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Wall Street ignora risco para bolsas caso inflação seja vencida

10 out 2022, 8:49 - atualizado em 10 out 2022, 8:49
Wall Street
Há meses um pequeno grupo de pesquisadores alerta para um risco potencial para os lucros caso a campanha para frear a inflação seja bem-sucedida (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

A sabedoria convencional entre investidores que apostam em ganhos para o mercado acionário é que os preços tendem a decolar quando o Federal Reserve vencer a batalha contra a inflação. Mas o fim da disparada dos custos ao consumidor pode desencadear outra rodada de más notícias.

Há meses um pequeno grupo de pesquisadores alerta para um risco potencial para os lucros caso a campanha para frear a inflação seja bem-sucedida.

Especificamente, o aperto nas margens que poderia ocorrer caso um indicador conhecido como alavancagem operacional corporativa fosse afetado em um contexto de estabilização das vendas.

O indicador é uma medida da diferença entre os custos fixos e variáveis de uma empresa. Pode se tornar negativo após o pico de inflação quando alguns dos custos de uma companhia permanecem altos, mas esta não consegue compensá-los elevando os preços porque a demanda encolheu.

Embora os resultados corporativos tenham resistido de forma surpreendente durante a pandemia e impulsionado uma série de ralis no mercado baixista, a queda da alavancagem operacional pode ser o dano final que empurra os índices acionários para mínimas, de acordo com uma equipe de estrategistas do Morgan Stanley liderada por Mike Wilson.

“Pensar nas áreas de inflação que provavelmente permanecerão mais resilientes no próximo ano (moradia, salários, certos serviços) e nas áreas que provavelmente desacelerarão (bens) não pinta um quadro construtivo para as margens do S&P 500, em nossa opinião”, escreveu Wilson, considerado um dos estrategistas mais cautelosos de Wall Street, em nota recente a clientes.

A alavancagem operacional, que sua equipe mediu subtraindo a expansão das vendas do crescimento do lucro por ação, dificilmente permanecerá positiva nos próximos trimestres. E embora Wilson seja um dos muitos analistas “sell-side” preocupados com uma retração das margens, estimativas de consenso ainda são positivas para o próximo ano.

Analistas de renda variável esperam que os lucros aumentem 5,56% no primeiro trimestre de 2023, contra um salto de 5,48% das vendas à medida que as margens se expandem. Atualmente, o padrão também vale para todo o ano de 2023: espera-se que os ganhos aumentem mais do que o faturamento, pois a alavancagem operacional permanecerá positiva.

Jonathan Golub, do Credit Suisse, concorda com a visão de Wilson. Ao explicar seu recente rebaixamento da meta de preço para o S&P 500, ele escreveu que “o declínio do CPI combinado com salários resistentes deve levar a uma retração das margens”.

A equipe de Wilson tem argumentado há meses que a mínima final dos índices acionários não será determinada pelo Fed, mas pela trajetória de crescimento dos lucros. Ele vê o piso do S&P 500 em uma faixa de 3.000 a 3.400 pontos no fim de 2022 ou início do próximo ano.

Embora as bolsas tenham caído mais de 22% no acumulado do ano, vários analistas sell-side dizem que as más notícias sobre os lucros já foram precificadas, e os resultados podem, na verdade, surpreender e aumentar.

A previsão para os lucros globais em 12 meses foi revisada para baixo todos os meses no último trimestre. Para Jim Paulsen, do The Leuthold Group – um defensor fervoroso das ações -, o fato de que as margens de lucro romperam padrões históricos e se mantiveram firmes enquanto a inflação disparou significa que, no final, podem não cair.

Mas para Liz Ann Sonders, estrategista-chefe de investimentos da Charles Schwab, as margens de lucro seriam afetadas à medida que as empresas perdem o poder de aumentar preços o suficiente para compensar os altos custos fixos.

“A inflação, especialmente no início do ciclo, tende a significar poder de precificação para as empresas”, disse Sonders. “A demanda é forte e os gastos são fortes. Essa é uma ótima notícia para os resultados. Se você perder o lado da demanda e perder a inflação que ajuda a elevar os preços, é aí que pode ter problemas.”

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