nota, dizendo que a China “não tem medo da concorrência”, mas que são contra a “definição dos termos de concorrência [colocada pelos americanos]”.

Protocolarmente, o presidente americano disse esperar colaborar com a China em assuntos de interesse comum.

Mas para além das linhas mornas na diplomacia, o encontro de portas fechadas deverá ser um verdadeiro campo minado. Confira o contexto em que ocorre a conversa dos dois líderes mais poderosos do mundo ocorre.

Taiwan leva a pior momento diplomático entre superpotências desde 1979

A invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, mudou a percepção de risco dos Estados Unidos ante uma ação militar da China em Taiwan.

Para muitos membros do governo americano, o orçamento de US$ 1 trilhão para Defesa dá sinais de que a China se prepara para reintegrar a ilha — que é sede da oposição ao Partido Comunista Chinês desde 1949 —  por meio da força.

“Executar a completa reunificação é a aspiração comum do povo”, dissera Xi em um evento recente do governo.

Nesse contexto, exercícios militares de Pequim no Estreito de Taiwan se tornaram mais ousados e frequentes. Em diversas ocasiões, o governo chinês falou em “consequências drásticas” contra agentes externos que consideram intervir neste assunto.

O aumento das tensões com a China levam os Estados Unidos a testar os limites da sua política de “ambiguidade estratégica”, que define o reconhecimento de Pequim como governo legítimo da China, ao mesmo tempo que apoia econômica e militarmente o governo de Taipei (capital de Taiwan).

E a ajuda militar ofertada pelos Estados Unidos a Taiwan nunca foi tão explícita. Um símbolo disso é a aprovação recente de um pacote de US$ 80 milhões para a ilha,  sob o programa de financiamento militar estrangeiro (FMF, na sigla em inglês).

Diferentemente de um empréstimo convencional, o FMF usa dinheiro vindo da contribuição tributária dos americanos e só havia sido utilizado para auxiliar países reconhecidos pela diplomacia norte-americana. Taiwan marca uma guinada.

Outra evidência desse pivô dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico foi a retomada do “Quad” em 2017, uma aliança militar-estratégica informal composta por Austrália, Índia, Japão, além do próprio Estados Unidos, e que tem por objetivo contrabalancear a influência chinesa no Mar do Sul da China.

Guerra de semicondutores

China e Estados Unidos levam à cabo a última versão da guerra comercial começada em 2017 pelo ex-presidente Donald Trump: o mercado de semicondutores de última geração.

Desde 2022, a administração Biden e o Congresso americano atuaram para aprovar o “Chips and Science Act”, legislação que visa desenvolver a indústria doméstica de semicondutores por investimentos em tecnologia e incentivos fiscais para companhias como Intel, Nvidia e a Advance Micro Devices. 

A legislação também cria condições para a chegada de uma planta da taiwanesa TSMC, empresa de produção de chips mais especializada do mundo, nos Estados Unidos já no ano que vem.

Mas além de uma dimensão econômica e interna, a lei aprovada em agosto do ano passado estabelece travas legais para a exportação de tecnologias do interesse de segurança nacional para a China. Dessa forma, os Estados Unidos visam diminuir acesso a dispositivos que possam acabar incorporando o poderio militar do país rival.

Desde então, diversas fabricantes de semicondutores de última geração precisaram incorporar em suas rotinas selos de autorização especial para o envio dos produtos ao mercado chinês — o que vem gerando reclamações de tubarões do setor.

Jensen Huang, CEO da Nvidia, disse que os Estados Unidos arriscavam infligir um “severo dano” ao seu setor de tecnologia, além de um “tiro no pé” do próprio Chips Act.

“Se a China não pode comprar dos Estados Unidos, eles construirão por conta própria. Então os EUA devem ser cuidadosos”, chegou a comentar.

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