Via (VIIA3), a próxima penny stock? O evento que pode empurrar as ações mais para baixo
A Via (VIIA3) caminha para o seu 11º pregão consecutivo sem altas, aproximando-se da marca de R$ 1.
Os papéis da varejista brasileira de e-commerce até testaram uma valorização logo após a empresa apresentar seu novo plano de reestruturação, mas o sentimento do mercado em relação à companhia segue na esfera da cautela.
Tentativas sucessivas de recuperação, operações enfraquecidas pela pandemia do coronavírus e um quadro inflacionário pressionado explicam por que investidores e analistas do mercado não estão 100% seguros com a tese da dona da Casas Bahia e Ponto.
Nesta quinta-feira (31), o mercado repercute o fato relevante divulgado pela companhia, que levanta a possibilidade de realização de uma oferta de ações.
A Via engajou bancos para coordenar o potencial follow-on, estimado em R$ 1 bilhão e que poderá ser acrescido de lote de ações adicionais.
Segundo o comunicado, a potencial oferta terá como objetivo captar recursos para “promover a melhora da estrutura de capital da companhia, incluindo o reforço do capital de giro e o investimento em cotas subordinadas da operação de FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios] da carteira de crediário”.
Vale lembrar que a Via convocou uma assembleia geral extraordinária (AGE) para esta sexta-feira (1º). Na AGE, será discutida a mudança de denominação social da companhia, de Via para Grupo Casas Bahia e a alteração do capital autorizado para até 3 bilhões de ações ordinárias, o que abriria caminho para a realização do follow-on.
VIIA3 a centavos?
Breno de Paula, analista do Inter Research, diz que a Via engata anos com a performance “capengando”, embora entenda que a pandemia agravou, de fato, a situação operacional e financeira da varejista.
O período da pandemia, com a taxa básica de juros a 2% ao ano, foi o momento em que a Via contratou um nível elevado de empréstimos na tentativa de se aproximar das concorrentes, afirma.
Segundo o analista, não foi uma decisão acertada a Via se endividar tão rápido, visto que o início da disparada dos juros no país em março de 2021 fez com que as principais linhas do balanço da companhia se deteriorassem.
Ao fim do segundo trimestre deste ano, quando reportou um prejuízo de quase R$ 500 milhões, a varejista apresentava uma posição de caixa de R$ 2,8 bilhões, incluindo recebíveis não descontados, e um endividamento bruto convencional de R$ 3,66 bilhões. Considerando as operações risco sacado, no valor de R$ 1,55 bilhão, e contas a receber com crediário ao consumidor, de R$ 5,34 bilhões, a dívida total da empresa chegou a R$ 10,5 bilhões.
A realização de um follow-on seria, portanto, uma alternativa para reduzir o nível de endividamento – no entanto, o mercado provavelmente não receberia bem o anúncio, afirma o analista.
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Iago Souza, da Genial Investimentos, explica que a potencial oferta, embora seja de fato boa para a Via conseguir equalizar suas dívidas, pesa para o acionista, uma vez que dilui a base acionária da companhia.
Além disso, como os recursos da potencial oferta serão destinados à reestruturação financeira da Via, os acionistas podem estar receosos em fazer parte do crescimento da empresa, de “dar o benefício da dúvida” a ela, acrescenta.
Procurada pelo Money Times, a Via afirmou que não irá se manifestar.
Por volta das 11h15 desta quinta, os papéis da companhia caíam 1,50%, a R$ 1,31.
Apesar da pressão esperada com uma eventual confirmação do follow-on, analistas não cravam que a ação sairá do Ibovespa por virar uma penny stock (ação com preço médio abaixo de R$ 1 por 30 pregões consecutivos).
O analista do Inter levanta a possibilidade de a Via cair para abaixo de R$ 1 com o follow-on, mas lembra também que existem mecanismos para “socorrer” a ação nesses casos – por exemplo, um grupamento de ações.
Mercado ainda não comprou o novo plano
Analistas olham com certo ceticismo as medidas apresentadas no novo plano de reestruturação da Via.
O novo plano de transformação da Via foca em estabilização das operações, geração de caixa e melhoria da rentabilidade. Dentre as medidas, estão o fechamento de até uma centena de lojas ao fim de 2023, cortes no quadro de funcionários e a estruturação de um FIDC com o objetivo de facilitar a operação de crediário da empresa.
Souza, da Genial, diz que o plano, de início, preocupou, principalmente pelo lado da redução potencial entre 50 e 100 lojas ainda neste ano.
“Existe um gap muito grande entre você fornecer o que vai fazer e você de fato fazer essa coisa. O mercado ainda não deu o benefício da dúvida, principalmente depois do episódio da Americanas (AMER3), que deixou um receio em investir no setor de e-commerce. Como é uma empresa alavancada, o mercado ainda não deu esse benefício da dúvida para a Via”, afirma.
Porém, como o próprio CEO da empresa, Renato Franklin, destacou ao Money Times, as 100 lojas são pequenas e estão situadas em regiões onde já existe outra loja perto. Juntas, essas 100 lojas representam cerca de 3% da malha da companhia.
Segundo a Via, no pós-2025, existem 200 cidades mapeadas com mais de 50 mil habitantes que parecem promissoras para receber uma Casas Bahia sem necessitar de um custo elevado de operação.
Souza acredita que o plano apresentado pela varejista é bom, mas falta ver o resultado dessas medidas.
Ainda cautelosos com a ação
A Genial tem recomendação de “manter” para as ações da Via, enquanto Magazine Luiza (MGLU3) foi recentemente atualizada para “compra”.
Souza destaca que, na corrida do e-commerce, a Via segue “muito atrás” de nomes como Magazine Luiza e Mercado Livre, e o mercado está começando a botar isso na conta.
O mercado também está pesando os últimos resultados da companhia, com destaque para o último, quando houve um prejuízo computado de quase R$ 500 milhões.
“O resultado em si estava horrível. Veio queda de margem operacional, uma alavancagem operacional muito fraca”, comenta o analista.
No caso do Magazine Luiza, apesar de as margens ainda se apresentarem baixas, o operacional está “redondo” e a maturação da empresa é melhor que a da Via.
Porém, a flexibilização monetária, o Desenrola e até mesmo potenciais incentivos do governo Lula para a categoria de eletrodomésticos podem servir de gatilhos positivos para as ações, ressalta Souza.
O Inter tem recomendação “neutro” tanto para Via quanto para Magazine Luiza. De Paula afirma, no entanto, que o setor de varejo pode melhorar junto com o sentimento em relação à economia brasileira, com o ciclo de baixa dos juros.
Paula, analista do Inter, reforça, no entanto, que a Via tem mais dificuldades do que outras empresas. Portanto, o trabalho de recuperação é maior.
*Matéria atualizada às 14h34 de 31 de agosto de 2023 com o posicionamento da Via.