Economia

WHY NATIONS FAIL? Um resumo do clássico de Daron Acemoglu

15 nov 2018, 11:00 - atualizado em 12 nov 2018, 19:17
(Reprodução/Terraço Econômico)

Por Leonardo de Siqueira Lima, economista pela EESP/FGV e mestre em economia pela Barcelona Graduate School of Economics – Para o Terraço Econômico

No verão de 1945, a colônia japonesa da Coreia entrou em colapso. Com o Japão se rendendo, a Coreia foi dividida no 38° paralelo em duas partes. A Coreia do Norte ficou sob controle soviético. E a Coreia do Sul sob o controle Americano.

A Coreia do Norte tinha como líder Kim Il-Sung, um ditador que se estabeleceu em 1947. Com a ajuda da União Soviética, introduziu uma rígida reforma centralizada e de uma economia planificada. A Coreia do Sul e suas instituições, por outro lado, foram moldados por um homem anticomunista, educado em Princeton e Harvard. Syngman Rhee recebeu o suporte dos americanos. E foi eleito presidente em 1948.

No final da década de 1990, apenas meio século depois, o crescimento sul-coreano e a estagnação norte-coreana levaram a uma diferença de renda de dez vezes entre as duas nações. A Coreia do Norte entrou em colapso e a agricultura praticamente sumiu. A Coreia do Sul tornou-se rapidamente uma das “Miracle Economies” do Leste Asiático e uma das nações que crescem mais rapidamente no mundo.

O caso das Coréias levanta uma pergunta: por que alguns países são ricos e outros pobres? Há diversas teorias, porém, algumas mais aceitas outras do que outras.

A primeira teoria é sobre recursos naturais. Um país que tiver mais recursos naturais desfrutaria de maior produção por trabalhador. Com muitos produtos para consumir e exportar, isso se traduzirá em taxas de crescimento mais altas.

A teoria parece fazer sentido. Mas como explicar o fato então de que a Nigéria, país extremamente rico em recursos naturais, seja um país tão pobre? Como explicar a Venezuela, um dos maiores produtos de petróleo do mundo, ter milhares de cidadãos na miséria? Ou mesmo outros países pobres da África ricos em diamantes?

Na verdade, as evidências empíricas dizem o contrário! A correlação entre recursos naturais e riqueza é muito baixa. Países como Alemanha, Reino Unido, Japão estão entre os mais ricos do mundo, mas em termo de recursos naturais estão longe da liderança.

Por outro lado, países com abundância de recursos, como o Nigéria, México não experimentaram crescimento econômico sustentado e rápido. Esses países sofrem constantemente grandes crises econômicas. O fato de serem dotados de grandes recursos e não conseguirem decolar não é uma coincidência.

Os países da África, ricos em recursos naturais, estão entre os mais corruptos do mundo, assim como Venezuela, Rússia e Nigéria, também abundantes em petróleo. Portanto, com fracas instituições e alta corrupção há um crescimento econômico lento.

Mas se não é o fato da abundância de recursos naturais levar países a serem ricos, o que seria?

Por que os países mais ricos estão mais longe dos trópicos?

Outras teorias dizem que é a geografia que determina o crescimento de um país. Quanto mais afastado da linha do equador, mais rico. Alemanha, Dinamarca, Noruega são mais ricas que Marrocos, Haiti e Congo. O Nordeste dos Estados Unidos é mais rico do que sua contraparte sul e o norte da Itália mais rico do que as regiões do sul do país.

Haveria razões para isso. Países mais próximos dos trópicos, possuem climas mais quentes. Neste tipo de clima as doenças tropicais abundantes causam altas taxas de mortalidade infantil. Neste caso, as doenças seriam grande parte responsável da pobreza.  Além disso, o tipo de clima também dificulta obter água potável, tratamento de esgoto, etc.

Parece fazer algum sentido, mas um olhar mais a fundo mostra que não há forte ligação entre geografia e economia de sucesso. Não é verdade que os trópicos sempre foram mais pobres do que as latitudes temperadas. Na época da conquista das Américas por Colombo, as áreas ao sul do Trópico de Câncer e Norte do Trópico de Capricórnio, que hoje incluem México, América Central, Peru e Bolívia, eram povoadas apor civilizações astecas e incas extremamente evoluídas. Ao mesmo tempo, a região onde hoje inclui os Estados Unidos, Canadá, Argentina e Chile eram habitadas por civilizações que vivem na idade da pedra sem estas tecnologias.

Além disso há países na história recente que se tornaram rico estando em economias tropicais como: Hong Kong, Cingapura e parte de Taiwan. Esta inversão claramente não teve nada a ver com a geografia.

São as instituições, estúpido!

Para Daron Acemoglu, um provável próximo prêmio Nobel de Economia, e James Robinson, seu companheiro inseparável, a explicação é outra. Em seu livro Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty, a prosperidade econômica depende sobretudo de boas instituições.

No livro, Robinson e Acemoglu tratam de toda essa “sabedoria popular” que sugeriria – erroneamente – porque alguns países são ricos e outros não. Resultado de uma vida de pesquisa nesse campo chamado Desenvolvimento Econômico, eles colocam através de uma mistura de Dados com História Econômica (é de lá que vem o exemplo das Coréias do Sul e toda a explicação anterior), o que tem mais sido aceito como explicação para essa resposta.

Para eles geografia e recursos naturais explicam muito pouco o desenvolvimento econômico dos países. Como países abundantes em recursos não colocam o foco em boas instituições, proteção da propriedade privada, estado de direito, há um maior nível de corrupção nesses países.

O que determina, portanto, são as instituições. São instituições econômicas e políticas inclusivas que levam progresso aos países. Robinson e Acemoglu argumentam que as instituições são “inclusivas” quando muitas pessoas têm uma palavra a dizer na tomada de decisões políticas, em oposição aos casos em que um pequeno grupo de pessoas controlam as instituições políticas e não estão dispostos a mudar.

Um Estado democrático garante o Estado de Direito. As instituições inclusivas promovem a prosperidade econômica porque elas fornecem uma estrutura de incentivo que permite que talentos e ideias criativas sejam recompensados.

Por outro lado, as instituições extrativas são aquelas que permitem a elite dominar e se perpetuar no poder. Nações com um histórico de instituições extrativas não prosperaram, porque empresários e cidadãos têm menos incentivo para investir e inovar. Um sistema onde uma elite controla o sistema econômico e político e usa seu poder para extrair riqueza da sociedade ao custo do restante da sociedade e está fadada ao fracasso.

Um empresário que não enxerga propriedade privada, estado de direito e ambiente jurídico estável terá pouco incentivo para trabalhar. Alguém que acha que seu produto vai ser roubado, expropriado ou totalmente tributado não tem qualquer incentivo para realizar investimentos e inovações. Mais do que isso. Esses direitos devem existir para a maioria das pessoas na sociedade e não apenas para alguns. É sobre isso que trata o livro de James Robinson e Daron Acemoglu.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.