Vacinas

Voluntário adoece e Johnson & Johnson pausa teste de vacina contra Covid

13 out 2020, 9:24 - atualizado em 13 out 2020, 9:24
Johnson & Johnson
O revés nos testes da J&J aumenta essas preocupações e pode representar um choque de realidade enquanto políticos continuam afirmando que a solução para a Covid-19 está próxima (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

A Johnson & Johnson suspendeu os testes clínicos de sua vacina contra a Covid-19 depois que um participante do estudo adoeceu.

É a segunda vez que uma líder no desenvolvimento de uma vacina paralisa testes na corrida para criar uma forma viável de imunização contra o coronavírus.

A doença da pessoa está sendo avaliada, anunciou a gigante sediada em New Brunswick, Nova Jersey, na segunda-feira, acrescentando que divulgaria informações após uma investigação mais aprofundada. Essa vacina está sendo testada em cerca de 60.000 voluntários do Peru à África do Sul.

Assim como as rivais Moderna, Pfizer e AstraZeneca, a J&J corre contra o tempo para entregar uma vacina que contenha a pandemia.

As companhias farmacêuticas precisam equilibrar a pressão de tempo — enquanto os casos de coronavírus batem novos recordes — com considerações de segurança durante o decisivo estágio final dos testes.

“Temos que nos acostumar com esses relatos de interrupções”, afirmou Hassan Vally, professor associado de epidemiologia da Universidade La Trobe, em Melbourne, por e-mail. “Conforme mais pessoas são vacinadas nesses testes, é provável haver algumas doenças entre os participantes.

A única diferença agora é que, no mundo em que vivemos hoje, o progresso desses testes ocorre diante dos olhos do público, então nós estamos acompanhando cada solavanco.”

No mês passado, a farmacêutica britânica Astra paralisou temporariamente os testes de sua candidata a vacina depois que um participante do processo adoeceu. O estudo foi retomado em vários países, mas segue parado nos EUA

Embora essas pausas sejam corriqueiras no setor farmacêutico, a paralisação anunciada pela J&J pode intensificar preocupações sobre a segurança das vacinas, já que as pesquisas avançam em ritmo sem precedentes.

Processos de desenvolvimento que geralmente levam anos foram reduzidos a meses, sob pressões de políticos que querem uma solução para a pandemia que matou mais de 1 milhão de pessoas e freou o crescimento econômico.

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No mês passado, a farmacêutica britânica Astra paralisou temporariamente os testes de sua candidata a vacina depois que um participante do processo adoeceu (Imagem: Reuters/Siphiwe Sibeko)

“Estamos empenhados em fornecer atualizações transparentes ao longo do processo de desenvolvimento clínico de nossa candidata a vacina”, afirmou a J&J em comunicado. “Eventos adversos — doenças, acidentes etc., mesmo os graves — são parte esperada de qualquer estudo clínico, especialmente em estudos grandes.”

Nos últimos dias, autoridades têm tentado esfriar as expectativas de uma solução rápida para a pandemia. Guido Rasi, diretor executivo da Agência Europeia de Medicamentos, disse na semana passada que era improvável a disponibilização de uma vacina até o final do ano.

A pausa “é boa notícia na medida em que demonstra que as salvaguardas regulatórias para proteger o público ainda estão em vigor”, afirmou Michael Kinch, especialista em vacinas e professor da Universidade Washington em St. Louis. Segundo ele, mais informações são necessárias para determinar se os problemas com a vacina da J&J são relacionados à doença enfrentada pelo voluntário dos testes da Astra.

No incidente da Astra, um paciente vacinado teve sintomas neurológicos inexplicáveis, levando a uma paralisação no início de setembro.

Embora os testes tenham sido retomados no Reino Unido, Brasil e África do Sul, o trabalho continua pausado nos EUA. Assim, não se sabe se as autoridades reguladoras americanas ainda têm preocupações com a segurança dessa vacina.

O revés nos testes da J&J aumenta essas preocupações e pode representar um choque de realidade enquanto políticos continuam afirmando que a solução para a Covid-19 está próxima.

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