Meio Ambiente

Vizinhos do Brasil também fazem queimadas e envenenam Amazônia

29 ago 2019, 13:36 - atualizado em 29 ago 2019, 13:36
Floresta Amazônia Meio Ambiente
A Bolívia e o Peru registraram um maior número de incêndios este ano do que o Brasil, já que mineiros ilegais, pecuaristas e produtores de cocaína continuam causando estragos (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

Enquanto os incêndios que devastam a Amazônia brasileira provocam indignação global, os países vizinhos também realizam queimadas, destroem e envenenam suas florestas, na maioria das vezes fora do radar.

A Bolívia e o Peru registraram um maior número de incêndios este ano do que o Brasil, já que mineiros ilegais, pecuaristas e produtores de cocaína continuam causando estragos.

A Amazônia, com 6,5 milhões de quilômetros quadrados, está sob ataque por todos os lados, com incêndios que destroem uma área equivalente a dezenas de campos de futebol a cada hora somente no Brasil.

O desmatamento coloca em risco um ecossistema que não só abriga uma grande parte e amplamente desconhecida biodiversidade do mundo, mas também ajuda a equilibrar o clima do continente.

Os incêndios provocados por madeireiros e agricultores se multiplicaram no Brasil incentivados pelas políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro. Países como Colômbia, Peru e Bolívia não incentivam o desmatamento, mas carecem de recursos e vontade política para fazer cumprir as regulamentações existentes, disse Carolina Gil, advogada do grupo de proteção ambiental Amazon Conservation.

“A atual crise no Brasil é apenas a ponta do iceberg”, disse Gil.

Plantação de coca

O desmatamento contínuo ameaça transformar florestas densas em terrenos cobertos de arbustos e ervas daninhas, acrescentou, destruindo uma região que abriga dezenas de milhares de espécies de animais e plantas e aproximadamente um quinto da água doce do mundo.

A Colômbia, que possui a maior faixa da Amazônia depois do Brasil e do Peru, perdeu 215.000 hectares de floresta tropical em 2017, segundo dados de satélite monitorados pela Amazon Conservation. O Brasil, que tem uma área cerca de seis maior da floresta, perde cerca de 640.000 hectares por ano.

Os agricultores costumam derrubar florestas em parques nacionais para cultivos ilegais das plantas de coca em partes remotas do país, onde a presença do governo é pequena ou inexistente (Imagem: Nicolo Filippo Rosso/Bloomberg)

Enquanto isso, o cultivo de plantas de coca, a matéria-prima da cocaína, mais do que quadruplicou na Colômbia entre 2012 e 2017. Os agricultores costumam derrubar florestas em parques nacionais para cultivos ilegais em partes remotas do país, onde a presença do governo é pequena ou inexistente.

O mercúrio usado pelos garimpeiros de ouro ilegais também penetra continuamente nos rios da Amazônia colombiana, envenenando peixes.

O Ministério do Meio Ambiente da Colômbia não respondeu a um pedido de comentário.

Ainda pior

O Brasil já registrou mais de 83.000 focos de incêndios este ano, um aumento de 77% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Enquanto isso, o número de incêndios praticamente dobrou durante o mesmo período na Bolívia e no Peru.

Na Bolívia, onde quase 19.000 focos de incêndio destruíram mais de 405.000 hectares de floresta este ano, o presidente Evo Morales mobilizou bombeiros e usou um Boeing 747 Supertanker para combater as chamas.

O Ministério do Meio Ambiente da Bolívia e a assessoria de imprensa presidencial não retornaram telefonemas e e-mails pedindo comentários. Morales disse no domingo que estava aberto à ajuda internacional para combater incêndios e pediu a realização de uma cúpula entre os países que compõem a Amazônia para “coordenar ações imediatas e planos de longo prazo”, segundo comunicado.

O Ministério do Meio Ambiente do Peru não respondeu a um e-mail pedindo comentários.

Os vizinhos do Brasil não compartilham a beligerância de Bolsonaro ou a hostilidade à proteção ambiental, mas o histórico desses países não é muito melhor, disse Rodrigo Botero, diretor da Fundação para Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia.

“É possível ver em toda a região que a pressão em países como a Bolívia, que sofre grandes perdas, ou Paraguai é a mesma que no Brasil”, disse. “Não é uma questão de esquerda ou direita.”

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