Vida após o BCE? Começa o debate sobre redução de estímulo
Com a economia da zona do euro voltando à vida, o Banco Central Europeu vai debater a redução de seu estímulo na quinta-feira, dando início a uma longa discussão sobre como desfazer as medidas de combate à crise.
O BCE forneceu suporte monetário recorde para a zona do euro desde o início da pandemia. Mas o crescimento econômico no bloco está agora sólido, o desemprego está caindo e a inflação está em alta, abrindo espaço para um debate que vai mapear a trajetória do banco nos próximos anos.
À primeira vista, parece simples: a economia está de volta aos eixos e, mesmo se a pandemia persistir, a Europa aprendeu a viver com ela. Portanto, a crise acabou.
Mas alguns dizem que essa é uma crise sem precedentes e que uma redução precipitada do suporte quando a pandemia está longe de acabar pode desfazer o trabalho do banco.
Além disso, o BCE tem ficado abaixo de sua meta para a inflação há quase uma década, portanto os investidores já estão duvidando de seu compromisso, tornando a retirada do suporte especialmente arriscada.
A primeira decisão, corte nas compras de títulos, está prevista para quinta-feira e pode ser relativamente fácil, mascarando divisões mais profundas.
De fato, autoridades conservadoras pressionaram para incluir o corte na agenda, gerando uma reação apenas modesta do mercado, com os rendimentos avançando apenas um pouco ante mínimas de vários meses.
O fato de nenhuma autoridade “dovish” — aqueles a favor do afrouxamento da política monetária — ter discordado em público é provavelmente uma indicação de que o movimento em si não será controverso.
Analistas consultados pela Reuters projetam que as compras sob o Programa de Compras Emergenciais da Pandemia (PEPP, na sigla em inglês) devem cair para 60 bilhões de euros por mês ante os atuais 80 bilhões, com nova redução no começo do próximo ano e o fim do esquema em março.
Mas a mensagem que acompanha o movimento pode ser mais crucial. Autoridades “hawkish”, que são a favor do aperto monetário, verão isso como um primeiro passo na direção da saída do estímulo, enquanto os “dovish”, maioria no Conselho formado por 25 membros, vão vendê-lo como um movimento apenas adicional e não o início da redução de estímulos.
Os “dovish” também devem enfatizar que mesmo que as medidas de emergência acabem em março, outras ferramentas serão intensificadas, dado o fraco cenário inflacionário e o fato de que o BCE preferiria errar pela cautela com qualquer movimento adicional.