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Vírus encontra terreno fértil em mercados de alimentos da China

21 jan 2020, 11:51 - atualizado em 21 jan 2020, 11:51
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Quatro pessoas morreram e mais de 200 foram infectadas, incluindo 15 profissionais médicos (Imagem: Unsplash/@relentlessjpg)

Debruçado sobre uma gaiola de metal repleta de galinhas vivas em Xangai, Ran procurou o tipo ideal para sua canja. Ran, de 60 anos, comprava em um dos mercados de alimentos da China, onde as vendas de carne de animais recém-abatidos e não embalada se tornaram foco de uma investigação sobre um surto de um vírus pulmonar potencialmente fatal.

Quatro pessoas morreram e mais de 200 foram infectadas, incluindo 15 profissionais médicos. O novo vírus é primo do que causou a Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou SARS, que matou quase 800 pessoas há 17 anos.

Chamado de 2019-nCov, o novo coronavírus foi encontrado pela primeira vez em pessoas que compraram ou trabalharam no mercado da cidade central de Wuhan. O patógeno pode ter sido transmitido aos humanos a partir de animais vivos vendidos no local.

Sessenta anos após a pandemia da gripe asiática e quase duas décadas após a SARS, a China continua sendo o marco zero para o surgimento de muitas novas infecções perigosas. Mercados de produtos frescos, onde consumidores se misturam em espaços estreitos com aves vivas e cobras, são vistos como uma das principais razões.

A China fez progressos no monitoramento e detecção de doenças infecciosas desde a SARS e reforçou controles sobre a venda de animais exóticos, considerados nutritivos em algumas partes do país.

No entanto, os mercados, que oferecem condições que podem desencadear contágios potencialmente fatais, continuam populares e são uma parte central da vida em muitas cidades da Ásia.

“As galinhas recém-mortas são muito melhores do que a carne congelada nos supermercados, se você quiser fazer uma canja perfeita”, disse Ran, que não quis informar o nome completo. “O sabor é mais rico.”

A preferência por carne in natura de animais que não foram colocados em quarentena de forma apropriada ou selvagens “torna a China suscetível ao risco de novos surtos de vírus por meio do contato próximo de animais e humanos”, disse Wang Yuedan, professor de imunologia da Escola de Ciências Médicas Básicas da Universidade de Pequim. “O mesmo se aplica ao ebola, que surgiu como resultado do consumo de animais da floresta na África.”

Com o crescente número de novos casos chineses e infecções registradas na Tailândia, Japão e Coreia do Sul, crescem os temores de que a propagação se intensifique à medida que centenas de milhões de chineses viajam para o feriado da Festa da Primavera desta semana.

Os mercados de alimentos lotam frequentemente com a maior demanda por carne fresca para os luxuosos banquetes que marcam o início do Ano Novo Lunar.

É também uma estação de pico para cidadãos chineses, pois a semana inteira de feriados permite viagens ao exterior. Aeroportos de todo o mundo adotaram medidas para monitorar sintomas como febre e tosse em passageiros.