Votorantim registra prejuízo em 2016 e não descarta entrada de futuros sócios
O grupo Votorantim, um dos maiores conglomerados industriais do País, com atuação em áreas como cimento, celulose, energia, suco de laranja e metais, teve seus resultados financeiros do ano passado afetados pela crise econômica.
Atentos ao movimento do mercado interno e global, os acionistas da companhia – a terceira geração da família Ermírio de Moraes -, buscam a melhor forma de adequar o portfólio de negócios ao atual cenário, de forma de garantir rentabilidade às empresas da família. Em 2016, a receita líquida do grupo encerrou em R$ 26,7 bilhões, 9% abaixo do faturamento do ano anterior.
O desempenho reflete a recessão que se abateu sobre o País, afetando as divisões de cimento – principal negócio do grupo, que teve baixa demanda – e metais, sobretudo níquel, que está com as operações em território nacional suspensas por tempo indeterminado.
O grupo registrou prejuízo líquido de R$ 1,25 bilhão no ano passado, ante lucro líquido de R$ 382 milhões em 2015. O balanço financeiro não inclui os resultados da Fibria, Citrosuco e do banco Votorantim, uma vez que esses são negócios independentes por terem estruturas societárias diferentes. Ao Estado, o presidente executivo do grupo, João Miranda, disse que os negócios do conglomerado sofreram o impacto de dois anos seguidos de recessão. Para o executivo, embora o cenário macroeconômico indique estabilidade, 2017 continua “desafiador”.
Estratégia
Em fevereiro, o grupo Votorantim fez uma reestruturação em sua divisão de siderurgia no País, que dá indícios sobre como será a estratégia do grupo para os próximos anos. O grupo dos Ermírio de Moraes e a indiana ArcelorMittal anunciaram a combinação de seus ativos da área de aços longos no Brasil.
Com a operação, a Votorantim virou acionista minoritária da gigante do aço, com 15% do negócio. Miranda afirmou que os acionistas avaliam constantemente as divisões do grupo e não descartam a possibilidade de buscar investidores para os atuais negócios. Isso inclui a entrada de um novo sócio ou a abertura de capital de divisões consideradas importantes, como metais, energia e cimento.
Miranda ressalta, contudo, que não há prazos e decisões prestes a serem tomadas. “Estamos falando de um grupo que tem quase cem anos de história (a empresa atingirá essa marca em 2018) e quer perpetuar seus negócios”, disse o executivo. A terceira geração entrou no comando da empresa no início dos anos 2000 e já prepara a sucessão para a próxima geração. Em 2013, a companhia esteve prestes a abrir o capital da operação de metais, mas a virada de cenário global engavetou o projeto.
A divisão de cimento, segmento em que a Votorantim é líder, também pode ser levada à Bolsa futuramente. “Há um entendimento entre os acionistas de criação de valor para cada negócio, desde que faça sentido”, disse. O SNIC (Sindicato Nacional da Indústria de Cimento) em seu último relatório prevê retração de 5% a 7% de vendas em volume este ano.
Consolidação
Em sociedade com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Votorantim é a principal acionista da Fibria, gigante da celulose. A fusão da empresa com a Suzano chegou a ser dada como certa no mercado. A Eldorado, do grupo J&F, da família Batista (dona da JBS/Friboi), também foi apontada como alvo. Miranda afirma que, embora a fusão com concorrentes faça todo o sentido no setor de celulose, não há, ainda, um movimento concreto de consolidação.
Novos setores também estão entre os planos do conglomerado. Com uma atuação ainda tímida no segmento de energia, o grupo pretende expandir a atuação no setor, sobretudo em energia renovável. Outro segmento no radar é o setor imobiliário. Para este ano, o grupo deve manter investimentos da ordem de R$ 3 bilhões, praticamente o mesmo montante aportado em 2016 e 2015.
O endividamento da companhia, segundo o executivo, está em posição saudável, com prazos alongados, e caiu de 24%, para R$ 14,7 bilhões (dívida líquida) em 2016 em relação a 2015. Os débitos de curto prazo não preocupam, afirma Miranda. De acordo com ele, a geração atual de caixa de companhia é suficiente para honrar as dívidas para os próximos quatro a cinco anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Por Mônica Scaramuzzo)