Via (VIIA3): Para S&P Ratings, dívida é “gerenciável” e liquidez é “adequada”
O anúncio de um rombo de aproximadamente R$ 20 bilhões nos resultados da Americanas (AMER3) e a renúncia de Sergio Rial como presidente-executivo da varejista poucos dias após assumir o cargo foram apenas o início de uma trama maior.
A detecção de inconsistências chacoalhou o mercado e estremeceu a relação entre acionistas e credores da companhia, que ainda tentam chegar a um acordo. O acúmulo de R$ 43 bilhões em dívidas levou a Americanas a entrar com um pedido de recuperação judicial.
Para piorar, o escândalo deixou dúvidas sobre a possibilidade de outras empresas do setor terem inconsistências contábeis semelhantes às detectadas no balanço da varejista. Como a Americanas, a Via (VIIA3) tem um nível elevado de endividamento.
Porém, diferentemente da rival, a Via, conta com um perfil de vencimentos “gerenciável”. Esta é a avaliação da S&P Global Ratings.
Para a agência de classificação de risco, a empresa também tem “um bom relacionamento com bancos”, capaz de garantir o refinanciamento das linhas de crédito que vencem no curto prazo.
“A empresa possui dívidas bancárias de R$ 1,4 bilhão que vencem em 2023, as quais presumimos que serão refinanciadas em condições de prazo e custo semelhantes às atuais”, afirma a S&P, em relatório publicado na segunda-feira (6).
Além disso, a S&P ressalta que a Via conta com alavancagem, medida pelo índice de dívida sobre Ebitda, projetada em 5,8 vezes para 2022. Apesar de ser superior à projeção anterior, de aproximadamente 4 vezes, a agência acredita que, com a melhora nas margens ao longo deste ano, a companhia conseguirá reduzir a alavancagem para cerca de 4,5 vezes ao final de 2023.
Via e efeito Americanas
Vale lembrar que a Via se pronunciou logo após o anúncio das inconsistências contábeis da Americanas. No comunicado de 12 de janeiro, a dona das Casas Bahia e Ponto afirmou que as operações de risco sacado (convênio) estão registradas nas demonstrações financeiras em conformidade com as normas internacionais de contabilidade.
Essa linha do balanço financeiro foi um dos motivos para o rombo da rival. Além disso, a Via também esclareceu que as despesas de juros são registradas no resultado como despesa financeira.
Recuperação das margens
Ainda no relatório, a S&P reafirmou os ratings da Via de crédito de emissor e emissão “brAA-” na Escala Nacional Brasil. A agência cita a melhora nas margens da companhia.
Essa avaliação se dá apesar de um ambiente macroeconômico desafiador para o varejo, diante da desaceleração maior que o esperado no crescimento de receitas e da revisão para baixo dos planos de expansão das empresas.
Na avaliação da S&P, a Via tem se beneficiado do retorno gradual dos clientes nos trimestres mais recentes. A expectativa é de que a companhia mostre no acumulado de 2022 receitas em linha com as do ano anterior e margem Ebitda próxima a 8%.
“Para os próximos dois anos, nosso cenário-base projeta crescimento da ordem de 10% a 12% nas receitas e margem Ebitda em torno de 9%, possibilitados pela recuperação gradual do fluxo nas lojas físicas e melhora na dinâmica de negócios no segmento online”, projeta a S&P.
Liquidez adequada
Além disso, a agência alterou a avaliação de liquidez da Via para “adequada”. Essa visão reflete a renovação da parceria com a Bradescard para o cartão co-branded sob a bandeira Casas Bahia. A S&P entende que o acordo trouxe “uma entrada importante de recursos” para a varejista no último trimestre do ano passado, equivalente a R$ 1,75 bilhão.
“Esperamos que as fontes de liquidez excedam os usos em cerca de 1,3 vez nos próximos 12 meses, e que as fontes menos os usos permaneçam positivas mesmo se o Ebitda declinar 15% em relação ao cenário-base”, comenta. A S&P projeta Ebitda entre R$ 2,3-2,5 bilhões e R$ 2,9-3,1 bilhões para a Via em 2022 e 2023, respectivamente.
Contudo, a perspectiva negativa para a Via continua refletindo os riscos de a empresa não mostrar desempenho em linha com o cenário-base da S&P, principalmente em função do cenário macroeconômico.