Mercados

Wall Street não vê pouso suave nos EUA e aposta em estagflação

21 nov 2022, 11:08 - atualizado em 21 nov 2022, 11:08
Wall Street, em Nova York
No entanto, essa crença não prevalece entre os grandes gestores de fundos, segundo os quais uma crise econômica marcada por preços ainda altos definirá as negociações no próximo ano (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Entre os mais otimistas de Wall Street, dados de inflação promissores na semana passada sugerem que o Federal Reserve pode, afinal, conduzir um pouso suave.

No entanto, essa crença não prevalece entre os grandes gestores de fundos, segundo os quais uma crise econômica marcada por preços ainda altos definirá as negociações no próximo ano.

Como um trecho da curva de juros dos Treasuries observada de perto envia novos sinais de recessão, a estagflação é consenso entre 92% dos entrevistados na pesquisa mais recente com gestores de fundos realizada pelo Bank of America.

Ao mesmo tempo, o Citigroup traça o cenário “Powell Push”, no qual o Fed será obrigado a subir os juros mesmo se o crescimento despencar, enquanto a BlackRock não vê perspectiva de um pouso suave nos EUA ou na Europa.

A visão pessimista contrasta com dados recentes sobre emprego, preços ao consumidor e ao produtor – combinados com lucros corporativos moderados -, sinalizando que o banco central dos EUA pode realmente ser bem-sucedido em sua missão de elevar os juros sem colapsar o ciclo de negócios.

No entanto, por enquanto a classe de investidores profissionais precisará ver evidências mais conclusivas de um desvio benigno na trajetória econômica antes de mudar materialmente seu posicionamento defensivo nos abalados mercados de ações e títulos.

“Os bancos centrais vão apertar demais e empurrar as economias para uma recessão moderada, mas vão parar de subir (os juros) – antes que tenham feito o suficiente para reduzir a inflação até a meta – à medida que os danos dos aumentos das taxas se tornarem mais claros”, disse Wei Li, estrategista-chefe global de investimentos na BlackRock.

Li vê uma desaceleração do crescimento nos EUA, rebaixamento de lucros e pressões de preços elevadas, o que justifica os posicionamentos “underweight” – abaixo da média do mercado – da gestora em renda variável e títulos de mercados desenvolvidos, embora esteja pronta para certas apostas em crédito corporativo. Sua visão é apoiada por investidores do Bank of America, que veem estagflação no horizonte.

A última pesquisa do banco mostra que os gestores têm uma posição underweight recorde em ações – com a fatia do setor de tecnologia no nível mais baixo desde 2006 – e “overweight” – acima da média – em dinheiro.

O pessimismo contrasta com uma onda de entusiasmo provocada pelo relatório de inflação dos EUA da semana passada, sugerindo que a alta da inflação pode estar perto de um pico. Essa tendência aquece o debate se o Fed tem espaço para moderar o ritmo de aperto monetário.

Esta hipótese foi sumariamente descartada por várias autoridades monetárias na semana passada. Entre os mais “hawkish”, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, disse que o banco central deveria subir as taxas de juros para pelo menos entre 5% e 5,25% com o objetivo de frear a inflação. Antes dessa declaração, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, disse que uma pausa no ciclo de aumentos estava “fora da mesa”, enquanto a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, alertou que poderia ser cada vez mais difícil domar a inflação sem causar uma recessão.

À medida que os aumentos dos juros colocam as bolsas e os títulos em território baixista, o Fed passou de amigo nos tempos de “bull market” para um novo inimigo. E nenhuma guinada de política rumo ao afrouxamento monetário parece provável tão cedo. O Citi, por exemplo, destaca a ideia “Powell Push”, com o banco central liderado por Jerome Powell obrigado a subir os juros e minar o crescimento com uma inflação ainda acelerada à frente.

“Classificamos o ambiente como estagflacionário”, disse o estrategista do Citi, Alex Saunders. Ele recomenda a venda de ações e crédito dos EUA e a compra de commodities e títulos em um cenário “Powell Push”.

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