Volkswagen Caminhões vê retomada lenta e faz parceria com Suspensys em Resende
O mercado brasileiro de caminhões atravessa uma recuperação lenta, mas o temor do setor de que o desenho deste movimento se consolide em um “L”, com um platô baixo de vendas, está descartado por ora, disse nesta terça-feira o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), Roberto Cortes.
Segundo ele, as vendas de caminhões no país seguem mostrando crescimento em julho, após expansões mensais de dois dígitos em abril, maio e junho que foram exacerbadas por uma série de fatores decorrentes dos impactos das medidas de quarentena adotadas no Brasil a partir de meados de março e flexibilizadas nos meses seguintes.
As vendas de caminhões no Brasil em junho dispararam 85% ante maio, subindo 12,3% na comparação anual, para 8,76 mil unidades. Mas o movimento foi em parte impulsionado por fatores que incluem retorno de atividade de emplacamentos de departamentos estaduais de trânsito, vendas represadas e antecipação de compradores a reajustes de preços promovidos pelos fabricantes.
“Muito difícil precisar a intensidade dessa recuperação. Teve efeitos pontuais em junho e julho…Excluindo isso continuamos em uma retomada lenta, não tão forte como pode parecer”, disse o executivo, cuja empresa integra o grupo de veículos pesados Traton. “Essa recuperação em L até dezembro aparentemente podemos descartar”, acrescentou.
A VWCO chegou a paralisar toda a produção em março e voltou com 30% da capacidade no final de abril. Atualmente, segundo Cortes, a empresa opera a 65% da produção pré-pandemia em dois turnos para permitir distanciamento dos funcionários.
“Em condições normais, poderíamos estar agora com apenas um turno…Apesar de estarmos produzindo menos, com o distanciamento, temos que ter mais gente.”
Diferente do mercado de caminhões, o de ônibus está mostrando mais dificuldades, apesar do segmento ser tradicionalmente marcado por alta nas vendas em anos eleitorais. As vendas recuaram 34% em junho sobre o mesmo mês de 2019 e mostraram baixa de 36,5% no acumulado do primeiro semestre, bem menos que o recuo de 19,7% dos licenciamentos de caminhões.
“Aqui ainda nem chegamos ao pico (de infecções) e o patamar continua alto…A falta de clareza sobre os rumos da pandemia não vai mudar e isso gera precaução nos clientes”, disse o presidente da VWCO. “O segmento de turismo sofreu muito.”
Parceria em Rezende
A Volkswagen Caminhões e Ônibus anunciou nesta terça-feira uma parceria com a Suspensys, empresa do grupo Randon, para montagem de suspensões pneumáticas para caminhões e ônibus. A produção da Suspensys vai ser feita no mesmo complexo fabril que abriga outras sete empresas parcerias da VWCO em Resende (RJ), que completa 25 anos neste mês.
O componente é mais sofisticado que suspensões metálicas tradicionais e tende a ser incorporado em toda a linha da VWCO depois que a parceria com a Suspensys começar a operar no próximo ano. Apesar dos impactos da crise e do custo mais alto do componente no bolso dos clientes, Cortes afirmou que a demanda incentivou a companhia a incorporar no complexo a produção da Suspensys.
“Não é porque a situação está difícil que todo mundo vai para o mais barato. Vai para o mais produtivo…A carga vai mais tranquila”, disse o executivo, se referindo a ganhos que a suspensão pneumática permite ao suportar melhor os impactos das ruas e estradas mal conservadas no país.
Ao longo dos próximos meses, a Suspensys vai instalar a linha de montagem no complexo em Resende, em uma área de 4 mil metros quadrados. A Suspensys ficará responsável pela pré-montagem de suspensões pneumáticas para os caminhões e ônibus da Volkswagen. A empresa também será fornecedora de um sistema modular de suspensões a ar desenvolvido em conjunto pelas duas companhias. Anteriormente, parte dessa operação era feita fora da fábrica da VWCO.
Segundo Cortes, o impacto nas vendas de veículos pesados no país só não foi maior por conta de medidas do governo federal para conter o impacto na economia, incluindo a liberação de saques de 600 reais para a população mais carente.
Porém, ele afirmou que novas medidas de estímulo têm que ser tomadas para ajudar a reativar o setor de veículos, incluindo o lançamento de um programa nacional de renovação de frota de caminhões, mecanismo que é defendido pelo setor junto ao governo federal há anos.
“Agora é a hora ideal para isso. A frota brasileira hoje tem 17 anos, é o dobro da idade dos veículos na Europa e Estados Unidos”, disse Cortes.