Walmart: corte nas projeções do varejista tem muito a dizer sobre a recessão nos EUA
Ontem, o Walmart cortou as suas projeções de lucro trimestral e anual (conhecidas como guidance). O motivo? A inflação mudou o perfil de gastos dos consumidores, que deixaram de comprar itens como roupas e eletrônicos para comprar alimentos.
De acordo com a gigante varejista, a dinâmica econômica ficou mais desafiadora, com a alta da inflação promovendo uma “destruição de demanda”, especialmente para itens não discricionários.
De fato, a inflação americana atingiu níveis históricos. Em junho, a taxa inflacionária subiu para 9,1% no acumulado de 12 meses – trata-se do maior nível para o período em 41 anos.
Para Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos e especialista em fundos de investimento, essa revisão do Walmart indica que as probabilidades de recessão nos Estados Unidos aumentaram, já que há um evidente acúmulo de sinais de desaceleração.
“O mercado parece ter se animado, na semana passada, com a possibilidade de uma pausa do Federal Reserve no processo de alta de juros. Contudo, o ‘fantasma’ da recessão deve assombrar o mercado nos próximos meses”, publicou o economista em seu Twitter.
O mercado hoje já embute expressiva queda de juros em 2023 e um juro terminais mais baixos. Isso ajudou bastante o setor de “crescimento” e “tecnologia” da bolsa americana nos últimos dias. Será esse movimento sustável diante das perspectivas de recessão?
— Dan Kawa (@DanKawa2) July 25, 2022
Empresas
E o Walmart não deve ser a única empresa a sentir os efeitos da inflação em seus resultados. Até a semana passada, pelo menos 25% das companhias brasileiras já tinham divulgado os seus balanços para o segundo trimestre.
Até então, os resultados têm sido decepcionantes com apenas 54% superando as estimativas de ganhos (abaixo da média de cinco anos de 72%), segundo Mathieu Racheter, chefe de pesquisa de estratégia de ações da Julius Baer.
“As empresas enfrentaram um trimestre difícil, pois precisavam lidar com vários ventos contrários, desde gargalos contínuos na cadeia de suprimentos, aumento dos preços da energia, impressões de inflação mais altas em décadas, a guerra em andamento na Ucrânia, apenas para citar alguns”, afirmou em relatório.
Além disso, Rafael Passos, analista da Ajax Capital, atenta para o fato de que o mercado não descarta esse movimento de revisão baixista nas projeções de outras varejistas. “É um efeito simbólico muito forte essa revisão que a gente tem do Walmart.”
Segundo o analista, a inflação de bens vem desacelerando, mas a de serviços ainda está muito disseminada. Isso acaba refletindo nas vendas e resultados das varejistas, porque, a partir do momento que há uma inflação extremamente elevada, as pessoas passam a consumir mais serviços.
“As varejistas começam a mostrar revisões para baixo muito por conta dessa inflação, que está extremamente elevada e afeta o poder de compra do consumidor”, afirma.
Para a estrategista-chefe dos EUA do BCA Research, Irene Tunkel, existe uma grande disparidade nos lucros das empresas americanas no segundo trimestre. Essa mesma discrepância é vista nas projeções para o ano.
“As estimativas ainda precisam refletir as interrupções na cadeia de fornecimento, os altos preços de insumos e o dólar mais forte”, enumera Irene, em relatório.
Da mesma forma, as expectativas de crescimento econômico para os EUA também ainda não refletem a piora do cenário. Por isso, os investidores devem manter a cautela. “Até que a inflação seja domada, permitindo que os bancos centrais suspendam os aumentos nas taxas de juros, os mercados têm mais desvantagens”, diz.
Recessão à vista?
A inflação alta, em conjunto com resultados empresariais abaixo do esperado, levam o mercado a acreditar que a economia americana está cada vez mais próxima da temida recessão.
Para o estrategista sênior dos EUA do Rabobank, Philip Marey, o próprio Federal Reserve deve reconhecer que o crescimento do produto interno bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre também pode ser negativo – o que significa que o país já está na chamada recessão técnica.
Os números do PIB dos EUA entre abril e junho deste ano serão conhecidos na quinta-feira (28). E, um dia antes, o Fed anuncia a sua decisão sobre o futuro da taxa de juros, que deve subir novamente em 0,75 ponto percentual.
“E o Fed deve ao menos admitir que o PIB do segundo trimestre será negativo ou próximo para zero”, destaca Marey, em relatório.
*Colaboração: Olívia Bulla
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