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Você compraria itens de um jogo que ainda não existe? Saiba mais sobre Loot, a nova febre NFT

06 set 2021, 15:55 - atualizado em 06 set 2021, 15:55
Compra de itens para jogos que ainda não existem parece ser a mais nova tendência do mercado cripto (Imagem: Twitter/Dom Hofmann)

Jogos cripto tomaram um rumo estranho.

Agora, a nova tendência é criar personagens, levá-los em aventuras e aumentar seu nível, além de adquirir itens e outras características internas ao jogo — tudo isso em jogos que ainda não existem.

A outra questão é que as pessoas que oferecem os itens não têm planos de desenvolver o jogo. Cabe à comunidade fazer todo o trabalho árduo. Ainda assim, sem qualquer garantia de utilidade futura, esses itens e artefatos estão sendo vendidos por milhões.

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De onde surgiu?

Tudo começou com Loot.

Em 27 de agosto, Dom Hofmann, cofundador da antiga plataforma Vine, tuitou que ele iria “lançar um experimento esquisito daqui a pouco”, tendo sugerido que o projeto seria uma espécie de “dungeons & degens” — fazendo referência ao popular jogo de RPG “Dungeons & Dragons”, mas trocando a segunda palavra para “degens”, termo muito usado por investidores cripto envolvidos em moedas com valorização absurda.

Algumas horas depois, ele anunciou Loot, descrevendo-o como “equipamentos aleatórios de aventura” e afirmando que só seriam criadas seis mil sacolas com esses itens.

Ele forneceu um link a um contrato Ethereum. Membros da comunidade cripto usaram esse contrato para criar as sacolas e enviá-las a si mesmos. A solicitação das sacolas era gratuita, mas era preciso pagar taxas à rede Ethereum. As seis mil sacolas foram garantidas em menos de quatro horas.

Cada sacola continha oito itens para um suposto personagem, alguns itens de vestuário e uma arma. Itens possuem nomes mitológicos, como “Dragonskin Armor” (“Armadura de Pele de Dragão”, em português) ou “Platinum Ring of Anger” (“Anel de Platina da Raiva”).

Porém, não são sacolas verdadeiras nem digitais. São apenas textos na cor branca em um fundo escuro, salvos como imagens e emitidos como tokens não fungíveis (NFTs):

A sacola nº 2.088 foi vendida por 14 ETH, ou US$ 54 mil (Imagem: OpenSea)

A ideia maluca é que desenvolvedores criem um jogo ou diversos jogos em torno desses ativos colecionáveis, criando itens que combinem com as características da sacola. O dono de uma cesta poderia acessar tais itens dentro desses jogos que ainda poderão ser lançados.

“Loot é o alicerce sem filtros e sem censura para histórias, experiências, jogos e mais, que estará nas mãos da comunidade a zero custo”, explica o site.

Apesar da falta de futuro sólido, essas sacolas se tornaram incrivelmente valiosas. Atualmente, o preço mais barato para qualquer Loot é 12,4 ETH (US$ 48.360) enquanto a maior venda foi um pouco abaixo de US$ 1 milhão — por uma única sacola. 

A comunidade cripto já começou a testar essas sacolas. Um designer de computação gráfica já criou um conjunto de imagens geradas por inteligência artificial que representam os itens em cada cesta.

Investidores do Loot sintético podem conferir uma representação visual de seu personagem.

Além disso, já existem organizações autônomas descentralizadas (DAOs) para detentores de Loot, dependendo do tipo de itens que possuem, bem como uma série de outros serviços sendo desenvolvidos.

Embora a infraestrutura esteja sendo desenvolvida — seja para se tornar em um jogo completo ou em múltiplas plataformas de negociação —, Loot deu origem a diversos projetos parecidos e “airdrops” (distribuição gratuita de tokens).

Loot e suas cópias

Conforme a barreira de acesso se torna cada vez menor, assim como a criação de alguns milhares de nomes e a experiência de desenvolvimento em blockchain, não é surpreendente que alguns projetos tentaram recriar o sucesso do Loot — e se aproveitar de sua fama.

Existem versões do Loot baseadas em diferentes tipos de mundos — qualquer jogo que deseje mostrar cidades ao longo dos séculos —, bem como Loot para CryptoPunks, com itens como “Gauntlet of Nightcity” (ou “Manopla de Nightcity”).

Além disso, existe Bloot — uma versão imprópria com foco no público cripto que, dentre os atributos mais “amigáveis”, está a “Pixelated band of WAGMI” (“faixa pixelada de WAGMI”, em português) — sigla para “we’re all gonna make it” (ou “vamos todos conseguir”).

Existem diversos airdrops para tais Loots (e outros) detentores. Qualquer dono de um Loot pode gerar, de forma aleatória, um nome para seu personagem (Name NFT). Detentores de Bloot podem receber 10 mil tokens based gold (BGLD), uma quantia próxima a US$ 8,3 mil.

Interagindo com um jogo de verdade… ou algo do tipo

Inspirado por Loot, Andre Cronje, fundador do Yearn.Finance (YFI), criou a parte central de um jogo chamado Rarity. Porém, ele deu um passo a mais para nomear diversos itens.

Na realidade, ele criou os aspectos fundamentais do jogo no blockchain Fantom — onde as taxas são relativamente baratas.

Para criar um guerreiro, é preciso interagir com o endereço de contrato — ou usar um site útil, desenvolvido por txxnano — e receber um token. Esse token representa o guerreiro que você possui, seja um “Druid”, “Monk” ou “Sorcerer” — druida, monge ou mago.

A primeira versão de uma forma desenvolvida pela comunidade de interagir com o jogo (Imagem: txxnano)

Em seguida, você pode interagir com o jogo, mas de uma foram meio tediosa (até alguém desenvolver toda a interface).

Diariamente, você pode voltar ao contrato e interagir de uma forma chamada “rumo a uma aventura”. Você só pode fazer isso uma vez por dia. Cada vez que você interagir, seu personagem irá subir de nível.

Apesar de ainda estar sob desenvolvimento, a ideia é que seja possível realizar outras tarefas, como a criação de poções ou a escolha de quais habilidades serão desenvolvidas. No nível 2, você pode começar a receber a moeda do jogo, chamada Rarity Gold.

Essa tarefa é relativamente parecida com a de jogos como World of Warcraft, caso você pressionasse o botão “completar nível” em vez de jogar. Porém, é necessário que, em algum momento, alguém crie o jogo — senão, todo esse nivelamento será inútil.

Cronje contou ao The Block que não possui uma ideia para o jogo, pois apenas codificou “o conjunto de regras, feitiços, magias, tarefas, aventuras etc.”

“Cabe às pessoas o que fazer com isso”, acrescentou ele. “Criarei o mundo para elas, mas elas devem se aventurar.”