Setor Automotivo

Volkswagen e Nissan miram mercado africano onde financiamento é raro

10 jan 2020, 11:11 - atualizado em 10 jan 2020, 11:11
Volkswagen
Menos de 5% das vendas de carros novos são financiadas por bancos, de acordo com a Associação de Revendedores de Automóveis de Gana (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A Volkswagen e a Nissan estão entre as montadoras que planejam novas fábricas em Gana de olho nos 382 milhões de habitantes da África Ocidental. O desafio: encontrar bancos que ofereçam financiamento para tornar os carros novos acessíveis.

Num país onde cerca de 70% das importações são de segunda mão, comprar um carro novo é coisa rara, disse Believe Alorbu, que vende modelos mais antigos enviados dos EUA pela metade do preço de um novo.

“Às vezes, as pessoas nem tiram o plástico dos assentos” quando compram carros novos, disse Alorbu em sua concessionária na capital Acra. “Mesmo que o governo aumente as tarifas para carros usados, as pessoas ainda não terão condições de comprar novos se não tiverem acesso a financiamento”.

Menos de 5% das vendas de carros novos são financiadas por bancos, de acordo com a Associação de Revendedores de Automóveis de Gana.

Em alguns casos, os bancos exigem que os empregadores concordem em descontar parte do salário do comprador para pagar o financiamento ou que o proprietário faça um seguro para cobrir inadimplência. As taxas de juros de 22% a 30% também tornam os empréstimos “praticamente” inacessíveis, disse Koketso Tsoai, analista de indústria automobilística da Fitch Solutions.

Quando suas fábricas estiverem funcionando, Volkswagen, Toyota, Nissan, e, possivelmente, a Renault precisarão competir com carros usados, como os vendidos por Alorbu.

O governo de Gana tenta tornar os veículos novos mais atraentes, com o plano de elevar as tarifas de importação de carros usados para 35% em relação aos atuais 5%-20%, e com mais isenções fiscais para empresas que migram da montagem para produção local. O governo também se comprometeu a promover as exportações regionais.

“Não olhamos apenas para o hoje”, disse o presidente da Nissan África, Mike Whitfield, em entrevista por telefone do Cairo. “Continuamos a ver a África como a última fronteira que resta no mercado automotivo, sendo a África Ocidental uma parte essencial dela.”

Cerca de 10% da população da África Ocidental pode gastar mais de US$ 11 por dia, segundo dados compilados pelo World Data Lab.

É esse grupo que o setor tem como alvo em um continente que agrega cerca de 10 milhões de novos consumidores anualmente. Até 2030, espera-se que as classes média e alta da África superem 300 milhões de pessoas em um mercado consumidor global de 4 bilhões, de acordo com os dados.

Gateway regional

A Nissan espera que sua unidade de montagem comece a operar até dezembro, dependendo de quando a política automotiva de Gana se tornar lei.

A Volkswagen planeja começar em abril. A Toyota, que descreveu Gana como “um mercado extremamente importante na África Ocidental”, não quis compartilhar detalhes sobre sua estratégia.

Gana não será o primeiro país a se posicionar como porta de entrada para a África Ocidental. A Nigéria anunciou uma política muito semelhante em 2013.

No entanto, após uma mudança de governo e anos de tramitação, o presidente Muhammadu Buhari vetou o projeto de lei em julho do ano passado. Montadoras também assinaram acordos com o governo da Costa do Marfim.