Warren Buffett no 4T: 2 movimentos intrigantes, 1 aumento surpreendente de posição
Por Clement Thibault/Investing.com
Quando Warren Buffett se manifesta — seja através dos relatórios trimestrais da Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa) ou da sua tão aguardada carta anual aos acionistas, divulgada no último fim de semana – os investidores ficam atentos, não importa se são acionistas da holding que controla o conglomerado multinacional de Buffett ou não.
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Apelidado de “Oráculo de Omaha” por causa da sua extraordinária habilidade como investidor de valor, o CEO da Berkshire Hathaway construiu sua reputação selecionando ações subvalorizadas de empresas normalmente fortes e mantendo-as com lucro por vários anos na carteira da sua companhia.
O brilhantismo do seu plano de atuação é evidente no gráfico acima. Nos últimos 40 anos, enquanto o S&P 500 cresceu respeitáveis 2638%, a BRKa gerou um impressionante retorno de 116.553%.
Mas o 4T2018 não foi particularmente positivo para a Berkshire. O valor do seu portfólio despencou US$ 38 bilhões, ou 17%, de US$ 221 para $183 bilhões. A carteira contém 48 ações. Os principais papéis detidos por Buffett no momento são: Apple (NASDAQ:AAPL), Bank of America (NYSE:BAC) e Wells Fargo (NYSE:WFC).
Todo o mercado afundou no final de 2018. Nos últimos 12 meses, o S&P 500 subiu apenas 1,89%, mas a BRKa apresentou um desempenho pior, caindo 3,51% no mesmo período. Mas os altos e baixos trimestrais parecem não abalar Buffett. Como ele mesmo geralmente diz, seu foco é o longo prazo.
É por isso que o que ele compra e vende continua atraindo as atenções dos investidores. Acreditamos que três movimentos no último trimestre são particularmente intrigantes:
1. Bancos
Buffett também é conhecido por acreditar na economia norte-americana, elogiando-a repetidamente em suas cartas anuais aos acionistas. Seus movimentos recentes comprovam essa visão.
O setor financeiro dos EUA corresponde a 45% dos títulos da Berkshire. No 4T, mesmo com o presidente do Fed, Jerome Powell, adotando uma posição mais moderada e mitigando as expectativas de elevações da taxa de juros no futuro (o que prejudicaria a rentabilidade dos bancos), Buffett estava comprando papéis desse setor. A Berkshire Hathaway aumentou sua participação no Bank of America, US Bancorp (NYSE:USB), JPMorgan Chase & Co (NYSE:JPM), PNC Financial (NYSE:PNC) e Bank of New York Mellon (NYSE:BK).
Vale ressaltar a participação no JP Morgan, que foi iniciada no 3T e aumentou em 14,4 milhões de ações, a um preço médio de US$ 106 (cotadas a US$ 106,10 no fechamento de ontem), adicionando US$ 1,52 bilhão à posição. A posição do Berkshire no BAC aumentou em 18,9 milhões de ações, a um preço médio de US$ 27 (cotadas a US$ 29,27 no fechamento de ontem), uma adição de US$ 510 milhões à posição, fazendo com que a Berkshire se aproximasse do limiar de 10% do seu controle acionário. Se ultrapassasse esses 10%, os órgãos reguladores do governo obrigariam a Berkshire a se reclassificar como um holding bancária, algo que a empresa deseja evitar. Por essa razão, a Berkshire também reduziu sua posição no Wells Fargo (NYSE:WFC) em 3%.
O raciocínio de Buffett para essas posições no setor financeiro é o seguinte: embora as taxas de juros tenham um papel crucial na lucratividade do setor financeiro, fazendo com que um ambiente de juros baixos seja menos ideal no curto prazo, a Berkshire se posicionou para lucrar com o crescimento econômico dos EUA no longo prazo. Quanto a ações individuais, o JP Morgan é considerado o líder no setor bancário norte-americano atualmente, além de ter um valuation razoável, com um índice P/L de 11. A empresa também distribui bons dividendos, que rendem 3%. Sem dúvida, isso permite que a empresa aguarde pacientemente até que Powell e seus sucessores decidam continuar elevando os juros.
2. Tecnologia
Os observadores mais antigos da Berkshire começam a ver as ações de tecnologia em um momento de transição para a próxima geração de administradores. Buffett, que tem 88 anos de idade, é conhecido por geralmente evitar ações desse setor, apesar de, nos últimos anos, as posições em companhias com foco em tecnologia tenham ganhado mais peso na carteira da Berkshire. Há três anos, por exemplo, a Apple se tornou a maior posição individual da Berkshire, alcançando cerca de US$ 40 bilhões. Mesmo assim, no último trimestre, foram vendidas 2,9 milhões de ações da fabricante do iPhone, a um preço médio de US$ 192 (hoje cotadas a US$ 174,23).
Também houve a adição da Red Hat (NYSE:RHT), uma empresa de software em nuvem de código aberto, adquirida pela IBM (NYSE:IBM). É um movimento interessante, pois a Berkshire revelou, em maio passado, que havia liquidado sua antiga posição multibilionária na IBM. A Berkshire adquiriu 4,1 milhões de ações da Red Hat, a um preço médio de US$ 160 (hoje cotadas a US$ 182,40). De acordo com os informes, a Berkshire começou a comprar a Red Hat antes do anúncio dessa aquisição.
No entanto, a grande notícia do último trimestre foi a liquidação da participação da Berkshire na Oracle (NYSE:ORCL). No 3T, a holding montou uma posição de US$ 2,1 bilhões na Oracle e a encerrou completamente alguns meses depois, um movimento nunca visto anteriormente por Buffett.
O que tirar de tudo isso? As consequências dos cortes em sua posição na Apple são pequenas… por enquanto. A Berkshire ainda detém US$ 40 bilhões em ações da Apple. Embora a empresa de tecnologia tenha enfrentado dificuldades no 4T, seu múltiplo de valuation (índice P/L de 14), combinado com seu “fundo de guerra” de US$ 245 bilhões deve ser suficiente para permitir que qualquer investidor da Apple durma relativamente bem.
As ações da Red Hat após a aquisição são outra questão. A IBM teve que pagar um premium de 63% para adquirir a Red Hat, o que encareceu muito mais os papéis. Além disso, agora que estão sob o controle da IBM, não consideramos que tenha sido um bom negócio no longo prazo.
O fiasco com a Oracle também nos faz questionar se não foi um dos assistentes de Buffett que abriu a posição no semestre passado, obrigando o próprio CEO a fechá-la, pois não estaria mais interessado em outra empresa de tecnologia obsoleta com receitas estagnadas e forte concorrência no ambiente da nuvem.
3. Um aumento de participação surpreendente
Embora esses grandes movimentos nos setores de tecnologia e finanças – que, juntos, correspondem a 67% da carteira da Berkshire Hathaway – fossem esperados, a grande surpresa ficou por conta da adição de 2 milhões de ações, o que representa um aumento de 37% em General Motors (NYSE:GM), cujos papéis fecharam ontem cotados a US$ 40,14. A um preço médio de US$ 34 por ação, a Berkshire adicionou US$ 680 milhões à sua participação na GM, que agora é de US$ 2,4 bilhões.
Será que esse movimento inesperado foi bom? É difícil avaliar neste momento, mas certamente faz sentido na estratégia de investimentos de Buffett. A fabricante de Detroit está barata, com um índice P/L de 6, e paga dividendos de 3,8%. E, novamente, ele confia nos EUA, que em sua última carta aos acionistas foi exaltado como um país “extraordinário”, graças às suas incontáveis conquistas no âmbito dos negócios.