Wuhan, 3 anos depois: como está a reabertura da China pós-pandemia?
Neste sábado, 8 de abril, Wuhan relembra o fim de 76 dias de lockdown. Há exatos três anos, a cidade chinesa que ficou conhecida no mundo como o primeiro epicentro de coronavírus era reaberta depois de passar por medidas emergenciais contra a covid-19.
Mas a reabertura da China como um todo só se deu na virada de 2022 para 2023, com o fim da política de Covid Zero. A estratégia de combate à doença entrou em vigor com Wuhan servindo de modelo das ações de política pública em surtos posteriores.
Desde então, passou a fazer parte da rotina no país asiático a adoção de isolamento social, testagem em massa, rastreamento e tratamento dos infectados. Porém, a própria característica do vírus, cada vez menos letal e mais infeccioso, colocou essa estratégia em xeque.
Até então, uma “guerra de narrativas” testava o que o governo chinês via como uma eficácia no combate ao coronavírus. Aos olhos do Ocidente, os chineses falharam em lidar com o contágio da covid-19 e fracassaram em controlar a cadeia de infecção. Como resultado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma pandemia, em março de 2020.
Algum tempo depois, surgiram problemas internos. Protestos em várias cidades no fim do ano passado mostraram a frustração e o cansaço de parte da população com essas restrições contínuas. A partir daí, houve uma rápida reversão de várias medidas. A reabertura das fronteiras, em janeiro deste ano, abandonou o último resquício de proteção à doença na China.
China, 3 meses depois
Desde então, a expectativa era de que a história de recuperação econômica chinesa fosse a mesma observada após a reabertura em grande parte dos países que passaram por lockdowns. Ou seja, as atividades mais afetadas pelos bloqueios – como hotéis, restaurantes e cinema – teriam um desempenho melhor do que as menos afetadas.
Mas não foi bem isso o que aconteceu. “A recuperação da China avança de forma bem diferente das reaberturas anteriores observadas em outros lugares”, comenta a economista da Capital Economics para a China, Sheana Yue.
Segundo ela, isso pode ser verificado pelos indicadores econômicos divulgados na semana que passou. “O índice dos gerentes de compras (PMI) tanto oficial quanto o do Caixin lançaram luz sobre outro fator de recuperação no setor de serviços”, comenta.
Ambos os indicadores subiram para níveis nunca vistos desde o primeiro bloqueio, em 2020, impulsionados por novas encomendas e pela criação de empregos nos serviços. Mas também indicaram uma atividade mais forte na construção civil.
“Os números sugerem que essa melhora é mais apoiada nos investimentos em infraestrutura do que na retomada do setor imobiliário e das vendas de imóveis”, observa Yue. Portanto, a recuperação continua recebendo apoio do setor público, ao passo que o setor privado ainda não se recuperou.
Por outro lado, a atividade industrial perdeu força. “Isso se deve ao arrefecimento da demanda global e ao estágio ainda inicial da recuperação da demanda doméstica”, observa a economista do Julius Baer, Susan Joho.
Recuperação sui generis
Além disso, os dados previstos para a próxima semana tendem a reforçar essa recuperação singular na China. Afinal, ao contrário do observado em várias partes do mundo, a inflação por lá não assusta nem um pouco.
O índice de preços ao consumidor (CPI) chinês deve subir menos de 1% em março, em base anual, refletindo um declínio nos preços de alimentos e combustíveis. Já o índice de preços ao produtor (PPI) deve intensificar o ritmo de queda, recuando 2,5%, também na comparação com um ano antes.
“Os dados de inflação devem enfatizar que a recuperação da China está se desenvolvendo de forma bem peculiar”, conclui a economista da Capital Economics. Ainda assim, só o tempo dirá se essa retomada chinesa será incomparável (ou não).