Vizinhos do Brasil também fazem queimadas e envenenam Amazônia
Enquanto os incêndios que devastam a Amazônia brasileira provocam indignação global, os países vizinhos também realizam queimadas, destroem e envenenam suas florestas, na maioria das vezes fora do radar.
A Bolívia e o Peru registraram um maior número de incêndios este ano do que o Brasil, já que mineiros ilegais, pecuaristas e produtores de cocaína continuam causando estragos.
A Amazônia, com 6,5 milhões de quilômetros quadrados, está sob ataque por todos os lados, com incêndios que destroem uma área equivalente a dezenas de campos de futebol a cada hora somente no Brasil.
O desmatamento coloca em risco um ecossistema que não só abriga uma grande parte e amplamente desconhecida biodiversidade do mundo, mas também ajuda a equilibrar o clima do continente.
Os incêndios provocados por madeireiros e agricultores se multiplicaram no Brasil incentivados pelas políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro. Países como Colômbia, Peru e Bolívia não incentivam o desmatamento, mas carecem de recursos e vontade política para fazer cumprir as regulamentações existentes, disse Carolina Gil, advogada do grupo de proteção ambiental Amazon Conservation.
“A atual crise no Brasil é apenas a ponta do iceberg”, disse Gil.
Plantação de coca
O desmatamento contínuo ameaça transformar florestas densas em terrenos cobertos de arbustos e ervas daninhas, acrescentou, destruindo uma região que abriga dezenas de milhares de espécies de animais e plantas e aproximadamente um quinto da água doce do mundo.
A Colômbia, que possui a maior faixa da Amazônia depois do Brasil e do Peru, perdeu 215.000 hectares de floresta tropical em 2017, segundo dados de satélite monitorados pela Amazon Conservation. O Brasil, que tem uma área cerca de seis maior da floresta, perde cerca de 640.000 hectares por ano.
Enquanto isso, o cultivo de plantas de coca, a matéria-prima da cocaína, mais do que quadruplicou na Colômbia entre 2012 e 2017. Os agricultores costumam derrubar florestas em parques nacionais para cultivos ilegais em partes remotas do país, onde a presença do governo é pequena ou inexistente.
O mercúrio usado pelos garimpeiros de ouro ilegais também penetra continuamente nos rios da Amazônia colombiana, envenenando peixes.
O Ministério do Meio Ambiente da Colômbia não respondeu a um pedido de comentário.
Ainda pior
O Brasil já registrou mais de 83.000 focos de incêndios este ano, um aumento de 77% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Enquanto isso, o número de incêndios praticamente dobrou durante o mesmo período na Bolívia e no Peru.
Na Bolívia, onde quase 19.000 focos de incêndio destruíram mais de 405.000 hectares de floresta este ano, o presidente Evo Morales mobilizou bombeiros e usou um Boeing 747 Supertanker para combater as chamas.
O Ministério do Meio Ambiente da Bolívia e a assessoria de imprensa presidencial não retornaram telefonemas e e-mails pedindo comentários. Morales disse no domingo que estava aberto à ajuda internacional para combater incêndios e pediu a realização de uma cúpula entre os países que compõem a Amazônia para “coordenar ações imediatas e planos de longo prazo”, segundo comunicado.
O Ministério do Meio Ambiente do Peru não respondeu a um e-mail pedindo comentários.
Os vizinhos do Brasil não compartilham a beligerância de Bolsonaro ou a hostilidade à proteção ambiental, mas o histórico desses países não é muito melhor, disse Rodrigo Botero, diretor da Fundação para Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia.
“É possível ver em toda a região que a pressão em países como a Bolívia, que sofre grandes perdas, ou Paraguai é a mesma que no Brasil”, disse. “Não é uma questão de esquerda ou direita.”