Opinião

Voto branco ou nulo também é se posicionar

12 out 2018, 13:34 - atualizado em 12 out 2018, 13:34

Por Arthur Lula Mota, editor do Terraço Econômico

Certamente muitos eleitores estão na pior posição possível em uma eleição: a ausência de representatividade nas alternativas postas à mesa. Nessa situação é comum escolher a alternativa tida, na linguagem popular, como “menos pior”. O grande problema é como o eleitor deve agir quando não consegue diferenciar com facilidade qual alternativa é essa, ou então, quando os dois nomes são tão ruins que se torna inviável alocar seu voto em algum deles.

Bolsonaro, com seu discurso extremista, e Haddad (ou diet Lula, como estão chamando os gringos), com a máquina corrupta do PT, fazem a pior combinação possível de segundo turno. Como bem levantou Eduardo Jorge, um foi cabo eleitoral do outro, pois ambos perderiam de lavada caso outro candidato entrasse no pareô.

Tão logo o segundo turno se definiu, os chamados isentões (os que não tomaram posição nessa disputa) passaram a ser atacados por ambos lados da disputa. “Como assim você não vai combater o fascismo?” ou “Como assim você vai deixar um partido corrupto e com um presidente fantoche de presidiário governar o país?” são frases comuns nas redes sociais e nos grupos de conversa.

Primeiramente é preciso deixar bem claro que o voto nulo ou branco é um direito do cidadão, e você pode não entender o motivo, mas deve aceitar a decisão como bom democrata. Qualquer comportamento diferente desse não está em linha com quem defende a democracia. Simples como isso.

Em segundo lugar, vamos levantar alguns pontos em cada candidatura que reforça a vontade de não votar por parte desses eleitores.

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Bolsonaro:

– O candidato proclamou recentemente e no passado as piores frases em relação a democracia e aos direitos humanos. Frases racistas, homofóbicas e machistas são facilmente encontradas em rápidas buscas pela internet, sem necessidade de qualquer edição. Não são aceitáveis em qualquer contexto de diálogo. Se eleito, haveria sim uma menor importância em pautas progressistas, que são caras a uma boa parcela da população e estão em linha com uma sociedade moderna;

– Acreditamos que Bolsonaro não é liberal, nunca foi e nunca será. Não nos enganamos por meia dúzias de proposta que seu futuro ministro da fazenda encabeçou. São propostas boas sim, mas não apagam a longa carreira de votos vergonhosos como deputado, bem como ainda não ter largado o osso do discurso de “setores estratégicos”. Não há segurança de que ele terá um governo economicamente responsável ao longo dos quatro anos. Você pode dar seu voto de confiança, mas tem de respeitar aqueles que não o fazem, com base em seu histórico.

Haddad:

– O candidato vai toda semana pedir benção para um presidiário que é um dos maiores políticos corruptos da história. Isso não é aceitável, não adianta tentar relativizar.

– O programa de governo do PT é um dos mais medonhos, repetindo exatamente os mesmos erros que nos levaram a maior crise da história datada do país. Revogação de importantes reformas, como a trabalhista, bem como a queda do teto dos gastos, que é o atual porto seguro que o país tem contra governos populistas (tão comum no âmbito petista), é um passaporte direto para uma nova crise econômica.

– A falta de autocrítica dos anos de corrupção e equívoco econômico é fator de muito medo para quem teme pela estabilidade do país. Além disso, acenos para com ditaduras como a Venezuela é fator de repúdio sim, pois há uma tragédia acontecendo ao nosso lado, com grande desrespeito aos direitos humanos e um partido e eleitores ditos progressistas teimam em ignorar.

Se você consegue em meio a isso tudo encontrar o que seja “menos pior”, e mais do que isso, ter estômago para depositar seu voto nele, faça-o, mas não ataque quem não consegue. O voto é o Santo Graal do eleitor, alguns deles simplesmente não conseguem entregar para qualquer um.

“Há, mas anulando ou votando em branco você favorece quem está liderando”. Bem, isso é mentira. Aliás, o próprio TSE resume bem a situação:

Como é possível notar, os votos nulos e brancos acabam constituindo apenas um direito de manifestação de descontentamento do eleitor, não tendo qualquer outra serventia para o pleito eleitoral, do ponto de vista das eleições majoritárias (eleições para presidente, governador e senador), em que o eleito é o candidato que obtiver a maioria simples (o maior número dos votos apurados) ou absoluta dos votos (mais da metade dos votos apurados, excluídos os votos em branco e os nulos).

A despeito desses breves motivos elencados (há muitos outros, mas esses já são suficientes), não há temor pela democracia. Não acredito numa nova ditadura militar, visto que a sociedade está muito mais vigilante e organizada que antes, e nem haverá uma convergência para a Venezuela, pelos mesmos motivos, além de termos uma economia muito mais diversificada e instrumentos de mercado e legais para punir o excesso de populismo do futuro governo.

É muito triste ter que anular o voto numa democracia e alguns não entendem como essa decisão é difícil. É muito mais confortável quando se consegue identificar o tal do “menos pior”, mas nem sempre isso é possível.

O voto branco ou nulo é tomar posição sim, é mostrar que numa democracia você pode sinalizar claramente que não concorda com nenhuma das condições que estão te impondo. Dê valor ao seu voto, não deposite em quem não te representa de forma alguma.